“A fábrica tem bons balanços, exporta e é bem-sucedida, não sei qual o cálculo por trás dessa decisão”, questionou o ex-oficial da marinha Robinson Farinazzo
O comandante Robinson Farinazzo, ex-capitão de Fragata e editor do canal “Arte da Guerra”, condenou a decisão de privatização da fábrica de munições da Marinha do Brasil. “O Brasil não está olhando para o contexto internacional quando decide abrir mão de fábricas de munições ou da Avibrás”, disse o especialista militar.
Segundo o site de notícias Sputnik, nesta quarta-feira (31), a empresa vinculada à Marinha do Brasil Emgeprom confirmou a sua intenção de conceder uma das principais fábricas de munição brasileiras ao capital estrangeiro. A concessão da Fábrica de Munição Almirante Jurandyr da Costa Müller de Campos foi ofertada a empresas de Reino Unido, Suécia, Itália e Israel durante evento realizado no Itaim, em São Paulo.
“Estamos em um momento tenso geopoliticamente, com as principais potências se rearmando até os dentes. E o Brasil, ao contrário, abrindo mão das suas capacidades militares e tecnológicas”, apontou o oficial da reserva da Marinha Brasileira, em entrevista ao Sputnik.
“Vemos os EUA modernizando suas fábricas de munição a toque de caixa, vemos as Forças Armadas de Israel e Ucrânia desesperadas atrás de munições no mercado mundial. E o Brasil, por incrível que pareça, se desfazendo da sua fábrica”, considerou militar.
“A fábrica tem bons balanços, exporta e é bem-sucedida, não sei qual o cálculo por trás dessa decisão”, questionou Farinazzo. “A verdade é que não há nenhuma política para priorizar as compras nacionais”, lamentou o militar. “Este é um problema antigo, uma vez que o rearmamento das Forças Armadas deveria estar atrelado ao desenvolvimento da indústria nacional”, argumentou.
O aumento da presença estrangeira nas indústrias de defesa nacionais amplia o já considerável nível de dependência externa que as Forças Armadas enfrentam, particularmente no setor de aviação. Nesse sentido, a redução do comprometimento do Executivo com políticas de conteúdo nacional e desenvolvimento tecnológico nacional preocupa.
“Falemos claramente: outros países não repassarão tecnologia militar de ponta para o Brasil”, considerou Farinazzo. “Ninguém vai te ensinar a fazer procedimentos sensíveis na área militar. O Brasil é quem precisa desenvolver suas capacidades e autonomia”, destacou o militar.
“Já vemos os EUA fomentando a dependência das Forças Armadas de países como Argentina e Colômbia, vemos as pressões sobre o Peru e Equador. O Brasil precisa se preparar para isso e buscar um caminho para garantir a sua independência”, alertou.
O pesquisador do Núcleo de Avaliação da Conjuntura da Escola de Guerra Naval, Rafael Esteves Gomes também criticou a decisão. “Infelizmente, a privatização de fábricas de defesa não é novidade no Brasil. Existe uma ideia de que toda empresa que não dá lucro está dando prejuízo ao Estado brasileiro”, afirmou.
Apesar dos problemas estruturais, Gomes acredita que a sociedade civil organizada poderá agir contra a concessão da Fábrica Müller de Campos ao capital estrangeiro. O especialista cita como exemplo a recente resistência à venda da Avibrás no Congresso Nacional para sustentar sua convicção de que a decisão possa ser revertida.
Perfeita a colocação Farinazzo, temos quê estimular o poder industrial militar.
Não entendo, saímos de uma gestão de 4 anos de governo militar, por várias vezes escutamos ” minhas forças armadas” e nada foi feito para defender este crescimento !!!!