“Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer”, disse o presidente nesta terça-feira (16) à TV Record. Ao mesmo tempo, ele foi em sentido oposto do que disse e garantiu que fará “o que for necessário para respeitar o arcabouço fiscal”
No mesmo dia em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que ia informar o presidente da República da necessidade de reter R$ 10 bilhões do Orçamento Geral da União para cumprir a meta fiscal estabelecida para 2024, o presidente Lula disse, em entrevista à TV Record, que o governo não é obrigado a cumprir a meta fiscal.
CORTES OU DESCUMPRIMENTO DE META
“É apenas uma questão de visão. Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Esse país é muito grande, esse país é muito poderoso. O que é pequeno é a cabeça dos dirigentes desse país e a cabeça de alguns especuladores”, afirmou o presidente nesta terça-feira (16).
Ao mesmo tempo em que afirmou que não é obrigado a cumprir as metas, Lula apontou em direção contrária, dizendo, na mesma entrevista, que fará o que for necessário para respeitar o arcabouço fiscal. Uma contradição visível. Ainda não se sabe o que prevalecerá desse aparente impasse. Se os investimentos no crescimento vão ultrapassar as estreitas metas estabelecidas ou se prevalecerão os cortes de verbas.
O presidente argumentou também que tem “mais seriedade em relação ao tema do que quem dá palpite nessa questão fiscal no Brasil”. “Responsabilidade fiscal eu não aprendi na faculdade, eu trago do berço”, destacou.
“Se o déficit é zero, se é 0,1, o que é importante é que o país esteja crescendo. O que é importante é que a economia esteja crescendo. O que é importante é que o emprego esteja crescendo. O salário crescendo. Nós vamos fazer o que for necessário para cumprir o arcabouço fiscal. Nós vamos criar um país com estabilidade jurídica. Nós vamos criar um país com estabilidade fiscal, com estabilidade econômica, com estabilidade social”, prosseguiu.
NEM TUDO QUE TRATAM COMO GASTO, EU TRATO COMO GASTO
“Primeiro eu tenho que estar convencido se há necessidade ou não de cortar (verbas). Você sabe que eu tenho uma divergência histórica, uma divergência de conceito com o pessoal do mercado, nem tudo que eles tratam como gasto eu trato como gasto”, acrescentou Lula, em entrevista à TV Record, que foi ao ar nesta terça-feira à noite. “Você não precisa cumprir essa meta se você tiver coisas mais importantes para fazer”, destacou.
Lula falou também sobre a regulamentação das plataformas digitais. Lula afirmou que as grandes empresas de tecnologia, conhecidas como big techs, lucram com a “disseminação do ódio”. Ele acrescentou que vai retomar o debate sobre a regulação das redes sociais. “Eu sou a favor de que a gente tenha uma regulação urgente, porque essas empresas não pagam imposto no Brasil. Essas empresas ganham bilhões de publicidade, têm muito lucro com a disseminação do ódio nesse país e no mundo inteiro”, argumentou o presidente.
REGULAR AS PLATAFORMAS DIGITAIS
“O dado concreto é que a gente não pode perder de vista a necessidade de fazer uma regulação. Para que as coisas voltem a uma certa normalidade”, ressaltou. “É preciso uma saída coletiva para o mundo, é o mundo que está em risco. É a democracia civilizada, a convivência democrática, que está correndo risco”, argumentou o chefe do Executivo.
O projeto que tramitava na Câmara tinha como relator o deputado Orlando Silva (PC do B-SP). Na ocasião da votação, as “big techs” fizeram uma carga violenta contra e a votação do projeto foi interrompida. Agora, Orlando fará parte de um grupo para retomar a discussão. Além dele, também participarão o presidente da bancada evangélica, Eli Borges (PL-TO), os líderes partidários Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), Afonsto Motta (PDT-RS) e Erika Hilton (PSOL-SP), e o secretário nacional de Comunicação do PT, Jilmar Tatto (PT-SP).
É tão simples o que Lula defende e tão verdadeiro, a ponto de ser natural a contrariedade do mercado. Por quê? Porque Lula visa o crescimento econômico do país como resultado do emprego, salários dignos e o consequente consumo, enquanto que o mercado visa apenas a renda advinda das aplicações financeiras, sem qualquer preocupação social com o trabalhador, já que, para aquele, este precisa de muito pouco só pra sobreviver. A democracia e a violência social não são problemas do mercado. Eça de Queiroz já abordava esse comportamento da elite portuguesa, a qual aplicava em Paris e nada produzia em Portugal.