“Os cortes na Defesa são preocupantes”, adverte o ex-oficial da Marinha Brasileira, comandante Robinson Farinazzo, ao comentar, em entrevista ao HP, a tesourada de R$ 676 milhões determinadas por Fernando Haddad no orçamento da Forças Armadas
O ex-oficial da Marinha Brasileira, comandante Robinson Farinazzo, advertiu nesta quinta-feira (8), em entrevista ao HP, sobre a gravidade dos cortes no orçamento das Forças Armadas e afirmou que o Brasil não pode enfraquecer suas defesas neste momento em que a humanidade “caminha para conflitos internacionais”.
“Os cortes na Defesa são preocupantes”, diz o militar, sobre a retenção das verbas. “Sabemos que já era esperado”, acrescentou. “O comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, já havia alertado o país de que nós vamos perder vários navios nos próximos anos e essa situação é bastante intrigante face ao fato de que a humanidade caminha para um novo conflito internacional. A situação internacional é bastante grave”, afirmou Farinazzo.
O almirante Olsen citou, em audiência pública pública ocorrida na Câmara dos Deputados em março deste ano, que terá que desativar 40% dos equipamentos de defesa até 2028 por “imposição e por restrições severas de orçamento que impedem a devida manutenção ou reaparelhamento”.
“Nós não podemos negligenciar a defesa. […] Em uma ameaça iminente, se nós não tivermos por trás um hard power, se nós não tivermos por trás forças com capacidade dissuasória, nós seremos alcançados”, acrescentou o militar. O chefe da Marinha apontou, ainda, que há comprometimento na defesa nacional, redução nas atividades de segurança marítima e dificuldade para atender a diplomacia naval e prestar apoio a ações em estados.
“É inadmissível uma Força que não tenha capacidade de causar dano, e capacidade de causar dano exige treinamento, exige munição, exige óleo, exige manutenção de seus meios. Exatamente em função daquele quadro orçamentário, nós temos perdido capacidade de atuação em todo aquele espaço”, disse.
A equipe econômica do governo anunciou nos últimos dias cortes nas verbas destinadas à pasta da Defesa que chegam a R$ 676 milhões. O almirante Olsen já havia alertado para os prejuízos à defesa nacional causados pelas reduções orçamentárias. De acordo com ele, a Marinha perdeu R$ 1 bilhão de forma gradual desde 2017, quando implantado o sistema de teto de gastos como política fiscal. A cifra representa 72% das despesas da Força.
Farinazzo destaca, também, que, além de enfraquecer a defesa nacional, os cortes podem afetar uma importante função da Marinha, que é manter abertas as nossas linhas de exportação e importação no Atlântico Sul. “A Marinha do Brasil é fundamental para manter abertas as nossas linhas de exportação e importação non Atlântico Sul”, disse o militar. “O Brasil não pode prescindir de uma Marinha poderosa e nem de uma aviação de longo alcance, aviação de patrulha de longo alcance”, acrescentou.
O ex-oficial da Marinha e editor do canal “Arte da Guerra” defende que “é necessário o surgimento de lideranças políticas que entendam esses desafios e carreiem recursos para a revitalização das nossas Forças Armadas”. Farinazzo destaca, principalmente, a atenção com o reforço no quesito de fortalecer a Defesa Nacional. Para ele, as perdas de navios apontadas pelo comandante da Marinha colocam o Brasil numa situação grave.
“Para alterar esse quadro, defende Farinazzo, “nós precisamos sensibilizar o Congresso Nacional e a sociedade com relação ao destino do Brasil. É necessária uma integração maior entre Forças Armadas o Congresso e sociedade brasileira. Mesmo sabendo que, diante de outros desafios que aguardam o Brasil, seja difícil priorizar essas necessidades”, observa o militar.
Segundo ele, as Forças Armadas defendem que o governo estude possibilidades “para permitir a elevação gradual do orçamento da Defesa”. E acrescentou: “é determinante para que as Forças Armadas atinjam a capacidade operacional plena. Ressalta-se, também, que os investimentos em defesa são intensivos na geração de empregos e no desenvolvimento de ciência e tecnologia, trazendo inúmeros benefícios sociais para o Brasil”, concluiu.
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