Desde o início desta terça-feira (27), circula nas redes sociais e portais de notícias uma pesquisa divulgada pelo Instituto Veritá, de Uberlândia (MG), apresentando o criminoso Pablo Marçal como líder na disputa à Prefeitura da cidade de São Paulo.
Segundo o instituto, que divulgou os resultados em seu perfil no Instagram, o candidato do PRTB, que já foi condenado a 4 anos de prisão por associação criminosa para furto e é acusado de manter relações com aliados da facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC, desponta como primeiro colocado com quase 9 pontos de vantagem para o segundo colocado, Guilherme Boulos, e 15 pontos para o terceiro, Ricardo Nunes.
Além da extensa ficha criminal do candidato coach, não faltam suspeitas sobre a idoneidade dos dados e as condições de divulgação da pesquisa. Muito antes da divulgação oficial pelo instituto, as redes de propagação de fake news vinculadas a Pablo Marçal já disparavam imagens com a suspeita liderança.
Segundo reportagem do dia 22 de agosto do “Estadão Verifica”, do jornal “Estado de S. Paulo”, as postagens com imagens manipuladas de uma pesquisa realizada pelo próprio Instituto Veritá em julho, substituíam a colocação do líder Guilherme Boulos, pela figura de Marçal.
“Na realidade, quem aparecia com 28,9% das intenções de voto era o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Marçal aparecia em terceiro lugar, com 14%, atrás do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Apenas em 27 de agosto, Marçal apareceu na liderança de uma pesquisa do instituto, com 30,9%”, aponta o Estadão Verifica.
“Postagens nas redes sociais, contudo, manipularam a imagem de divulgação para inverter as posições de Boulos e Marçal. As publicações que colocam o ex-coach na liderança da corrida eleitoral acumulam mais de 200 mil visualizações no X (antigo Twitter) e TikTok”, continua.
Mas, nesta terça-feira (27), o Veritá divulgou a pesquisa ampliando a vantagem de Marçal com base nos dados que tinham sido manipulados nas redes anteriormente.
O levantamento mostrou Pablo Marçal com 30,9% das intenções de voto, seguido de Boulos, com 21,6%. Nunes apareceu em terceiro lugar, com 14,2%. Segundo o instituto, a pesquisa foi realizada entre os dias 22 e 26 de agosto, com a participação de 3.020 entrevistados. O levantamento está registrado na Justiça Eleitoral sob o número SP-02725/2024.
POLÊMICAS
Fundado em 1995, o Instituto Veritá se apresenta como instituto de pesquisas mercadológicas, governamentais e eleitorais. Entretanto, apesar do nome remeter à verdade, a reputação do Veritá passa bem longe disso.
Acusações de favorecimento de candidaturas em suas pesquisas são amplamente conhecidas. Duas situações específicas mostram como o instituto pode beneficiar os candidatos de sua preferência.
Em 2022, na disputa entre o então candidato Lula contra o genocida Jair Bolsonaro, o Instituto Veritá destoou de todos os demais ao registrar uma vantagem para o então presidente.
O levantamento mostrava Bolsonaro com 51,2% dos votos válidos, enquanto Lula aparecia com 48,8%. “Eu não acredito em pesquisa, mas esse tipo de pesquisa (do Veritá) é o que mais tem acertado”, disse Bolsonaro à rádio Tupi do Rio de Janeiro.
AÉCIO
Em 2014, a situação foi ainda pior. Após o primeiro turno da eleição presidencial, o PSDB divulgou uma pesquisa do Veritá apontando uma vantagem do candidato Aécio Neves contra a candidata Dilma Rousseff por mais de 10 pontos de diferença.
Para justificar a diferença entre os resultados de sua pesquisa e o resultado das urnas, o dono do Veritá, Adriano Silvoni e o estatístico responsável pelas pesquisas, Leonard de Assis, acusaram o PSDB de divulgar os dados de Minas Gerais, onde Aécio teria a vantagem, como resultado nacional.
Segundo eles, uma nova pesquisa que seria divulgada na véspera da eleição, apontaria a inversão das posições. Ela, no entanto, não foi divulgada devido à pressão de Aécio.
Leonard de Assis confirmou que houve pressão externa sobre a empresa para não revelar vantagem da presidente. Ele revelou no Twitter que Dilma estaria à frente, ao contrário dos levantamentos anteriores. Leonard ainda afirmava que seu sócio estaria “recebendo pressão” para divulgar resultado diferente. “Não sei se ele resistiria”, disse no Twitter.