“Se a Bolívia quiser ir para o Atlântico, vai. Se o Brasil quiser ir para o pacífico, também. Vamos abrir o nosso continente e garantir o nosso desenvolvimento”, afirmou o presidente
Em comunicado conjunto à imprensa, feito nesta terça-feira (9), o presidente Lula defendeu, ao lado do presidente Luis Arce, da Bolívia, uma maior integração da América do Sul. “Integração não é mais uma retórica de discurso em época eleitoral. A integração é uma necessidade de sobrevivência dos países da América do Sul, do Brasil e da Bolívia”, disse Lula.
“O que assinamos aqui tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida do povo da Bolívia e do povo do Brasil. É preciso dar uma chance, no século XXI, para que Brasil, Bolívia e outros países da América do Sul, deixem de ser tratados como países em via de desenvolvimento ou países do terceiro mundo”, acrescentou o presidente brasileiro.
“Nós não temos toda a riqueza tecnológica que outros países têm, mas nós temos riquezas que a natureza nos permitiu, e nos deu de presente, que o mundo hoje necessita e elas são encontradas na nossa querida América do Sul”, lembrou Lula. “Seja na produção de alimentos, seja na exploração de minerais críticos, seja na questão energética, que o mundo precisa de uma transição, seja na eólica, seja na solar, seja a biomassa, no biocombustível, ou seja, nós temos alguma coisa a oferecer ao mundo que eles não têm”, prosseguiu.
“Queremos a união de nossos países. É isso que o povo da Bolívia espera do Brasil e é isso que o povo brasileiro espera da Bolívia. Vamos fazer a integração marítima, ferroviária, rodoviária. Se a Bolívia quiser ir para o Atlântico, vai. Se o Brasil quiser ir para o pacífico, também. Vamos abrir o nosso continente e garantir o nosso desenvolvimento”, afirmou Lula.
“A Bolívia tem grandes reservas de lítio, enquanto o Brasil possui terras raras, nióbio, cobalto, entre outros. Há pouco tempo descobriu-se em solo brasileiro o terceiro maior depósito de manganês do planeta”, apontou o chefe do governo brasileiro. “Como bem descreveu Eduardo Galeano, pelas veias abertas da América Latina correram o ouro de Minas e a prata de Potosí, que enriqueceram outras partes do mundo”, continuou. “Juntos, podemos nos inserir de forma soberana nas cadeias de valor de recursos estratégicos e evitar que esse histórico de espoliação continue se repetindo no nosso continente”, reafirmou Lula.
O líder brasileiro destacou que a união entre Brasil e Bolívia “representa também a comunhão de dois países cuja trajetória tem importantes paralelos”. “Assim como no Brasil, a democracia boliviana prevaleceu após um longo caminho entrecortado por golpes e ditaduras”, observou, lembrando “o que julgávamos que era o fim da estrada provou ser ainda um terreno movediço”.
“Em 2022, o Brasil completou o bicentenário de sua independência num dos momentos mais sombrios da sua história. Em vez de celebrar, fomos tomados por uma onda de extremismo que desembocou no 8 de janeiro. O povo boliviano já havia provado desse gosto amargo com o golpe de Estado de 2019 e agora se viu acometido pela tentativa de 26 de junho. Às vésperas de comemorar o seu bicentenário em 2025, a Bolívia não pode voltar a cair nessa armadilha. Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismos”, afirmou Lula.
Lula falou do avanço da direita e da forte reação das forças democráticas. “Em todo o mundo, a desunião das forças democráticas só tem servido à extrema direita. Os exemplos recentes na França e do Reino Unido demonstram o imperativo de superar diferenças em prol de um objetivo comum. Isso também se aplica à integração regional”.
“Quanto mais sólida for nossa parceria, menor será o apelo dos que pregam divisões”, afirmou. “O bom funcionamento do Mercosul, que agora tem a satisfação de acolher a Bolívia como membro pleno, concorre para a prosperidade comum. Esperamos também poder receber logo e muito rapidamente de volta a Venezuela”, completou Lula.
Assista a entrevista conjunta de Lula e Arce
Leia a íntegra do discurso de Lula na Bolívia
Quero começar agradecendo ao presidente Arce por me receber neste momento em que as instituições bolivianas mostraram seu valor frente a uma grave ameaça.
Depois de quinze anos desde a última vez em que estive na Bolívia como Presidente, minha vinda simboliza mais que a retomada de uma relação de amizade.
Ela representa também a comunhão de dois países cuja trajetória tem importantes paralelos.
Assim como no Brasil, a democracia boliviana prevaleceu após um longo caminho entrecortado por golpes e ditaduras.
Mas o que julgávamos que era o fim da estrada provou ser ainda um terreno movediço.
Em 2022, o Brasil completou o bicentenário de sua independência num dos momentos mais sombrios da sua história.
Em vez de celebrar, fomos tomados por uma onda de extremismo que desembocou no 8 de janeiro.
