O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), admitiu que a empresa escolhida por seu governo para assumir o controle da Sabesp, a maior empresa de saneamento da América Latina, não possui qualquer experiência na área.
O governador, que causou um prejuízo bilionário ao negociar as ações da empresa por valores abaixo do esperado, confirma assim que o interesse dos parasitas é o de drenar os lucros da empresa e que ficará a cargo dos profissionais da Sabesp, a tarefa de garantir o funcionamento da empresa após a privatização.
Em entrevista ao programa “Em Ponto” da GloboNews, Tarcísio disse que a experiência da Sabesp e de seus funcionários garantirá a qualidade do serviço prestado. A declaração foi em resposta a críticas sobre a venda de ações da empresa para o Grupo Equatorial, que atua principalmente no segmento de distribuição de energia.
“A Sabesp é a operadora,” disse Tarcísio ao programa “Em Ponto” da GloboNews. “Nós temos os melhores quadros, nós temos a melhor operação e isso está sendo preservado,” acrescentou o bolsonarista, ignorando o anúncio da Equatorial da realização de um plano de demissões em massa na empresa.
“A gente tem que entender que a Sabesp continua sendo a operadora, então não muda. A Sabesp tem os quadros qualificados, tem excelentes profissionais e continua sendo a operadora. Esse investidor de referência se soma a nós na busca por capital,” completou.
Em sua declaração, Tarcísio também finge ignorar que a Equatorial possui a pior avaliação entre as distribuidoras de energia do país e é responsável por apagões no Rio Grande do Sul e Goiás.
Tarcísio disse: “É uma empresa de utilities, é uma empresa que tem excelente reputação, é uma empresa que tem acesso a capital no mercado, é uma empresa que tem ativos líquidos, maduros. E quem vai operar saneamento para a Equatorial, para nós, para o governo do Estado? A própria Sabesp. A Sabesp fica, a Sabesp é o operador.”
A realidade mostra outra coisa, muito diferente do afirmado pelo governador.
O governo paulista diminuiu de 50,3% para 18,3% sua participação na Sabesp. O Grupo Equatorial arrematou 15% das ações da Sabesp e se tornou o novo acionista de referência. Ou seja, não terá controle acionário, mas será o responsável pela gestão.
Se a Sabesp já tinha os melhores quadros, por que privatizar? Por que entregar o controle do saneamento para o capital privado, ao invés de priorizar recursos públicos na universalização do acesso ao saneamento?
ENERGIA
A Equatorial não tem expertise em saneamento básico e coleciona maus resultados por onde passa, como, por exemplo, no setor elétrico, onde recebeu o título de pior prestadora de serviço em levantamento feito pela ANEEL.
A Equatorial Goiás é a pior distribuidora de energia elétrica de grande porte do Brasil. A empresa ficou em último lugar no ranking de 29 companhias, divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) com o resultado do serviço prestado em 2023. A empresa caiu duas posições em relação a 2022, quando ficou na 27ª posição.
De acordo com a ANEEL, os consumidores goianos passaram, em média, 21,96 horas sem fornecimento de energia no ano passado. Este indicador é chamado de duração equivalente de interrupção por unidade consumidora (DEC). O número ficou acima do limite de 11,45 horas que havia sido estabelecido pelo órgão regulador. No entanto, houve queda em relação a 2022, quando Goiás registrou média de 22,55 horas no escuro.
Mesmo com péssimo desempenho, o governo se esforçou muito e aceitou um prejuízo de bilhões para privatizar a estatal.
As ações da companhia foram vendidas na Bolsa de Valores (B3) nesta segunda-feira (22) a R$ 67 cada, valor 18,3% abaixo dos R$ 87, preço de fechamento na última quinta-feira (18). A venda de 32% da Sabesp resultou em R$ 14,8 bilhões aos cofres do governo paulista e representa uma perda de pelo menos R$ 4,5 bilhões aos cofres estaduais. O valor é quase um terço dos R$ 14,8 bilhões arrecadados com a privatização.
A Equatorial Energia comprou 15% das ações. Outros 17% em ações da companhia foram vendidos de forma pulverizada a outros investidores. Não foi divulgado ainda quem são os principais compradores dos papéis: bancos, fundos de investimentos ou estrangeiros, por exemplo.
“O projeto privatista de Tarcísio de Freitas, além de destruir o patrimônio do povo paulista e condenar milhões a serviços precarizados e tarifas abusivas, já contabiliza uma perda de R$ 4,5 bilhões aos cofres estaduais. A cifra se refere à lambança de Tarcísio com a proposta de privatização da Sabesp,” denunciou o Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de SP).
“Vale lembrar que o Sintaema encomendou um estudo, que foi apresentado ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) e ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), no qual aponta que cada ação da Sabesp vale R$ 103,90. Considerando esse preço, o governo paulista deixou de colocar nos cofres públicos cerca de R$ 8 bilhões ao vendê-las por R$ 67,” ressaltou a entidade.
O sócio associado da Kipuinvest, Roberto Nemr, comparou, em postagem no LinkedIn, a liquidação da empresa a uma “Black Friday fora de época.” “De todas as coisas absurdas que já vi na vida, essa privatização da Sabesp a preço subsidiado foi a mais bizarra. Virou uma farra do boi de sob-demanda a preço fixo quando o certo seria aumentar o preço para ajustar a demanda fictícia.”
DEMISSÕES EM MASSA
A Equatorial Energia, antes mesmo da venda concluída, já havia informado que seu plano para a companhia é o de cortar custos via demissões em massa de funcionários para aumentar os pagamentos de lucros aos acionistas do grupo.
Em uma apresentação a investidores, a Equatorial afirma que pretende implementar uma série de estratégias para cortar custos e aumentar o lucro dos acionistas, sem nem ao menos estudar quais são as necessidades da companhia e dos usuários, a população paulistana.
A apresentação da Equatorial aos investidores destacou que o rumo para a Sabesp seria aumentar os dividendos mediante a otimização da estrutura de capital da Sabesp. Traduzindo a linguagem corporativa, isso quer dizer reduzir funcionários, sobrecarregar os que ficarem e, por consequência, piorar a qualidade do serviço prestado para ampliar o retorno aos investidores. O clássico da privatização, sem absolutamente nenhuma novidade ou roupagem.
O documento da Equatorial fornece um panorama de suas estratégias anteriores que resultaram em reduções significativas de custos em outras operações, como o caso do Rio Grande do Sul e Goiás, que colecionam apagões, explosões de transformadores e desastres ambientais.