Cortar investimentos, manter juros em 10,5% e transformar o país num paraíso da especulação é o que desestabiliza tudo
Quem está provocando instabilidade na economia brasileira não é o presidente Lula, como é alardeado pela mídia dos bancos, é o presidente do Banco Central, que manteve as taxas de juros do país em 10,5% enquanto a inflação é menor que 4%. Sua teimosia em manter o segundo maior juro real do mundo e transformar o Brasil num paraíso da especulação obrigou o governo a transferir R$ 782 bilhões nos últimos 12 meses, segundo o próprio BC, só para pagamento de juros. Uma despesa que é retirada da sociedade.
Como diz o presidente Lula, “não tem nenhuma explicação para essa taxa de juros”. Nenhum empresário brasileiro vai investir na produção podendo ganhar 6,5% de lucro limpo sem produzir nada. Ele ganha bilhões apenas participando da ciranda financeira patrocinada pelos juros de Campos Neto.
Não satisfeitos com a fortuna amealhada todos os anos com os juros, os especuladores querem mais. Eles exigem que o governo corte as já minguadas verbas de Saúde, Educação e Previdência Social para aumentar ainda mais os seus super lucros.
Alegam que o governo “gasta muito” dinheiro com Saúde, Educação e aposentadorias e pressionam por cortes nestas áreas.
Chamam tudo isso de “gastança”. Mas a verdadeira gastança está no esquema criminoso dos juros da dívida. Somados aos R$ 782 bilhões de juros, as amortizações da dívida garantem, na realidade, que os banqueiros se apoderam de cerca de metade do Orçamento Geral da União todos os anos. Meia dúzia de especuladores ficam com metade e a outra metade do orçamento é repartida para toda a sociedade.
A campanha dos especuladores para abocanhar uma fatia maior do orçamento público revela que eles estão se lixando para as necessidades de investimentos públicos, para a urgência de crescimento da economia e para a criação de empregos. Não querem nem saber de aposentados e pensionistas. Eles só pensam em crescer os seus lucros e embolsá-los o mais rapidamente possível.
Agora estão, inclusive, fazendo um ataque especulativo violento com a moeda americana com o intuito claro de obrigar o governo a ceder e fazer os cortes de investimentos e de programas sociais. Infelizmente, nesta cruzada contra o país, os especuladores e parasitas estão recebendo reforço de dentro do próprio governo.
Mesmo com o presidente Lula dizendo que não vai modificar a vinculação dos benefícios previdenciários do salário-mínimo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad e outros integrantes do governo, insistem na ideia dos cortes. Não falam outra coisa a não ser em cortar, cortar e cortar. Haddad chegou a inventar a expressão “redesenhar os gastos”, uma maneira disfarçada de falar dos cortes que ele defende.
O próprio presidente Lula alertou também para o fato de que o aumento dos gastos com juros reduz obrigatoriamente os investimentos públicos e as verbas sociais. Por isso, ele tem defendido enfaticamente a necessidade de reduzir a taxa Selic, que é definida pelo Banco Central.
Contraditoriamente, no entanto, os quatro diretores indicados pelo ministro Haddad, e nomeados por Lula, para o comando do Banco Central, votaram junto com Campos Neto para manter os juros em 10,5%. Ou seja, se somaram à “sabotagem” de Campos Neto e do mercado ao país.
O economista Paulo Kliass afirmou em seu último artigo, publicado aqui no HP, que mais grave do que a manutenção da taxa de juros em 10,5% na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), foi a unanimidade dos votos nesta posição pró-bancos. Para ele, não tem sentido o presidente da República afirmar, horas antes da reunião, que manter os juros significava um “desajuste econômico inaceitável” e seus diretores – ou seria melhor dizer diretores de Haddad? – votarem com Campos Neto para manter os juros nas alturas.
O país está efetivamente vivendo vivendo um dilema. Ou as medidas restritivas ditadas pela Fazenda e pelo “mercado” são engavetadas ou o programa defendido pelo presidente Lula em sua campanha eleitoral, de retomar os investimentos públicos, de garantir o desenvolvimento, de reindustrializar o país, de criar empregos e reduzir a pobreza, não será implementado no nível em que a população anseia e deseja.
É o próprio presidente Lula que tem alertado para o risco de se seguir uma política restritiva. Ele não fala em outra coisa a não ser a necessidade de reduzir os juros e “encontrar o dinheiro para os investimentos”. É dele também a afirmação de que não há problema fiscal, que a dívida está sob controle. Seu discurso e o de Haddad estão muito diferentes. Há que se definir. Enquanto isso não ocorre, a economia não deslancha, a oposição faz demagogia e cresce a tensão política no país.
SÉRGIO CRUZ