“Se você me pergunta se temos financiamento, a resposta é essa: pouco e caro”, afirma o conselheiro da Fiesp, destacando “o custo de captação caro que é dado pela Selic”
O empresário Mário Bernardini, conselheiro do Conselho Superior de Economia (Cosec) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou que “o financiamento para a indústria é insuficiente e caro” na tarde desta terça-feira (23), durante o fórum “A Indústria no Brasil Hoje e Amanhã”, evento realizado pelo “Estadão” em parceria com a Fiesp, Ciesp, Firjan e CNI.
“A NIB (Nova Indústria Brasil), ela é um começo, como primeiro passo é importante. Mas é insuficiente em quantidade e custo muito elevado, porque o dinheiro, esses R$ 75 bi por ano comparados com R$ 475 bi do Agro, não são nada. Considerando que o agro é metade da indústria. Então, é menos ainda em termos de PIB”, criticou Bernardini, ex-diretor da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Sobre o programa NIB, lançado pelo governo federal no início deste ano, com o fim de reindustrializar o país, Bernardini lembrou também que o financiamento tem como base a Taxa de Longo Prazo (TLP) do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que é cara.
“Ou seja, esse dinheiro está sendo emprestado a custo de 20% ao ano. No agro, eu parto de 5% e vou a 11%, 12%”, observou. “Se nós não resolvermos o problema de acesso ao financiamento a custos compatíveis para a indústria, ela não investe. Se ela não investe, ela não tem produtividade. Se ela não tem produtividade, o Brasil não cresce; porque a produtividade da indústria extravasa para o resto da economia, o grosso. Então, o Brasil não cresce”.
Para Mario Bernardini, infelizmente, “o crédito no Brasil não tem pai”, disse referindo-se a falta de um Estado verdadeiramente investidor. “Mas tem padrasto, que seria o sistema financeiro nacional”.
“O sistema financeiro nacional empresta para a indústria no Brasil algo ao redor de 20% do PIB [Produto Interno Bruto]. Se nós pegarmos o endividamento das empresas lá fora, a média da União Europeia, 75%; dos Estados Unidos e Japão, ao redor de 100% do PIB; e a China, não à toa, 150% do PIB. Então, comparado com isso, podemos dizer que não temos financiamento”, criticou.
“Por que não temos financiamento?, questionou Mario Bernardini, que seguiu. “Por que o brasileiro não gosta de pegar dinheiro emprestado? Ó, ele pega todo santo dia. O problema é que se a gente fizer a conta, esses 20% do PIB que as indústrias, tomando o sistema financeiro nacional, comparado com o faturamento, ele vai a 33%… A gente não toma mais dinheiro porque 33% do PIB, a custos correntes de financiamentos no Brasil, no sistema financeiro, o capital de giro custa em média acima de 20%. Tomando 33% de financiamento, eu já tenho um custo final sobre o meu faturamento de 6%. Como a margem da indústria é de 8%, se eu tomar mais de 33% de financiamento no Brasil, eu quebro”, explicou, considerando o faturamento da indústria de R$ 6,8 trilhões em 2022, com PIB de R$ 10 trilhões.
“A indústria, ao contrário do que a turma pensa, ganha relativamente pouco. Pegamos a média nos últimos 20, 25 anos. Na última linha do balanço, o lucro líquido aqui gira ao redor de 8%, 9%. Eu comprometer 6% [do meu faturamento] com 30% já é complicado. E se eu tomar no Brasil mais de 40% de financiamento a custos não correntes, eu quebro”, constatou o empresário. “Simplesmente, o custo do financiamento passa a ser maior que o meu lucro”, disse.
“Então, se o sistema produtivo é um organismo, eu devo fazer uma comparação. Eu diria que o financiamento é a seiva que alimenta esse organismo. É o sangue, que nós não temos. Os vampiros tomaram, a indústria não. Então, quando você me perguntou e o financiamento?. A resposta é esta, pouco e caro”, criticou.
Entre as causas que tornam o crédito caro no Brasil, Mario Bernardini aponta a alta taxa de juros da economia (Selic) do Banco Central, nos atuais 10,5% ao ano.
“Você tem um custo de captação caro que é dado pela Selic. O governo faz a concorrência com todo mundo. Ele paga a 10,5%. Então, se eu quiser dinheiro, eu tenho que partir daí, ninguém vai me dar a menos, porque está perdendo dinheiro”, criticou. “Os bancos, consistentemente, no Brasil, você pegar os últimos 20 anos, pegar a curva de inflação e a curva de spread bancário, você tem um diferencial de 10 pontos percentuais”, disse Mario Bernardini.