Rodrigo Leste
No episódio 5 os “atores” Marco e Geleia jogam sinuca, falam de cinema e tratam da dificuldade em conseguir que Pasqualle autorize a exibição de sua cena.
Episódio 6
A edição do filme é feita na casa de Gui, que mora com a mãe e a irmã. Alfredo está sempre presente, dando as coordenadas no trabalho. Acabaram de editar a cena do último diálogo entre Paçoca e Cheiroso. Agora, toda a equipe assiste o resultado final no notebook de Marco.
— Impressionante! — comenta Gui. — O “ministro” é fodaço! A apreensão do helicóptero foi pra debaixo do tapete, coisa de “Mandrake”.
— O troço não deu em nada e o senador conseguiu engalobar muita gente — fala Marco, olhando na tela do seu celular a linha de tempo da história recente do país feita por Sabrina, que é uma espécie de mentora intelectual do projeto. — Tá aqui, ó. O caso do helicóptero foi no final de 2013. A eleição, em 2014. Nesse período, ninguém levantou a bola da cocaína, a mídia, os adversários políticos, ninguém…
— …e o “coxinha” teve mais de 50 milhões de votos, uma doideira total — completa Jane.
— A memória nacional é precária, puro alzheimer, ninguém lembra de nada, ontem já é tempo demais — afirma outro “ator” da trupe, Renato.
— Em 2015 teve o crime de Mariana, a inundação de Bento Rodrigues, o assassinato do Rio Doce; de novo a linha do tempo — diz Marco. — Não podemos esquecer essa passagem.
— Claro que isso tem que entrar no filme, gente. Esse absurdo, esse lamaçal, várias pessoas morreram, perderam tudo, distritos destruídos, isso tem que entrar de qualquer jeito — fala Jane, num tom exaltado.
Geleia, que voltava do banheiro, começa a participar da conversa.
— O que há em comum nesses acontecimentos é que não rola punição, ninguém vai preso, não dá nada. Só as vítimas que têm suas vidas arruinadas é que pagam a conta da parada.
— Pensa. Se o helicóptero é do filho do Lula, do Dirceu, do Lindbergh? Hem, pensa? — pergunta Renato. — Tá na cara que ia dar B.O., ia ser um escândalo do caralho, um monte de gente em cana, a Globo falando 24 horas por dia no caso, o Estadão, a Folha, a porra toda sendo derramada como um vulcão.
— Encontrei um artigo que saiu na Veja na época, isso mesmo, na Veja, o jornalista levanta várias lebres, faz questionamentos, mostra a incoerência dos depoimentos, sugere que o helicóptero estava mesmo a serviço do tráfico — diz Jane, enquanto pega umas latas de cerveja na geladeira.
— Ia ser uma boa pesquisar o que fizeram com esse jornalista, deve ter sido demitido sumariamente — comenta rindo Alfredo, depois de terminar as anotações que fazia no roteiro.
— O mais sem noção de tudo é que o Cheiroso ainda teve moral pra encabeçar o movimento “coxinha” que deu no impeachment, no golpe — fala Geleia.
— É, uma montanha de merda, uma cagada geral. Mas acho que o PT vacilou muito, conchavou com bandidos como o Temer, fez o jogo das elites, se acomodou com as vantagens do poder — diz Marco, passando a lata de cerveja para Geleia.
— E, cá pra nós, por mais que faltem provas, não dá pra acreditar que os “petralhas” não têm culpa no cartório, não participaram da roubalheira, da corrupção — fala Alfredo, rindo da cara de poucos amigos que o Renato, petista de carteirinha, faz.
— Nem vou responder, Fredo — fala Renato. — Mas é sempre bom lembrar que o Lula foi o melhor presidente que este país já teve. Ponto.
— E aí, pessoal, valeu ou não a última cena de Paçoca e Cheiroso? — pergunta Geleia.
— Acho que valeu… Mas acho que podemos dar uma melhorada geral em toda a edição, né, Gui? — pergunta Alfredo.
Gui assente com a cabeça, de olho na tela do iPad.
— Então, amanhã de manhã, dez horas no escritório do Pasqualle? Marco com o note e Jane… cheia de charme — ia falar, cheia de amor pra dar, mas segurei — ri Alfredo. — Falô?
Fim do Episódio 6