Depoimento durou 7 horas na sede da PF do Rio de Janeiro
O depoimento do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, sobre a espionagem ilegal que foi realizada sob sua gestão durou quase 7h e teve mais de 100 perguntas.
Ramagem tentou passar a responsabilidade sobre a arapongagem ilegal feita contra adversários políticos e desafetos de Jair Bolsonaro para seus subordinados, dizendo que não sabia de nada.
Segundo a CNN, os investigadores da PF avaliam que já foram colhidas provas de que Alexandre Ramagem sabia e determinava as espionagens ilegais. O bolsonarista está, em seu depoimento, somente “tentando tirar sua responsabilidade”, disseram fontes ouvidas pelo canal.
Na quarta-feira (17), Ramagem chegou à sede da PF no Rio de Janeiro às 15h20 e às 22h, quase sete horas depois, deixou o local. Ele não falou com a imprensa.
O Globo e a CNN apuraram que Alexandre Ramagem disse à Polícia Federal que quem fazia as espionagens eram dois agentes da ABIN, Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues, que estavam cedidos pela PF e pelo Exército, respectivamente, à Agência.
Os dois foram presos pela PF no dia 11 de julho, quando foi deflagrada mais uma fase da Operação Última Milha, que investiga a organização da “Abin paralela”.
Através de indicação, Marcelo Bormevet tornou-se chefe do Centro de Inteligência Nacional da Abin durante a gestão de Ramagem. Giancarlo Gomes Rodrigues era seu subordinado.
A PF já indicou, em relatórios, que Giancarlo agia na espionagem contra o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (PSDB-RJ), e a ex-deputada Joice Hasselmann.
Além disso, na investigação foram obtidas provas de que os dois agentes espionaram os responsáveis pela investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, o delegado Daniel Rosa, da Delegacia de Homicídios do Rio, e da promotora Simone Sibilio do Nascimento, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MP-RJ).
Durante o depoimento, Alexandre Ramagem também foi questionado sobre a gravação, encontrada em seus equipamentos, de uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro, o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno e duas advogadas.
Na gravação, o grupo conversa sobre formas de livrar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) da acusação de roubar dinheiro de seus assessores, no esquema conhecido como “rachadinha”.
A reunião concluiu que os responsáveis pelos relatórios financeiros sobre Flávio, que apontavam as movimentações financeiras criminosas, deveriam ser espionados para que os documentos fossem anulados. Foi dessa forma que Flávio Bolsonaro conseguiu se livrar das investigações.