Não é de se admirar que a economia esteja mergulhada no fundo de uma depressão. Descontada a inflação projetada, é a terceira maior taxa de juros real do mundo (3,3%), perdendo apenas para a Turquia e a Rússia. Com a redução da taxa Selic em 0,75 ponto percentual, a taxa nominal foi de 8,25% para 7,5%.
A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de reduzir a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, de 8,25% para 7,5% ao ano, representa muito pouco para uma economia que está agonizando como a brasileira. O país está em recessão desde o segundo semestre de 2014, tendo fechado em 0,5% o PIB (Produto Interno Bruto) naquele ano. Desabou mais 3,8% em 2015 e em 2016 caiu mais 3,6%, com previsões para este ano de cerca de 0,3% de crescimento da economia, ou praticamente zero.
Ou seja, um desastre total. Manter os juros reais – descontada a inflação projetada de 12 meses – em 3,3%, a terceira maior taxa de juros do mundo, perdendo apenas para a Turquia e a Rússia, num quadro como este, beira a uma atitude criminosa. É como se dissesse que, em vez de dar dez facadas, agora o Banco Central está dando apenas sete facadas na economia. A produção dentro do país segue estrangulada e inviabilizada por este juros e por uma onda importacionista estimulada exatamente por juros abaixo de zero no exterior e um câmbio extremamente favorável às compras fora.
A partir de abril de 2013, ainda no governo Dilma, a taxa Selic saiu de 7,25% ao ano, para chegar a 14,25% ao ano em julho de 2015. Com essa decisão tresloucada, o país mergulhou no abismo. O desemprego começou a subir para, logo em seguida, explodir. O Brasil inteiro se sentiu traído pelo governo, que reagiu apresentando o Chicago Boy Joaquim Levy como solução. O que veio foi mais recessão e mais arrocho. Quatorze milhões de trabalhadores perderam o seu emprego. Um verdadeiro tsunami econômico.
Somente em outubro do ano passado, o Copom começou a correr, de forma muita tímida, atrás do prejuízo monumental causado por esta politica. Esta timidez, é óbvio, não poderia evitar, e não evitou o desastre. Os juros nominais caíam, mas os juros reais, que é o que interessa, se mantinham nas alturas.
O pretexto para essa política de manter juros lunáticos seria uma suposta luta contra a inflação. Pura balela. Todos eles sabem que a inflação no Brasil, atualmente, e quase sempre, não é de demanda. Não há excesso de demanda que precisa ser contida. Pelo contrário. A economia está em depressão. Manter os juros reais em 3,3% numa situação como esta só aumenta os custos de produção e aprofunda a recessão.
E tudo isso é mais grave ainda quando o mundo está praticando taxas negativas. Esta justificativa absurda de combater o excesso de demanda, parece, portanto, coisa de lunáticos. Mas de lunáticos, podem ter certeza, eles não têm nada. O que eles querem mesmo é manter os lucros estratosféricos dos bancos e demais especuladores (vide lucros recordes da banca este ano).