Escola abrigava palestinos deslocados. Médicos disseram que caminharam “entre os corpos e pedaços das vítimas para tentar localizar feridos e sobreviventes”
Um ataque aéreo israelense a um complexo escolar em Gaza neste sábado (10) matou uma centena de palestinos que se abrigavam no local, segundo autoridades de saúde. Os assassinos de Netanyahu admitiram que o alvo era a escola Taba´een, na cidade de Gaza, sob o pretexto de sempre, de que havia membros do Hamas na escola.
O ataque ocorreu sem aviso prévio, no início da manhã, antes do nascer do sol, enquanto as pessoas rezavam em uma mesquita dentro da escola, segundo o gabinete de imprensa do Hamas. Segundo Mahmoud Bassal, porta-voz dos socorristas da Defesa Civil que operam sob o governo local administrado pelo Hamas, três mísseis atingiram o prédio de dois andares — o primeiro andar abriga a mesquita e o segundo a escola — onde cerca de 6.000 pessoas deslocadas estavam se abrigando da guerra.
Os terroristas a mando de Netanyahu foram cínicos em sua descrição do morticínio: “A Força Aérea de Israel atingiu com precisão terroristas do Hamas operando dentro de um centro de comando e controle do Hamas embutido na escola Al-Taba’een e localizado ao lado de uma mesquita em Daraj Tuffah, que serve como abrigo para os residentes da Cidade de Gaza.”
Ainda de acordo com os criminosos de Tel Aviv, antes do ataque “várias medidas foram tomadas para mitigar o risco de dano a civis, incluindo o uso de munições precisas, vigilância aérea e informações de inteligência.” O resultado das “medidas” de cuidado tomadas por eles foram mais de cem mortos, num quadro descrito como um “massacre sangrento”. Os médicos locais estão “lutando para lidar” com as vítimas do ataque à escola, muitas, segundo os relatos “em pedaços”.
Um dia antes do ataque criminoso, o governo dos EUA anunciou que dará ao regime de Israel mais US $ 3,5 bilhões para gastar em armas e equipamentos militares. Pelo menos 39.790 pessoas foram mortas e 92.002 feridas na guerra de Israel em Gaza. A agência da ONU para refugiados palestinos diz que os militares israelenses forçaram entre 60.000 e 70.000 pessoas a evacuar de Khan Younis, no sul de Gaza, em direção à área já densamente lotada de al-Mawasi.
O Hamas disse em seu comunicado que as alegações de Israel de que a escola está sendo usada como centro de comando do grupo são “desculpas para atacar civis, escolas, hospitais e tendas de refugiados, todos os quais são falsos pretextos e expõem mentiras para justificar seus crimes”. “Pedimos aos nossos países árabes e islâmicos e à comunidade internacional que cumpram suas responsabilidades e tomem medidas urgentes para parar esses massacres e deter a escalada da agressão sionista contra nosso povo e cidadãos indefesos”, disse o comunicado.
As reações ao ataque foram imediatas. O Catar chamou o ataque de “crime brutal contra civis indefesos”. O Fatah, a facção palestina rival que no mês passado assinou um acordo de “unidade nacional” com o Hamas, disse que o ataque foi um “massacre hediondo e sangrento” que representa o “auge do terrorismo e da criminalidade”.
“Cometer esses massacres confirma, sem sombra de dúvida, seus esforços para exterminar nosso povo por meio da política de assassinatos cumulativos e massacres em massa que fazem tremer as consciências vivas”, disse em um comunicado.
O Secretário de Relações Exteriores britânico se disse horrorizado com o ataque israelense à escola em Gaza. David Lammy diz que está “chocado com o ataque militar israelense à escola al-Tabeen e a trágica perda de vidas” em um post sobre X. Anteriormente, Lammy havia usado X para expressar sua profunda preocupação com a decisão de Israel de revogar o status de oito diplomatas noruegueses que serviam ao território palestino ocupado.
A porta-voz do Crescente Vermelho Palestino, Nebal Farsakh, disse que os paramédicos em Gaza ficaram “chocados” e “horrorizados” com as cenas na escola al-Tabin. Falando de Ramallah, ela disse à Al Jazeera que havia tantos corpos que os médicos tiveram dificuldade em organizar como começar a triagem e ajudar os feridos.
“Eles tiveram que caminhar entre os corpos e pedaços das vítimas para tentar localizar ferimentos e tentar encontrar sobreviventes”, disse ela. “Então eles tiveram que levar esses sobreviventes para hospitais que já estão com excesso de capacidade, onde médicos e enfermeiras estão exaustos e não há medicamentos ou suprimentos médicos suficientes para tratar esse número de ferimentos”, afirmou a porta-voz.
Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, disse que o objetivo do governo israelense era frustrar as negociações de cessar-fogo e continuar a guerra.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Nasser Kanaani, disse que Israel mostrou novamente que não está comprometido com a lei internacional ao condenar o ataque como genocídio e crime de guerra. Ele pediu ação imediata do Conselho de Segurança da ONU e disse que as ações de Israel em Gaza são uma ameaça à paz e à segurança internacionais.
O Ministério das Relações Exteriores disse que o “assassinato deliberado” de palestinos desarmados por Israel mostra que falta vontade política para acabar com a guerra em Gaza. Em um comunicado citado pela agência estatal de notícias do Oriente Médio, acusou Israel de cometer repetidamente “crimes em grande escala” contra “civis desarmados” sempre que há uma pressão internacional por um cessar-fogo.
O ataque de Israel vai contra “todos os valores humanitários” e é “uma indicação da tentativa do governo israelense de bloquear os esforços [de paz] e adiá-los”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Jordânia. Acrescentou que “a ausência de uma posição internacional decisiva para conter a agressão israelense e obrigá-la a respeitar o direito internacional e parar sua agressão contra Gaza” estava resultando em “assassinatos, mortes e catástrofes humanas sem precedentes”.
O Ministério das Relações Exteriores da Arabia Saudita denunciou o ataque nos “termos mais fortes” e enfatizou que “massacres em massa” no enclave “precisam parar”. Gaza está “passando por uma catástrofe humanitária sem precedentes devido às violações contínuas do direito internacional”, disse o ministério.
“O ataque ofereceu evidências claras do desrespeito do governo israelense pelo direito internacional humanitário e sua intenção de prolongar a guerra e expandir seu escopo, disse o Ministério das Relações Exteriores do Líbano. Ele pediu à comunidade internacional que adote uma posição unificada e enfatizou que parar a guerra em Gaza é necessário para evitar uma escalada na região.
“Israel cometeu um novo crime contra a humanidade ao massacrar mais de cem civis que se refugiaram em uma escola”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Turquia. Em um comunicado, também acusou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de querer “sabotar as negociações de cessar-fogo”.