Um adolescente de 16 anos morreu com uma bala no peito e outros sete nicaraguenses ficaram feridos durante ataque de policiais e paramilitares à marcha cívica realizada por familiares das vítimas do regime de Daniel Ortega, neste domingo, em Manágua. Muitas mulheres, idosas e crianças tiveram de se jogar no chão para escapar dos tiros, enquanto se escutavam rajadas. Entre os feridos há três jornalistas: Inti Ocón, da AFP; Oswaldo Rivas, da Reuters; e Winston Potosme, do programa Café Com Voz.
Conforme denunciaram os pais de Matt Andrés Romero, abatido com um tiro de fuzil AK-47, o jovem havia saído de casa para se somar à multidão “com um pano azul e branco atado ao pescoço e enaltecer as cores do país”. Na mochila o estudante carregava uma garrafa de água e uma bandeira da Nicarágua, que ficou estirada sobre o piso.
“Seu único delito foi participar da marcha e levantar a bandeira da Nicarágua, querer liberdade para o país. Este é o pecado: ser jovem e fazer brilhar nossas cores”, declarou uma de suas tias. Cinica, a Polícia alegou que o adolescente morreu “como consequência do fogo cruzado”.
“Como família, rechaçamos categoricamente a versão da Polícia. Sabemos que quem matou Matt foram as turbas do governo, todo mundo viu”, rebateu a tia.
O jornal nicaraguense Novo Diário conseguiu inclusive fotografar um dos encapuzados que sacou a arma e disparou contra os manifestantes. O paramilitar se encontrava em um veículo de placa M142264, ficando impune.
De acordo com os organizadores, o assédio à multidão ocorreu do princípio ao fim, quando houve a dispersão com gases lacrimogêneos, balas de fuzil e de borracha por motorizados, armados e encapuzados .
“Foram os paramilitares, que me feriram no pescoço, próximo ao ombro”, declarou Bryan García, adolescente de 15 anos, atingido por uma bala de borracha. “Quem nos atacou foram as turbas e os anti-motins do governo”, acrescentou outro homem, que se refugiou na igreja, logo cercada por policiais.
Desde o início da jornada cívica iniciada no dia 18 de abril – após a repressão a uma marcha contra reforma da Previdência anunciada pelo governo -, o presidente Ortega violentou sucessivos direitos e garantias constitucionais, condena inúmeras entidades sociais e organizações de direitos humanos, denunciando o “terrorismo de Estado” que já custou centenas de vidas e milhares de feridos, presos e desaparecidos.