Gustavo Pimenta, atual vice-presidente de finanças e ex-funcionário da americana AES por 12 anos, assume em 2025
O Conselho de Administração da Vale elegeu por unanimidade Gustavo Pimenta, atual vice-presidente de Finanças desde 2021, para ocupar a posição de presidente da empresa a partir de 2025.
Gustavo Pimenta irá substituir Eduardo Bartolomeu que responde pela companhia desde a criminosa tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais, que completou 5 anos e meio em julho. Por conta do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, decorrente do descaso da Vale, 272 pessoas morreram.
Outra tragédia, a de Mariana (MG), quando a barragem da Samarco, empresa da anglo-australiana BHP, sócia da Vale, se rompeu causando 19 mortes e uma das maiores tragédias socioambientais do país, se arrasta desde 2015. A empresa quer pagar menos de 30% do acordado para indenização das famílias vitimadas, a Vale montou uma fundação para fazer casas e não fez. Ninguém foi ainda condenado ou punido.
Antes de juntar-se à Vale, Gustavo Pimenta foi executivo da empresa norte-americana AES por 12 anos e atuou como vice-presidente de Estratégia e M&A no Citigroup em Nova Iorque (EUA).
Pimenta diz que vai intensificar “diálogo com todos stakeholders” (partes envolvidas), priorizando a “segurança das pessoas, das operações e do meio ambiente”. “Tenho certeza de que seguiremos avançando em nossa missão, com foco em geração e distribuição de valor, elevando a Vale a patamares ainda mais altos”.
A mesma lógica que levou às tragédias de Mariana e Brumadinho vai se repetir na nova administração. Enquanto as famílias das vítimas das tragédias clamam por Justiça, a Vale registrou lucro líquido de R$ 14,59 bilhões (US$ 2,76 bilhões) no 2º trimestre de 2024. O resultado foi 210% maior que o do mesmo período de 2023, quando lucrou R$ 4,57 bilhões.
Com o resultado do segundo trimestre, a Vale divulgou a distribuição de US$ 1,6 bilhão em JCP (juros sobre capital próprio) a serem pagos em setembro de 2024, de acordo com sua política de dividendos mínimos.
Pelo curriculum e nesta declaração sobre sua missão na Vale, Pimenta não deixa dúvidas que sua prioridade é distribuir dividendos. Essa visão que prevalece na mentalidade financista, cuja fala do presidente Lula, em julho passado, deixou claro quais os prejuízos que pode ter e vem acontecendo em muitos casos. Ao invés de pensar em crescer, em contribuir para o desenvolvimento da nação, a empresa fica subordinada ao interesse particular, dos mal denominados investidores.
De acordo com Lula, os gestores da Vale estão na empresa mais “para vende dividendos e ativos” do que para “construir alguma coisa grande”. O presidente Lula atribuiu o crescimento da mineradora nos últimos anos apenas ao aumento de demanda da China pelo aço brasileiro.
“A China produzia menos aço do que o Brasil, que produz 35 milhões de toneladas. A China hoje produz 1 bilhão e o Brasil continua com 35 milhões. Então, a Vale cresceu porque a China cresceu. Não foi porque alguém inventou que a Vale ia pesquisar. É porque a China compra tudo aqui e da Austrália”, disse Lula.
“A Vale era um motivo de orgulho extraordinário porque era uma empresa muito importante quando era pública. Privatizaram a Vale. Alguém sabe quem é dono da Vale hoje? Ninguém sabe. Hoje é pulverizada por centenas de fundos. Se quiser falar com a Vale não tem um dono. A coisa é tão descabida que até hoje não pagou a indenização de Mariana e Brumadinho com o estouro das duas barragens. Quando você vai conversar, ninguém manda, porque quem manda mais tem só 5%”, disse Lula.
A eleição de Pimenta foi por unanimidade no Conselho de Administração, inclusive com os votos do governo que têm ações na Vale privatizada e tentou de alguma forma interferir no processo de indicação do novo presidente. Para o governo, a Vale deve “prestar contas ao país, investir e gerar empregos”, mas a reação dos acionistas privados foi imediata, encaminhando, segundo o Valor Econômico, à consultoria internacional Russel Reynolds, sediada nos Estados Unidos, a indicação de nomes para a presidência da mineradora. Na lista, 15 nomes “externos” foram apresentados, com a possibilidade de ser incluído um nome “interno”.
Gustavo Pimenta foi o nome “interno” que compôs a lista tríplice apresentada ao Conselho, juntamente com dois nomes da Anglo American: Ruben Fernandes, diretor da empresa para as Américas, e Marcelo Bastos, conselheiro da múlti britânica.