
“É reminiscência da Guerra Fria” repudia o presidente russo
A Rússia se considerará livre de uma moratória sobre a implantação de mísseis de médio e curto alcance se os EUA colocarem mísseis na Alemanha, afirmou o presidente russo, Vladimir Putin, em um discurso aos marinheiros no desfile do Dia da Marinha em São Petersburgo.
Em um comunicado de imprensa datado de 10 julho, os EUA anunciaram até 2026 a implantação de sistemas de mísseis terrestres de longo alcance na Alemanha, o que desde 1987 não existia.
Putin chamou este anúncio de “digno de nota”, pois tal implantação colocará importantes instalações estatais e militares russas, centros administrativos e industriais, bem como infraestrutura de defesa ao alcance das armas. Ele observou que o tempo de voo de tais mísseis para alvos em território russo seria de cerca de dez minutos e que eles também poderiam ser equipados com ogivas nucleares.
“Esta situação é uma reminiscência dos eventos da Guerra Fria relacionados à implantação de mísseis americanos de médio alcance Pershing II na Europa”, Putin afirmou.
Ele disse que, embora a Rússia tenha deixado a Guerra Fria no passado, os EUA “não retribuíram”. O presidente alertou que, se os EUA continuarem com o plano de implantação de mísseis, a Rússia responderá reciprocamente.
“Se os EUA implementarem tais planos, nos consideraremos livres da moratória adotada anteriormente sobre a implantação de armas de ataque de médio e curto alcance e tomaremos medidas para aumentar as capacidades das tropas costeiras de nossa Marinha”, afirmou, observando que o desenvolvimento de vários desses sistemas de mísseis está nos estágios finais.
“Tomaremos medidas espelhadas para implantar [esses sistemas], levando em consideração as ações dos EUA e seus satélites na Europa e em outras regiões do mundo”, disse ele.
A moratória unilateral russa está em vigor desde 2019, quando o governo Trump retirou os EUA do Tratado INF, que proibia a Washington e a Moscou, mísseis terrestres de médio alcance, entre 500 e 5000 km, tratado de 1987 que debelara a ameaça de uma hecatombe nuclear na Europa, com as principais capitais europeias a 10 minutos da destruição nuclear.
Putin fez seu discurso no domingo (28), depois de cumprimentar marinheiros e tripulações de navios reunidos para o desfile anual do Dia da Marinha, a principal celebração da Marinha russa. Ele elogiou a Marinha como um “guardião confiável de nossas fronteiras navais” e o orgulho e a glória do país.
Ele disse que o poder naval da Rússia foi alcançado por meio dos esforços e talentos de seus marinheiros e prometeu continuar apoiando o fortalecimento das capacidades da Marinha por meio de treinamento e mais pessoal de fuzileiros navais, equipando embarcações navais com mísseis hipersônicos, aumentando a infraestrutura costeira e inteligência e defesa aérea. Navios de guerra da China, Índia e Argélia participaram das comemorações do Dia da Marinha Russa.
O SIMPLÓRIO SCHOLZ
A questão dos mísseis norte-americanos na Alemanha também foi abordada pelo chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, durante fórum de segurança da Asean – a Associação das nações do sudeste asiático – no Laos, no sábado.
Ele classificou de simplórios comentários do primeiro-ministro alemão Olaf Scholz de que poderia recusar a implantação dos mísseis norte-americanos na Alemanha se a Rússia recuasse na Ucrânia.
“Ninguém perguntou a Scholz se alemães queriam mísseis dos EUA ou não”, observou Lavrov, acrescentando que o premiê alemão é conhecido por suas ideias simplórias.
Em uma coletiva de imprensa em Berlim no início desta semana, Scholz rejeitou as preocupações de que os planos possam aumentar ainda mais as tensões com a Rússia. Ele argumentou que Moscou deve primeiro encerrar sua operação militar contra Kiev para impedir a implantação de mísseis de longo alcance dos EUA na Alemanha.
Quando a notícia da implantação de mísseis saiu – registrou Lavrov – Scholz simplesmente disse: “Congratulo-me com a decisão dos EUA de implantar os mísseis na Alemanha”. Ele, portanto, não escondeu o fato “de que a decisão era americana”, afirmou o ministro das Relações Exteriores russo.
