Memorando da NSA revela a intervenção americana e saudita já em março de 2013: 120 toneladas de explosivos e armas com ordem dada aos terroristas para “acender e arrasar Damasco”
Um documento fornecido por Edward Snowden e publicado no portal The Intercept na terça-feira (24), proveniente de um dos ramos da espionagem do governo norte-americano, a NSA (National Security Agency), revela que, desde os estágios iniciais da ação de terroristas (a que os norte-americanos chamam de ‘rebeldes’) a sua ação não era apenas apoiada pelos EUA e Arábia Saudita, mas que suas ações principais estavam sob sua coordenação.
O documento revela um acompanhamento, em detalhe e passo a passo, das ações e da intervenção saudita por parte do governo norte-americano.
A ordem proferida em março de 2013, juntamente com 120 toneladas de explosivos e armas, expõe o documento, era de “acender e arrasar Damasco”.
Além de mostrar o acompanhamento (a espionagem norte-americana sabia dos detalhes e alvos a serem atacados três dias antes), diz também quais eram estes alvos: o Aeroporto de Damasco (antes do conflito artificialmente gerado do exterior utilizado por milhões de pessoas a cada ano); o Palácio Presidencial e um setor dos serviços de segurança da Síria.
O memorando, com a sigla TOP SECRET grafada, diz ainda que o membro da dinastia saudita, príncipe Salman Bin Sultan, encarregado pelo governo saudita de acompanhar as operações na Síria, estava “muito satisfeito com o resultado do ataque”.
Logo depois, os terroristas expuseram vídeos mostrando a descarga de foguetes contra os mesmos objetivos citados no documento. O Observatório para os Direitos Humanos, com sede na Inglaterra, declarou à época que 60 pessoas morreram nos ataques, que incluíram 24 mísseis disparados contra o aeroporto.
Os ataques, que se intensificaram nos meses de março e abril daquele ano, foram uma escalada na agressão norte-americana com a finalidade expressa de derrubar o presidente da República Árabe Síria, Bashar Al Assad.
Ao que indicam os passos dados pelo governo norte-americano, a previsão era de uma queda rápida do governo sírio em meio à fragmentação do exército do país árabe. Mas a capacidade do governo sírio de resistir e de angariar apoio internacional, o fato de que – salvo poucas exceções – as defecções no exército sírio, que manteve e elevou sua unidade e capacidade militar e operacional, foram irrelevantes para mudar o quadro inicial.
Em um primeiro momento, no primeiro semestre de 2011, armas em mãos de facções que haviam participado da derrubada do governo líbio e do líder, Muamar Kadafi, foram transferidas para os mercenários na Síria. O portal Intercept avalia esta primeira leva em 400 toneladas de armas e explosivos.
Mas o regime está mais sólido que sonhavam os norte-americanos. No início de 2012, com base em relatos de que “o governo da Síria atacava seu próprio povo”, os EUA levam uma proposta de autorização de ataque ao país árabe ao Conselho de Segurança da ONU que não é aprovado devido a vetos da Rússia e China.
Hillary Clinton, então secretária de Estado do governo de Barack Obama, dá início a um esforço internacional para arregimentar forças para a empreitada que a história mostraria não estar ao alcance dos seus planejadores. Reúne gente de tudo que é origem e passado nebuloso para formar o grupo que foi denominado de “Amigos da Síria”, as reuniões acontecem no Cairo, em Istambul e em Paris.
O pronunciamento de Hillary na Bulgária, em fevereiro de 2012, revela as intenções norte-americanas:
“Diante de um Conselho de Segurança neutralizado, nós redobramos os esforços por fora da ONU com aqueles aliados que apoiam o direito do povo sírio de terem um futuro melhor”. Quanto ao “futuro melhor”, é só ver a situação dos líbios após a intervenção norte-americana.
Aí ela diz ainda que os “que falam pela oposição síria”, por mais de um ano, “declararam que não queriam intervenção estrangeira”… Mas, diz ela, “estamos focados em determinar o que podemos fazer para tentar acelerar o fim deste regime”.
O documento agora revelado prova que a relação entre os terroristas e a intervenção norte-americana como a saudita, não só existia desde os primeiros momentos do conflito, mas que era claramente direta e abrangia o acompanhamento detalhado do teatro de operações dentro do território sírio.
NATHANIEL BRAIA