Equipe de reportagem da CNN foi expulsa do local do evento e repórter do jornal de O Estado de S. Paulo, empurrado. Ambiente nada salubre para imprensa
Jornalistas da CNN Brasil e do jornal O Estado de S. Paulo foram hostilizados e agredidos em Balneário Camboriú (SC), durante a Cpac (Conferência da Ação Política Conservadora), evento organizado pela extrema-direita brasileira, que reúne aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com a participação do presidente argentino Javier Milei.
A repórter da CNN Brasil, Isadora Aires, foi expulsa, neste domingo (7), do centro de convenções onde ocorre o encontro por apoiadores do ex-presidente.
Ela gravava imagens dentro do local quando começou a ser hostilizada por dezenas de bolsonaristas. Eles confundiram a emissora, com a TV Globo, e gritaram “Globolixo”, além de ofenderem o presidente Lula com xingamentos.
A jornalista teve de deixar o local e procurou ajuda da Polícia Militar, que faz a segurança do evento. Ela disse que não sofreu agressões físicas.
O incidente ocorreu numa área fora do auditório principal, mas o barulho obrigou o apresentador do evento a pedir para as pessoas se acalmarem e se concentrarem na programação oficial da conferência.
FÓRUM EXTREMISTA DOS EUA
Neste fim de semana, a cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, recebeu a 5ª edição da Cpac, a versão brasileira do evento ‘Conservative Political Action Conference’, considerado o maior fórum de negacionistas, terraplanistas e direitistas dos Estados Unidos.
A iniciativa, que ocorre entre este sábado (6) e domingo (7), foi o motivo da primeira visita do presidente da Argentina, Javier Milei, ao Brasil. Milei desistiu de participar da Cúpula do Mercosul, realizada em Assunção (Paraguai), na próxima segunda-feira (8), onde poderia encontrar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela primeira vez. Mas é presença confirmada no evento retrógrado de Santa Catarina.
AGRESSIVIDADE E INTOLERÂNCIA
As críticas à imprensa têm ocorrido com frequência nas palestras, embora em tom menos agressivo. Neste sábado (6), o deputado federal Mário Frias (PL-RJ) também bradou “Globolixo”, na palestra que proferiu, embora tenha sido ator da emissora no passado.
Outro caso de hostilidade a profissionais da imprensa ocorreu no sábado, quando repórter do jornal O Estado de S. Paulo foi empurrado e seguido após perguntar para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro sobre o caso das joias, no qual o ex-presidente Bolsonaro foi indiciado na última quinta-feira (4).
O jornalista Pedro Augusto Figueiredo questionou Michelle Bolsonaro quando ela estava em um dos acessos ao palco.
A ex-primeira-dama tirava selfies com apoiadores e havia acabado de participar da sessão de encerramento do primeiro dia do evento, juntamente com o ex-presidente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).
“Que joias? Você tem que perguntar para quem ficou com as joias. Eu não sei de nada”, respondeu Michelle.
‘TRATAMENTO VIP’ À IMPRENSA
O repórter foi empurrado por apoiadores de Bolsonaro logo após a pergunta. Depois, foi seguido por grupo de homens. Um deles chegou a dar outro empurrão no ombro do repórter, que se desequilibrou.
Um dos homens que acompanhavam o repórter pediu para os outros se afastarem. Em seguida, Figueiredo conseguiu voltar para dentro do auditório.
O evento no litoral de Santa Catarina reúne apoiadores de Bolsonaro, parlamentares e convidados de outros países, como o presidente argentino, Javier Milei, e o ex-candidato a presidente no Chile, José Antonio Kast. O encontro termina neste domingo.
“CELERADOS”
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, afirmou que o evento direitista em Santa Catarina neste fim de semana é “um encontro de celerados, terraplanistas, negacionistas”.
“O balneário de Camboriú, em Santa Catarina, já foi melhor frequentado. Sediou, neste final de semana, um encontro de celerados, terraplanistas, negacionistas. A cidade precisa de uma limpeza espiritual, a favor dos legítimos frequentadores do balneário”, disse.