Depender de outros países para nos abastecer em energia é a pior opção. Mundo já diversifica as fontes de energia há pelo menos 200 anos, mas matrizes fósseis ainda são e serão determinantes para a energia global. Artigo publicado originalmente no portal Poder360
ALLAN KARDEC (*)
Hoje, as maiores empresas por valor de mercado no mundo são, nesta ordem:
- Microsoft;
- Apple;
- Nvidia;
- Alphabet (Google); e
- Amazon.
O que elas têm em comum? São gigantes da informação. Que mais? A “mais barata” vale US$ 2 trilhões, enquanto a mais valiosa vale US$ 3,4 trilhões.
De 2005 a 2012, a maior empresa do planeta foi a ExxonMobil, companhia de energia, que valia US$ 400 bilhões. Depois, a Apple assumiu a dianteira junto com outras empresas de informação e seus valores se exponencializaram. Hoje, a Apple vale quase 7 vezes mais que a ExxonMobil. Isso implica que a chamada Revolução 4.0 já acontece há mais de uma década.
O fato objetivo é que informação é hoje mais valiosa que energia.
Tecnicamente, a energia é algo concreto, que podemos tocar, como um pedaço de cana de açúcar ou um litro de gasolina. Já a informação é um pouco mais complicada. Afinal, uma informação que você já tem é inútil, como eu lhe falar seu nome. Mas certamente gostaríamos de saber os números da Mega-Sena antes do seu anúncio.
A energia é a segurança do passado, a informação é a surpresa do futuro.
No entanto, não há informação sem energia. Os datacenters, que armazenam e processam uma grande quantidade de dados, são imensos consumidores de energia elétrica. Eles necessitam de energia não apenas para alimentar servidores, armazenamento e equipamentos de rede, mas também para sistemas de refrigeração que mantêm os equipamentos em temperaturas operacionais adequadas. O crescimento explosivo em serviços de nuvem, streaming e outras tecnologias baseadas na internet impulsionou a demanda por centros de dados mais potentes e mais numerosos, elevando o consumo de energia.
Por outro lado, há a novidade da IA (inteligência artificial), recentemente. O treinamento de modelos de IA, especialmente os modelos de aprendizado profundo, requer uma quantidade significativa de poder computacional. Isso ocorre porque tais modelos são construídos com milhões (ou até bilhões) de parâmetros e necessitam processar enormes conjuntos de dados para aprender padrões eficazmente.
Por exemplo, modelos como o ChatGPT (da OpenAI) e Bert (do Google) são conhecidos por seu intenso consumo energético durante as fases de treinamento. Essa demanda tem um impacto gigantesco no consumo energético planetário. De fato, estudos indicam que, até 2030, os modelos de IA exigirão o equivalente em energia ao que hoje consumimos no planeta inteiro.
Assim como a informação, a energia permanece no topo dos fatores críticos para uma nação ser autônoma e soberana.
A capacidade de um país de atender às suas necessidades energéticas internas sem depender de importações é um componente crítico de sua soberania. Países autossuficientes, como a Noruega –com suas reservas de petróleo e gás– têm o controle sobre a sua política energética e externa.
Por outro lado, o desenvolvimento de tecnologias de fraturamento hidráulico e a produção de gás de xisto transformaram os Estados Unidos de um grande importador de energia em um exportador líquido de petróleo e gás natural. Isso aumentou significativamente a independência energética do país e reduziu sua vulnerabilidade a choques externos.
Esses fatos demonstram, inequivocamente, que a geopolítica do planeta mudou e se adequou às novas tecnologias. No entanto, nenhum país de economia robusta abriu mão nem da informação nem da energia. Basta dar uma olhada no 1º parágrafo deste texto e verificar de onde vêm as 5 maiores empresas do planeta.
O mundo parece caminhar para a chamada “diversificação energética”. Esse é um fenômeno que tende a se consolidar já há 2 séculos. O gráfico abaixo, que mostra o consumo de energia por diferentes fontes nos últimos 200 anos, demonstra isso.
Enquanto a humanidade demanda energia exponencialmente, há uma narrativa, claramente equivocada –mas hegemônica– que prega em vários fóruns que as energias fósseis serão substituídas. O gráfico demonstra inequivocamente que as fontes dominantes são as fósseis, com tendência de ampliar seu uso no futuro. Mais ainda, o consumo está aumentando. De todas as fontes.
A história mostrará que a pauta, claramente política, chamada de “transição energética” é um dos grandes equívocos de nossos tempos.
A propósito, minha lista é minúscula, mas citaria minimamente os combustíveis –incluindo gasolina, diesel, querosene, óleo combustível e gás de cozinha–, plásticos, dezenas de produtos químicos industriais, produtos farmacêuticos, medicamentos, fertilizantes, tintas, revestimentos, produtos de higiene pessoal, cosméticos, desodorantes, pastas de dente, detergentes, roupas e materiais sintéticos como poliéster e nylon como produtos feitos a partir de petróleo.
Por outro lado, a indústria de fontes cognominadas renováveis, seja hidrelétrica, solar, eólica ou outras novas como hidrogênio, possuem igualmente grandes dependências da indústria do petróleo. Não se fazem novos componentes sem a indústria do petróleo, tampouco na logística e infraestrutura: postes, linhas de transmissão, geradores, motores, plásticos e tantos outros.
Para termos energia em nossas casas –qualquer delas, fósseis ou não–, precisamos da exploração mineral. Retirar do solo o que a humanidade demanda para seu consumo. Não há almoço grátis.
Além da inteligência artificial, novas tecnologias estão no horizonte da Revolução 4.0. Já está sendo gestada a Internet 6G, que promete velocidades até 100 vezes mais rápidas que o 5G, o que levará a um aumento significativo no tráfego de dados e aumentar o consumo de energia das redes.
O 6G trará também tecnologias como holografia, realidade aumentada e mais aplicações de inteligência artificial, que também consumirão mais energia. Além da 6G, nos próximos anos, são esperados avanços em robótica, nanotecnologia, tecnologia cerebral ou computação quântica –todas intensas em consumo de energia.
Enfim, o Brasil deve renunciar à exploração de petróleo, como inúmeras vozes vêm ecoando o que a Europa nos receita? Os mesmos países que não atendem aos acordos internacionais, como o próprio Acordo de Paris? Em que momento a Noruega, Reino Unido ou França deixaram de explorar petróleo? Ou a Alemanha de usar carvão?
A energia é fundamental para o funcionamento de todas as infraestruturas críticas, incluindo transporte, comunicações, saúde e defesa. Garantir a segurança do fornecimento energético é vital para a segurança e soberania nacional. Hoje, o Brasil é o país mais diverso em fontes energéticas.
Depender de outros países para nos abastecer em energia é a pior opção.
(*) Doutor em engenharia da informação pela Universidade de Nagoya (Japão). É professor titular da UFMA (Universidade Federal do Maranhão). Foi diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e atualmente é presidente da Gasmar (Companhia Maranhense de Gás).