O sujeito não pensa em outra coisa
Corrupto quer alienar riqueza do país que a Petrobrás descobriu
Nesta sexta-feira, o governo Temer vai entregar oito campos do pré-sal para as multinacionais, com a realização das 2ª e 3ª rodadas de licitação de campos desta província. “O Pedro Parente provavelmente não vai participar intensamente do pré-sal. Vai abrir brecha para as empresas do cartel internacional comprarem os campos de áreas contíguas a campos já descobertos. Com isso, o país vai perder uma riqueza fantástica”, denunciou o vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Fernando Siqueira, em entrevista ao HP.
Nesta sexta-feira (27/10), o governo Temer vai entregar oito campos do pré-sal para as multinacionais, com a realização das 2ª e 3ª rodadas de licitação de campos desta província. “O Pedro Parente [presidente da Petrobrás] provavelmente não vai participar intensamente do pré-sal. Vai abrir brecha para as empresas do cartel internacional comprarem os campos de áreas unitizáveis, ou seja, áreas contíguas a campos já descobertos. Com isso, o país vai perder uma riqueza fantástica”, afirmou o vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Fernando Siqueira, em entrevista ao HP.
Certamente, Temer sabe que quem descobriu petróleo no Brasil foi a Petrobrás e não será nenhuma empresa estrangeira que irá investir e desenvolver o país. Até porque, como apontou um estudo da consultoria legislativa da Câmara dos Deputados, as condições definidas para as duas rodadas de licitações de áreas do pré-sal são desfavoráveis ao Brasil. As mudanças na legislação, que tiraram a Petrobrás de operadora única, favorecendo as empresas estrangeiras, bem como o fim da exigência de um percentual mínimo de produção local no processo de produção do petróleo, e as regras nos contratos de partilha, que já prejudicavam a Petrobrás e o país, farão com que os leilões aconteçam “com baixo excedente em óleo da União, baixo bônus de assinatura e baixo conteúdo local”. Os prejuízos ao país serão causados por tudo o que já foi dito acima e mais ainda pelo fato do cartel agir em bloco e dividir áreas. Com isso, eles conseguirão eliminar disputas e baixar os preços pagos ao Brasil para se apoderarem dos campos.
Siqueira citou dois exemplos de áreas contíguas aos campos já descobertas que, pelo fato de já estarem mapeadas e comprovadas a existência de óleo, deverão ser adquiridas de forma altamente vantajosa por empresas estrangeiras. Essas empresas não terão que investir em exploração, porque a Petrobrás já o fez. “Gato do Mato é um campo da Shell, que tem continuação em área que vai ser leiloada. O campo de Carcará tem uma parte Norte que é a mesma estrutura. A empresa norueguesa Statoil comprou Carcará da Petrobrás a preço de banana e certamente vai conseguir a extensão na área contígua, que tem uma reserva de cerca de 2 bilhões de barris. Não vai ter risco nenhum. Sabe-se que tem uma estrutura que é continuação de Carcará, que ainda pertence à União e agora vai ser leiloada. A empresa que vai comprar, provavelmente, será a própria Statoil. Ela vai ter uma vantagem enorme porque vai obter toda a infraestrutura para produzir a área de Carcará. Basta estender um pouquinho a tubulação”, disse Siqueira.
FALÁCIA
O dirigente da Aepet classificou como “falácia” o alarde do governo de que as empresas estrangeiras vão trazer investimentos para o país: “A Noruega era o segundo país mais pobre da Europa. Descobriu petróleo no Mar do Norte e com isso criou uma estatal, a Statoil. Passou a ser país o mais desenvolvido do mundo, usando o petróleo em favor do seu povo. Ao mesmo tempo, a Nigéria descobriu uma reserva maior do que a Noruega e entregou para a Shell. A Nigéria tem praticamente o pior IDH do mundo. Essa é a diferença entre você criar uma estatal para usar o petróleo em favor do país e a de entregar o petróleo para uma empresa estrangeira, do cartel. Ela vai ficar rica e você pobre”.
Siqueira alertou para o fato da participação de dez empresas estrangeiras nos leilões, além da Petrobrás. “É uma balela enorme dizer que as multinacionais vão trazer recursos. Certamente vai haver combinação, não tem empresa brasileira em condição de comprar, a não ser a Petrobrás. O cartel, como todo cartel, vai dividir essas áreas e vai explorá-las pagando um preço muito baixo. Ganha a concorrência quem der melhor participação ao governo. Se for tudo combinado, como foi no campo de Libra, que teve um único consórcio, o país vai abrir mão de uma riqueza imensa para o cartel do petróleo”, frisou.
O petróleo é um bem extremamente estratégico e os países desenvolvidos dependem dele, mas não têm reservas. Por isso, esclareceu Siqueira, “querem o pré-sal e suas empresas, que fazem parte do cartel, querem explorar esse petróleo. Trazem equipamentos de fora, trazem projetos de fora, dão um percentual muito pequeno para o governo, como foi o caso de Libra, levam as nossas riquezas e o povo brasileiro vai ver navio, ou melhor, ver plataforma estrangeira”.
A primeira licitação no pré-sal foi feito em outubro de 2013 por Dilma com o leilão do campo de Libra. As duas desta sexta-feira são as primeiras após a alteração da lei da partilha ocorrida em outubro do ano passado, que retirou da Petrobrás o direito de ser operadora única e de ter uma participação de pelo menos 30% em todos os consórcios. Além disso, para favorecer as multinacionais foram alteradas as regras de conteúdo local e a ampliação do regime aduaneiro diferenciado para o setor de petróleo e gás natural. Para o diretor da Shell Wael Sawan, as reformas feitas por Temer tornaram as reservas de petróleo algo mais atraente. Agora, as empresas estrangeiras poderão participar como operadoras. Entre as empresas habilitadas para os dois leilões estão a ExxonMobil, Shell, BP, Total e Statoil.
Mostrando qual é a intenção dos gestores da Petrobrás, Parente ressaltou que os leilões mostrarão que o governo acertou em promover as mudanças: “Tenho certeza de que na sexta-feira [27/10] veremos o quão certo o governo estava em tomar essa medida”.
Os percentuais mínimos estabelecidos pela Agência Nacional de Petróleo e Biocombustíveis (ANP) para os leilões variam entre 10,34% (para a área de Entorno de Sapinhoá) e 22,87% (para a área de Alto de Cabo Frio Oeste). O governo espera arrecadar com os leilões das oito áreas R$ 7,75 bilhões em bônus de assinatura, que serão utilizados no “equilíbrio fiscal”. Leia-se entregue aos bancos via superávit primário.
Segundo estimativas da ANP, a área de Peroba pode conter 5,3 bilhões de barris de petróleo “in situ” e a de Pau Brasil, 4,1 bilhões de barris, ambas na Bacia de Santos.
VALDO ALBUQUERQUE
SÉRGIO CRUZ