O povo boliviano já havia provado desse gosto amargo com o golpe de Estado de 2019 e agora se viu acometido pela tentativa de 26 de junho.
Às vésperas de comemorar o seu bicentenário em 2025, a Bolívia não pode voltar a cair nessa armadilha.
Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismos.
Temos a enorme responsabilidade de defender a democracia contra as tentativas de retrocesso.
Em todo o mundo, a desunião das forças democráticas só tem servido à extrema direita.
Os exemplos recentes na França e do Reino Unido demonstram o imperativo de superar diferenças em prol de um objetivo comum.
Isso também se aplica à integração regional.
Quanto mais sólida for nossa parceria, menor será o apelo dos que pregam divisões.
O bom funcionamento do MERCOSUL, que agora tem a satisfação de acolher a Bolívia como membro pleno, concorre para a prosperidade comum.
Esperamos também poder receber logo e muito rapidamente de volta a Venezuela.
A normalização da vida política venezuelana significa estabilidade para toda a América do Sul.
Por isso, fazemos votos de que as eleições transcorram de forma tranquila e que os resultados sejam reconhecidos por todos.
Bolívia e Brasil estão no coração sul-americano. A integração física e energética da região passa necessariamente por nossos países.
O engajamento boliviano é chave para a conclusão do conjunto de rotas que o Brasil tem chamado de Quadrante Rondon.
Com a construção da ponte binacional sobre o rio Mamoré, o transporte de bens ficará mais barato, beneficiando em particular os estados de Beni e Pando (na Bolívia) e Rondônia e Acre (no Brasil).
As propostas brasileiras para melhorar a navegabilidade no canal Tamengo e no rio Paraguai também visam a facilitar nossa conexão.
A Bolívia segue sendo o principal fornecedor de gás natural do Brasil.
Conversamos sobre a possibilidade de ampliar investimentos nessa área e incrementar o volume exportado para o mercado brasileiro.
O Brasil também importa fertilizantes da Bolívia. Queremos fortalecer essa parceria com a implantação de uma fábrica de nitrogenados entre Corumbá e Puerto Quijarro.
Felicitei a Bolívia pela opção em investir em biocombustíveis e reiterei a disposição do Brasil de compartilhar sua experiência e tecnologia, de modo a contribuir para a transição justa da Bolívia.
No centro dessa transição também estarão os minerais críticos.
A Bolívia tem grandes reservas de lítio, enquanto o Brasil possui terras raras, nióbio, cobalto, entre outros. Há pouco tempo descobriu-se em solo brasileiro o terceiro maior depósito de manganês do planeta.
Como bem descreveu Eduardo Galeano, pelas veias abertas da América Latina correram o ouro de Minas e a prata de Potosí, que enriqueceram outras partes do mundo.
Juntos, podemos nos inserir de forma soberana nas cadeias de valor de recursos estratégicos e evitar que esse histórico de espoliação continue se repetindo no nosso continente.
Além do excelente relacionamento bilateral, Bolívia e Brasil partilham de visões de mundo convergentes, o que nos faz parceiros naturais em diversos temas.
A prioridade conferida à redução das desigualdades e à promoção da segurança alimentar é um deles.
Por isso, fiz questão de convidar a Bolívia a participar da Cúpula do G20 em novembro e a se somar à Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza que será lançada pela presidência brasileira.
O presidente Arce também manifestou o interesse boliviano de ingressar nos BRICS.
A questão da ampliação do grupo continuará a ser discutida na Cúpula de Kazan, na Rússia, em outubro. O Brasil vê como muito positiva a inclusão da Bolívia e de outros países de nossa região.
Compartilhamos com a Bolívia nossa maior fronteira, de 3400 quilômetros, e dois dos nossos mais importantes biomas, a Amazônia e o Pantanal.
Infelizmente, a mudança do clima e o crime organizado não respeitam limites.
Disse ao presidente Arce que já temos uma excelente cooperação no âmbito da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e que também podemos trabalhar juntos para combater os incêndios no Pantanal.
Assinamos hoje diversos projetos para fortalecer a capacidade de agentes públicos de combaterem o tráfico de pessoas e de drogas e melhorarem a gestão migratória.
Também iniciamos negociação para viabilizar o acesso de brasileiros à saúde pública na Bolívia, da mesma forma que bolivianos podem utilizar o Sistema Único de Saúde no Brasil.
Conversamos sobre a importância de garantir segurança jurídica a brasileiros na Bolívia, para que eles continuem colaborando com o desenvolvimento econômico deste país.
A Polícia Federal e o Consulado da Bolívia em São Paulo estão trabalhando juntos para regularizar a situação migratória dos milhares de bolivianos que tanto têm contribuído para dinamizar nossa economia e enriquecer nossa cultura.
É esse espírito de intercâmbio e cooperação que pauta a relação ente o Brasil e a Bolívia. Estou certo de que nosso diálogo e amizade crescerão e nos aproximarão cada vez mais.
Muito obrigado.