Chefe do BC diz que problemas são os “ruídos”, leia-se críticas de Lula. Haddad responde que “o melhor a fazer é acertar a comunicação”. Lula, por sua vez, voltou a criticar ganância do “mercado” e seu ataque especulativo à moeda brasileira
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se aliou mais uma vez ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele corroborou a afirmação feita pelo chefe do BC de que as críticas de Lula e o “descontrole fiscal” teriam criado ruídos e seriam as causas da interrupção da queda dos juros.
O ministro aceitou as alegações feitas pelo chefe do BC contra Lula. “Eu acredito que o melhor a fazer é acertar a comunicação, tanto em relação à autonomia do Banco Central como o presidente fez hoje de manhã quanto em relação ao arcabouço fiscal. Não vejo nada fora disso, autonomia do Banco Central e rigidez do arcabouço fiscal, é isso que vai tranquilizar as pessoas”, disse Haddad.
Em uma palestra no Forum on Central Banking, promovido pelo Banco Central Europeu em Portugal, Campos Neto atribuiu a decisão do Copom aos “ruídos” relacionados às expectativas sobre a política fiscal e monetária do Brasil.
“Isso teve muito mais a ver com muitos ruídos que criamos do que com os fundamentos. E os ruídos estão relacionados a duas coisas: uma é a expectativa na trajetória da política fiscal e a outra é a expectativa sobre o futuro da política monetária”, disse Campos Neto. Ou seja, culpou o governo pelos juros altos.
O presidente do BC não quer que o Brasil faça investimentos produtivos e nem facilite a vida das pessoas que querem investir na produção ou consumir. Ele se esforça para manter a especulação desenfreada que está levando bilhões do dinheiro público para os cofres dos banqueiros.
O que o ministro da Fazenda está fazendo, ao acatar as alegações de Campos Neto, é desautorizar Lula em seu embate com a política monetária do BC. É uma admissão absurda de que não foi a ganância dos bancos, e de seu representante no BC, que forçou a manutenção dos juros nas alturas, mas sim os “ruídos” provocados, segundo Campos Neto, pelas críticas do presidente a sua política pró-bancos.
E mais, admitiu que a outra causa para a manutenção juros elevados seria a tal crise fiscal, alardeada pela mídia dos bancos. Uma crise que Lula tem se esforçado nos últimos dias para explicar que não existe. Haddad não só admitiu como ofereceu como garantia aos bancos a “rigidez” de seu “arcabouço” fiscal.
Em recente entrevista no Palácio do Planalto, Lula desmascarou a cruzada contra o “descontrole da dívida”. “Veja, se você pegar a média dos países da OCDE, eles gastam 113% do PIB. Se você pegar os EUA, são 123% do PIB. Se você pegar a China, 83; se pegar o Japão, são 237; se você pega a França, são 112; e a Itália, 137. E o Brasil, efetivamente, 74% a 76%. Hoje está em 76%”, disse o presidente, na ocasião.
Na manhã desta terça-feira (2), Lula voltou a criticar o mercado financeiro e o BC e denunciou o ataque especulativo contra a moeda brasileira (disparada do preço do dólar). “A gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que o presidente do BC não fique vulnerável às pressões políticas”, afirmou Lula. “No entanto”, disse ele, “o Banco Central não pode estar a serviço do sistema financeiro, ele é um banco do Estado”.