O ex-presidente Jair Bolsonaro falou com seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, sobre a venda de joias e deu sua autorização.
Eles conversaram sobre a venda de um kit de joias roubado por Jair Bolsonaro, conhecido como “kit ouro rosê”, que era composto por um relógio, uma caneta, um anel, um par de abotoaduras e um rosário árabe – tudo da marca de luxo Chopard.
No dia 4 de fevereiro de 2023, Mauro Cid enviou a Bolsonaro o link do leilão do kit, marcado para quatro dias depois e que seria realizado pela loja Fortuna Auctions.
Os dados do celular de Jair mostram que ele abriu o link por cerca de um minuto. Depois, respondeu “selva” como forma de “confirmar a ciência de que o kit ouro rosê fora exposto a leilão”, apontam os investigadores.
“Há algumas mensagens trocadas entre o ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-presidente Jair Bolsonaro que evidenciam a ciência do ex-presidente sobre este conjunto de joias e sua destinação a leilão em uma loja em território norte-americano”, observou a PF.
No dia 8 de fevereiro de 2023, Mauro Cid enviou o link da página da Fortuna Auction e informou “daqui a pouco é o kit”. As peças não foram arrematadas e Mauro Cid pediu à loja que fossem incluídas no próximo leilão.
No dia 13 de fevereiro, Cid fala à loja que o proprietário havia mudado de ideia e pedia para pegar de volta as peças de luxo. As peças foram devolvidas pela loja diretamente para a casa onde Bolsonaro estava se hospedando.
RELÓGIO
Eles também conversaram sobre a venda de um kit contendo um relógio Patek Philippe e de duas esculturas desviadas do Estado brasileiro e depois apagou as mensagens, mostra investigação da Polícia Federal.
O relatório da PF sobre o roubo e venda das joias foi tornado público na segunda-feira (8) por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao todo, Bolsonaro amealhou R$ 6,8 milhões.
Os investigadores descobriram, analisando os celulares de Jair Bolsonaro e Mauro Cid, que o ex-presidente conhecia e participou da venda do Patek Philippe.
Mauro Cid enviou a Jair Bolsonaro uma imagem com informações sobre o modelo do relógio, incluindo o valor de mercado em novembro de 2021: US$ 51 mil (equivalentes a R$ 280 mil atualmente).
O relógio foi dado como presente da família real de Bahrein ao governo brasileiro em novembro de 2021 e nunca passou pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), que deveria, por norma, incluí-lo no acervo público da Presidência.
Segundo a Polícia Federal, o relógio foi “diretamente subtraído” por Bolsonaro, que até hoje não o entregou para a União.
Até agora, a defesa de Jair Bolsonaro dizia que ele sequer sabia da existência deste relógio de luxo.
O Patek Philippe foi vendido, junto com outro Rolex roubado, por Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens, em uma loja nos Estados Unidos.
Lourena Cid contou, em depoimento, que o valor total de R$ 68 mil foi entregue em espécie para Jair Bolsonaro em três parcelas, conforme o ex-presidente ia aos Estados Unidos.
A primeira parcela foi entregue a Jair em setembro de 2022, quando o então presidente participava da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. As demais entregas de dinheiro ocorreram entre fevereiro e março de 2023.
ESCULTURAS
O relatório da PF ainda mostra que, no dia 29 de dezembro de 2022, quando Jair Bolsonaro estava prestes a fugir para os Estados Unidos, ele e Mauro Cid trocaram informações sobre duas esculturas.
Trata-se de uma escultura de palmeira e uma de barco, as quais a quadrilha achava que tinha grande valor de mercado.
Mauro Cid destinou a Bolsonaro uma mensagem perguntando: “O senhor vai trazer a árvore e o barco?”.
Jair respondeu, em quatro minutos, com duas mensagens. O ex-presidente apagou ambas. Mauro Cid respondeu “sim senhor”.
As duas esculturas foram levadas por Mauro Lourena Cid a lojas especializadas em joias para que fossem avaliadas.
O ajudante de ordens Mauro Cid falou em uma gravação para outro assessor de Bolsonaro: “aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil, aquele navio e aquela árvore; elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro. Então eu não estou conseguindo vender”.
Em seguida, ele comentou que levaria para mais um especialista que daria “uma olhada mais detalhada para ver o quanto pode me ofertar”.
A PF encontrou em um cofre na casa de Mauro Cid um comprovante de saque de US$ 6 mil, feito no dia 18 de janeiro de 2023, que estava junto a um maço de US$ 2 mil.
“Pode-se concluir que o referido saque de 6 mil dólares ocorreu na mesma data em que Mauro Cid e seu pai, Mauro Lourena Cid, estavam articulando a venda de bens (esculturas e joias) recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, na condição de chefe de estado brasileiro, em viagens internacionais”, atestou o órgão policial.