“O petróleo representa uma nova chance de termos uma atividade econômica forte e que possa financiar a manutenção dos nossos indicadores ambientais e o desenvolvimento em várias áreas”, afirmou Clécio Luís
O governador do Amapá, Clécio Luís, defendeu que a exploração de petróleo e gás na Margem Equatorial brasileira representa a chance de uma melhora nas condições econômicas da população amazônica. Ele afirmou ainda, em entrevista ao jornal “O Globo” desta segunda-feira (8), que a decisão do Ibama de negar a realização de pesquisas em um dos blocos no litoral do Amapá “nos proibiu o elementar: o direito a pesquisar a nossa costa”, criticou.
“Quero poder produzir petróleo, mas não significa que eu queira de qualquer jeito. Eu sou daqueles que se subordinam aos resultados de pesquisa. Mas há um outro extremo, que é a gente acabar dobrando os joelhos para aquele discurso protecionista que só vê floresta, uma biologia natural sem a presença humana. Quem disse que nós queremos ser santuário de alguma coisa? Queremos ter direito a viver com dignidade”, defendeu o governador.
A Margem Equatorial brasileira, com uma faixa que se estende entre o Rio Grande do Norte e o Amapá, tem um grande potencial de garantir a segurança energética no país e reduzir a desigualdade nos estados amazônicos.
A Petrobrás aguarda desde meados de junho do ano passado que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) reavalie a sua decisão de negar a estatal o licenciamento para realização de estudos no bloco FZA-M-59, no litoral do Amapá, o de maior potencial entre os 42 blocos na Margem Equatorial brasileira. O órgão ambiental alega riscos à fauna e às terras indígenas na região, apesar do bloco estar localizado a 500 km da foz do rio Amazonas e a 2.800 metros de profundidade.
Clécio Luís também afirmou que o estado do Amapá está apostando “todas as fichas nessa nova matriz econômica e na possibilidade de termos um novo modelo de desenvolvimento. Temos os piores indicadores de saneamento básico e no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e, até pouco tempo atrás, os piores em geração de emprego. A gente tem 20% da população de Macapá morando em favelas”, lembrou.
“O petróleo representa uma nova chance de termos uma atividade econômica forte e que possa financiar a manutenção dos nossos indicadores ambientais e o desenvolvimento em várias áreas”, argumentou Clécio Luís.
O governador também afirmou que “existe uma contradição estrutural” sobre o tema. “Foi o Estado brasileiro que fez as pesquisas sobre essa área e lançou os leilões. Esse mesmo Estado brasileiro não consegue garantir segurança jurídica e ambiental para o leilão”, referindo-se às divergências dentro do governo Lula sobre a questão.
Clécio Luís conclui a entrevista afirmando que “não podemos sair da COP-30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém, em 2025) com apenas um olhar romântico sobre a Amazônia. Isso é terrível, a COP se transformar numa grande feira de venda de souvenir de produtos indígenas, ribeirinhos. Não pode ser só isso”.