Em uma coletiva de imprensa em Berlim no início desta semana, Scholz rejeitou as preocupações de que os planos possam aumentar ainda mais as tensões com a Rússia. Ele argumentou que Moscou deve primeiro encerrar sua operação militar contra Kiev para impedir a implantação de mísseis de longo alcance dos EUA na Alemanha.
Lavrov disse: “ninguém perguntou a Scholz se os alemães querem essa implantação ou não”. “Ele novamente, simplório, quando a notícia saiu, disse: ‘Congratulo-me com a decisão dos EUA de implantar os mísseis na Alemanha’ … ele não escondeu o fato de que a decisão era americana”, afirmou o ministro.
Lavrov frisou, ainda, que a operação russa contra o regime de Kiev tem como objetivo “eliminar ameaças à segurança russa que foram criadas na Ucrânia, [onde] a Otan planejou instalar bases militares, inclusive no Mar de Azov”.
Assim como proteger a população de russos étnicos do Donbass – as repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk -, da perseguição a que foram submetidos pelo regime saído do golpe de 2014 (cuja motivação, sabe hoje, foi a anexação da Ucrânia pela Otan, contra a neutralidade pós-1991).
Em suma, Lavrov afiançou que Washington pintou um alvo nuclear em Berlim e Scholz ainda se regozijou. Pelo menos quando o então governo Reagan fez isso em 1983, tornando cada capital europeia um alvo a dez minutos da guerra nuclear, os alemães foram às ruas contra o desatino e pela retirada dos mísseis dos dois lados do teatro europeu.
PATRULHAS AÉREAS CONJUNTAS
Nas festividades da Marinha russa de domingo, o presidente Putin também se referiu aos recentes voos de patrulha da Rússia no espaço aéreo internacional, que, como apontou, são uma resposta ao aumento da atividade de aeronaves dos EUA perto do espaço aéreo russo e em partes do mundo “sensíveis”.
Na quarta-feira (24), bombardeiros russos e chineses realizaram patrulhas aéreas conjuntas sobre as águas internacionais dos mares de Chukchi e Bering, bem como sobre o Pacífico Norte, e voaram perto da costa do Alasca.
O Pentágono, que anda tentando estender a Otan ao planeta inteiro e não para de realizar provocações nos mares e ares do mundo inteiro, reclamou que foi a primeira vez que aviões bombardeiros chineses com capacidade nuclear voaram dentro da Zona de Identificação de Defesa Aérea do Alasca [embora fora do espaço aéreo internacionalmente reconhecido] e a primeira vez que jatos chineses e russos decolaram da mesma base no nordeste da Rússia.
Em seu discurso em São Petersburgo, Putin observou que a Rússia realiza patrulhas no espaço aéreo internacional desde 2007.
“Esta foi a nossa resposta ao aumento da atividade da aviação estratégica e de reconhecimento dos EUA em regiões do mundo que a Rússia considera sensíveis. Esta medida visa, entre outras coisas, garantir a segurança na região da Ásia-Pacífico”, disse ele, acrescentando que Washington é o culpado por tornar essas patrulhas necessárias.
Após o colapso da União Soviética, a aviação estratégica russa deixou de realizar patrulhas aéreas longe das fronteiras russas. “A Rússia acreditava que não havia mais necessidade disso – o mundo mudou, a Guerra Fria terminou. No entanto, os EUA não retribuíram nosso gesto de boa vontade e continuaram patrulhando nossas fronteiras.”
Só em 2007, a Rússia retomou tais patrulhas perto do espaço aéreo norte-americano. Em várias ocasiões nos últimos anos a Rússia enviou jatos para escoltar caças e bombardeiros dos estados membros da Otan para longe de suas fronteiras.
Como aliados estratégicos, a Rússia e a China desde 2019 passaram a realizar patrulhas conjuntas na região da Ásia-Pacífico. O exercício que ocorreu na semana passada foi a oitava patrulha estratégica aérea conjunta realizada pelas duas nações, de acordo com o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Zhang Xiaogang.