Para Sintaema, antecipação da receita após base governista ter aprovado privatização da Sabesp na Câmara Municipal comprova interesses escusos na entrega da estatal
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já começa a retribuir o empenho do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e dos vereadores da base aliada na aprovação do projeto de privatização da Sabesp. Ele anunciou que vai antecipar recursos dos cofres da companhia de saneamento para a Prefeitura de São Paulo. O dinheiro chega em boa hora, diga-se, para Nunes, hoje candidato à reeleição para prefeito. A previsão é que o repasse, que só seria liberado entre 2025 e 2029, caia na conta da Prefeitura ainda essa semana. As informações foram publicadas pelo Rádio Jovem Pan, nesta segunda (19).
De acordo com o texto do projeto aprovado pela Câmara, a partir da conclusão da privatização – que foi no dia 22 de julho -, o governo do Estado teria 30 dias para sacar o montante e repassar para a Prefeitura paulistana.
“Uma farra descarada com o dinheiro público”, criticou a Diretoria do Sintaema, sindicato que representa os trabalhadores do setor de saneamento e meio ambiente no Estado de SP. “Como sempre denunciamos a privatização era e é um crime. O processo de votação na cidade de São Paulo, além da falta de debate, nunca teve a ver com o avanço do direito ao saneamento da população”, continuou a entidade.
Para o Sintaema, as audiências públicas que deveriam ter acontecido durante a passagem do projeto de venda da Sabesp na Câmara Municipal paulistana deixaram de acontecer para evitar que o conluio entre o prefeito e o governador bolsonaristas fosse revelado. “E mais, a ausência das audiências era juntamente para esconder esse tipo de acordo em um ano eleitoral. Um claro toma lá, dá cá”, denuncia a direção do Sindicato.
A Sabesp, maior empresa de saneamento da América Latina, foi comprada pela Equatorial, que se tornou o investidor de referência, ficando com 15% das ações por cerca de R$ 6,9 bilhões, quantia muito abaixo do valor real da Sabesp à época, segundo especialistas. A Equatorial atua na distribuição de energia e é considerada a pior do setor, segundo ranking da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Além disso, sem histórico na área do saneamento.
Baixo desempenho, lucros altos: a empresa obteve lucro líquido de R$ 1,21 bilhão apenas no segundo trimestre, crescimento de 62,6% ano a ano. “Sabemos que a Sabesp é uma empresa lucrativa. E foi justamente por isso que Tarcísio de Freitas entregou a Sabesp a preço de banana para a Equatorial, que com esse resultado já recupera uma boa fatia da pechincha que pagou pelas ações da empresa”, denuncia o Sintaema. “E não esqueçamos que a Equatorial já computou lucros gigantescos com a compra das ações bem abaixo do preço de mercado”, ressalta a entidade.
Durante a cerimônia que selou a entrega do Sabesp aos sabores do mercado na Bolsa de Valores de SP no mês passado, Tarcísio disse que “Não faltou ousadia, não faltou coragem” para o “feito” e destacou a superação de “desafios” judiciais. O entreguista, porém, ainda terá que bater – e quebrar – alguns martelos para cantar vantagem. A privatização da Sabesp é alvo de duas ações junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) protocoladas pelos partidos PT, PCdoB, PSOL, Rede e PV, questionando o processo.
“O Sintaema reitera que segue em luta na Justiça para denunciar todos os crimes que ocorreram com a privatização da Sabesp e garantir que o patrimônio público não seja dilapidado pelo governador Tarcísio e o prefeito Nunes”, assegurou a entidade. Pelas redes, internautas criticaram o repasse antecipado de dinheiro para as contas da Prefeitura. “2 bilhões, cara. Nunes tá com a grana”, reagiu um usuário; “Com todo este dinheiro pago pelo povo, deveríamos ter uma água de melhor qualidade”, defendeu outro; “Se o dinheiro não sumir neste finalzinho de mandato”, alertou outro internauta.
