Além do ex-prefeito de Duque de Caxias (RJ), Washington Reis (MDB), foram alvos da PF o secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, e Célia Serrano da Silva, secretária de Saúde do município
A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta quinta-feira (4), mandados de busca e apreensão na segunda fase da Operação Venire, que investiga fraudes nos cartões de vacinação a mando do ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro (PL).
Foram alvos da PF, nesta manhã, Washington Reis (MDB), ex-prefeito de Duque de Caxias (RJ) e secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, e Célia Serrano da Silva, secretária de Saúde do município.
Os mandados foram solicitados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e autorizados pelo STF (Supremo Tribunal Federal), segundo informações do canal GloboNews.
A Operação Venire foi deflagrada pela PF, em maio de 2023, para esclarecer a atuação de associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 nos sistemas SI-PNI (Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações) e RNDS (Rede Nacional de Dados em Saúde) do Ministério da Saúde.
Na operação, os agentes apreenderam cerca de R$ 200 mil em dinheiro vivo na casa do ex-prefeito Washington Reis. Segundo a PF, a maior parte do valor – R$ 164 mil – estava em notas de real. Havia, também, cerca de 7,5 mil dólares e “alguns euros”, que ainda serão contados e convertidos.
ORIGEM DA PATRANHA
Segundo o inquérito da PF, foi da cidade de Duque de Caxias que partiu a adulteração nos registros de aplicações de doses de vacina contra covid-19 no ex-presidente Jair Bolsonaro.
As investigações tiveram origem na CGU (Controladoria-Geral da União) e foram reveladas pelo Estadão/Broadcast.
REGISTROS FRAUDULENTOS
De acordo com a PF, em dezembro de 2022, João Carlos de Sousa Brecha, então secretário de Governo de Duque de Caxias, inseriu dados fraudulentos no sistema do SUS sobre a suposta vacinação de Bolsonaro.
As informações inseridas apontavam que o então presidente foi a Duque de Caxias receber doses da vacina Pfizer nos dias 13 de agosto e 14 de outubro de 2022.
No entanto, de acordo com as diligências, o deslocamento do então presidente até a cidade na Baixada Fluminense nas datas indicadas não era viável.
DADOS REMOVIDOS
Os dados inseridos por Sousa Brecha foram removidos 6 dias depois pela servidora Claudia Helena Acosta, chefe da Central de Vacinas da cidade, sob alegação de “erro”.
Neste ínterim, porém, já haviam sido impressos comprovantes de vacinação com as informações fraudulentas, que foram entregues às autoridades de imigração dos Estados Unidos.
Sousa Brecha foi preso durante a primeira fase da Operação Venire. Nesta quinta-feira, foi deflagrada a segunda fase das diligências.
QUEM É WASHINGTON REIS
Reis é secretário estadual de Transportes e ex-prefeito de Duque de Caxias, onde foi vereador e vice-prefeito. Além disto, foi deputado estadual de 1995 a 2004, por 3 mandatos consecutivos, e deputado federal de 2011 a 2017.
Na eleição de 2022, Reis era cotado para compor como vice-governador na chapa de Cláudio Castro (PL), ao Executivo estadual.
O MDB formalizou a indicação, mas o nome dele acabou impugnado pelo TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro). No lugar de Reis assumiu como vice na chapa de Castro, o ex-secretário estadual Thiago Pampolha (União Brasil).
MAURO CID
Em depoimento à PF, o ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, faz-tudo e pessoa muito próxima a Bolsonaro, confirmou que foi Bolsonaro quem lhe ordenou diretamente a inserção de dados falsos no cartão de vacinação contra a Covid-19 dele e de sua filha nos sistemas do Ministério da Saúde.
A informação consta de relatório da PF apresentado em março deste ano.
“Os elementos de prova coletados ao longo da presente investigação são convergentes em demonstrar que JAIR MESSIAS BOLSONARO agiu com consciência e vontade determinando que seu chefe da Ajudância de Ordens intermediasse a inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde em seu benefício e de sua filha. Não há nos autos, elementos que indiquem que MAURO CESAR CID, AILTON BARROS e JOÃO CARLOS BRECHA se uniram em unidade de desígnios para inserir os dados falsos à revelia do então Presidente da República JAIR BOLSONARO”, diz a PF no relatório.
Jair Bolsonaro usou seus assessores, entre eles o ajudante de ordens Mauro Cid, para falsificar seu cartão de vacina de Covid-19 antes de fugir para os Estados Unidos, nos últimos dias de dezembro de 2022.
O grupo criminoso contou com o secretário de Saúde de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, também indiciado pela PF, e com outros servidores municipais para conseguir acessar o sistema do Ministério da Saúde.
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