“Gasto público que gera desenvolvimento volta como receita, como empregos”, defendeu Ricardo Cappelli
O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, criticou o chamado “déficit zero” na economia e defendeu políticas de industrialização para o Brasil, como investimentos diretos e créditos para a área que ele considera estratégica.
Para isso, o dirigente da ABDI criticou parte da mídia e os que fazem campanha para que o Brasil tenha “déficit zero”, cortando investimentos. Na quinta (18), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um corte de R$ 15 bilhões no orçamento do governo para o restante do ano.79
“Se a gente pegar todas as economias do mundo, quem é que está girando com déficit zero? Gasto público que gera desenvolvimento volta como receita, como empregos”, criticou Cappelli em entrevista ao jornal Correio Braziliense.
“Nós pagamos de serviço da dívida, no ano passado, R$ 750 bilhões de juros. Se a gente reduz um ponto a taxa de juros, a gente economiza quanto? Mais de R$ 70 bilhões. Por que ninguém faz editorial defendendo diminuir a taxa de juros?”, assinalou.
ESPECULAÇÃO DO DÓLAR
Ele defendeu que a Polícia Federal investigue a ação de especuladores do mercado financeiro contra o real, que causou uma valorização de 7% do dólar em menos de um mês.
Cappelli também criticou a “omissão” do Banco Central, que está assistindo a escalada do dólar para depois tentar aumentar os juros.
“O dólar subiu mais de 7% em menos de 30 dias. Ganharam fortunas no Brasil especulando contra o real. Gente que estava comprada em dólar ganhou fortuna. Que aplicação dá mais de 7% em um mês?”, questionou o presidente da ABDI.
Cappelli indagou “por que o Banco Central não podia ter intervido?”.
“O Brasil tem R$353 bilhões em reservas cambiais, que existem justamente para isso. Quando o mercado eleva a aposta contra o real, especula contra o Brasil, o Banco Central está ali para garantir que a especulação não vá à frente. O BC ficou só olhando isso escalar e ganharem fortunas”, denunciou.
Ricardo Cappelli, que foi secretário-executivo do Ministério da Justiça na gestão de Flávio Dino, explicou que o discurso neoliberal de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central indicado por Bolsonaro, pode fazer uso dessa especulação contra o real para manter a taxa de juros nas alturas.
Ele comentou que a alta do dólar pode trazer inflação, uma vez que a produção de diversas mercadorias depende de produtos e serviços externos. Com isso ocorrendo, Campos Neto dirá que para controlar a inflação será preciso uma taxa de juros ainda maior.
“Isso é um absurdo e tem gente ganhando fortunas”, criticou.
Para Cappelli, o Campos Neto “está em campanha” junto da oposição ao governo Lula.
CAMPOS NETO
O presidente da ABDI citou o jantar de Campos Neto com o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), que é cotado como candidato da oposição em 2026 contra Lula.
No evento, Campos Neto “foi tratado como ministro da Fazenda de oposição”.
“O Banco Central não é independente, um órgão técnico? Então o que o presidente do BC estava fazendo em um jantar com líderes da oposição e desfilando como ministro da Fazenda de um governo da oposição?”, perguntou.
Já em 2023, Campos Neto foi flagrado participando de um grupo de ex-ministros do governo de Jair Bolsonaro. Ele tem mandato até o fim do ano.