A Argentina parou na terça-feira, 25, na mais massiva e contundente das quatro greves gerais já ocorridas desde a posse de Macri. As reivindicações de milhões de trabalhadores que atenderam ao chamado da Confederação Geral do Trabalho, CGT, das duas CTA’s, a dos Trabalhadores e a Autônoma, e dos movimentos sociais incluem a reabertura das negociações coletivas para barrar a queda desabalada dos salários, o fim das demissões e a declaração da emergência alimentar, entre outras ações para debelar a crise econômica que se acirrou nos últimos meses.
Os dirigentes sindicais presentes mostraram a gravidade da situação do país, lembrando o aumento constante da pobreza, a inflação que disparou destruindo o salário e o consumo interno, a especulação financeira, a devastação da indústria e das empresas, o corte de impostos para os setores mais ricos e o incremento das taxas aos trabalhadores, os dos ‘tarifaços’ que elevaram excessivamente as contas de luz, água e gás cortando ainda mais o poder aquisitivo da população, além do total desconhecimento do Congresso, impondo as medidas por decreto.
Os líderes dos trabalhadores denunciaram também a abdicação da soberania em favor do Fundo Monetário Internacional, FMI, e de outros organismos financeiros externos; a entrega se setores do território e um perigoso início de ocupação militar estrangeira. “É a radiografia de um país assaltado”, afirmou o dirigente da CTA dos Trabalhadores, Hugo Yasky, em coletiva de imprensa, no Sindicato dos Caminhoneiros. “O FMI vinha pedindo um sinal de apoio à política de ajuste e o sinal é muito forte: hoje não teve uma só atividade no país”, acrescentou.
Enquanto o país repudiava o governo como há tempos não se via, e manifestações que, como a de segunda-feira, 24, continuavam em províncias como Mendoza e Santa Fé, Macri dançava na noite de Nova Iorque, logo após participar da Assembleia Geral da ONU. Ao jantar com a chefe do FMI, Christine Lagarde, com quem disse que começou “uma grande relação” nos últimos meses, declarou que espera que todos os argentinos se “apaixonem” por ela.
O secretário adjunto do Sindicato dos Caminhoneiros, Pablo Moyano, disse que “aquilo que dá mais raiva é ver Macri dançando com seus mandantes: quando há uma greve nacional ele responde dançando com o FMI”. Frisou que estava claro para quem quiser entender que a greve geral não era só contra Macri, mas contra o Fundo Monetário, e com tudo isso ficou claro quem está mandando no país. Acrescentou que lamentavelmente a entrega de nossa soberania vai ser paga pelas gerações presentes e futuras, porque vão a hipotecar o país.
Héctor Daer, um dos membros do triunvirato da CGT, declarou que a greve teve como objetivo “uma mudança de rumo urgente” por parte do governo. “E se não mudam teremos que seguir adiante com a luta. E, com certeza, a principal saída disto é política porque há que buscar uma alternativa para as eleições e depois governar com um acordo entre os setores que pensam a Argentina e sair desse quadro insustentável em que vão nos deixar”, assegurou .
As duas CTA’s, a CGT e a Frente Sindical para o Modelo Nacional (FSMN) realizaram um “balanço altamente positivo” da paralisação nacional e concordaram em assinalar a contundência da “medida de força”. Manifestaram ainda satisfação com “a organização, unidade e espírito de superação das diferenças que existem no movimento”.
Desde as 0 horas da terça-feira, 25, o transporte público e privado de passageiros parou, assim como o transporte de mercadorias, o atendimento em dependências públicas, as aulas nas escolas e universidades, a abertura de lojas e a atividade dos bancos. Também não houve coleta de lixo, nem fornecimento de combustíveis.
Além disso, a colocação de Macri na ONU foi repudiada, ao ser considerada como o discurso de um presidente que diz aquilo que os Estados Unidos querem ouvir. Não fez nenhuma referencia à crise de seu país, não tocou na renúncia do presidente do Banco Central, Luis Caputo, mas criticou a Venezuela, e anunciou que seu país vai denunciar o governo de Nicolás Maduro na Corte Penal Internacional.
SUSANA LISCHINSKY