“Os sistemas de transmissão e distribuição no Brasil estão fragilizados em decorrência da falta de investimentos em manutenção preventiva e na falta de transparência com que o sistema regulatório está agindo”, afirmou o professor da USP
Mais um apagão de energia elétrica atormentou a vida dos brasileiros neste sábado (31) na Região Sudeste do país. O episódio atingiu em cerca de 20 bairros da capital paulista e mais seis bairros populosos de Guarulhos, na Região Metropolitana da capital, afetando pelo menos 2 milhões de pessoas. Foram quase três horas de interrupção no fornecimento de energia na cidade de São Paulo e mais de duas horas de escuridão em Guarulhos.
Até as 23h de sábado (31) a causa principal, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), foi um desligamento na subestação de Guarulhos, que é de propriedade da Eletrobrás, empresa que foi privatizada durante o governo Bolsonaro. O ONS detalha que “houve interrupção de carga de cerca de 870 MW às 17h31, após o desligamento de todos os equipamentos da subestação Guarulhos.
Para o professor do Instituto de Energia da USP e ex-diretor da Petrobrás, Ildo Sauer, o problema está na falta de supervisão e manutenção das empresas. “Como eu tenho dito, embora a amplitude desse episódio não tenha sido em nível nacional, a frequência com que, em todas as regiões do Brasil, têm ocorrido esses episódios, reforça as constatações anteriores de que os sistemas de transmissão e distribuição no Brasil estão fragilizados e, na nossa leitura, em decorrência da falta de investimentos em manutenção preventiva centrada em confiabilidade e na falta de transparência com que o sistema regulatório está agindo”, afirmou o especialista.
Ildo destacou, na entrevista ao HP, que os órgãos de controle “têm poder muito limitado para obrigar as empresas de transmissão e distribuição a revelar, de forma clara e transparente, para toda a população e para o próprio órgão regulador, o que de fato vem sendo feito em termos de reposição de equipamentos, de manutenção de equipamentos, de ampliação e melhorias locais em relação ao controle, comando e operação dos equipamentos, sejam subestações, transformadores, redes, etc”.
O professor, que é uma das maiores autoridades em energia do país, afirma que, “apesar da limitação regional, Guarulhos e São Paulo, o problema é sistêmico”. “Recentemente tivemos um episódio no Acre e Rondônia. Mais atrás, outros. Fora os episódios do começo do ano em SP e Rio, na distribuição. Naquela ocasião, o diagnóstico que nós fizemos era este. Está ficando patente, com essa sequência de episódios, que o sistema de transmissão e distribuição brasileiros estão extremamente fragilizados, falta transparência, falta clareza e essa situação é extremamente preocupante para o presente e para o futuro do Brasil”.
“Apesar desses episódios serem tratados pelo ONS, pela Aneel, pelo MME e pelas próprias empresas como um fenômeno localizado, eles já há algum tempo deixaram de ser episódios isolados, eles são revelação de uma situação – muito preocupante – que está vinculada à própria lógica com que os contratos de concessão para as empresas de distribuição e para aquelas muitas empresas de transmissão. Esses contratos foram outorgados e dão plena liberdade e autonomia a essas empresas para fazerem a sua própria gestão de pessoal e de equipamentos e de manutenção”, observou Ildo.
“Então”, conclui o professor, “esse quadro de falta de transparência, de falta de ação concreta da Aneel, que não tem informações transparentes a serem compartilhadas com a população. O descontrole sobre todos os sistemas de transmissão, são muitas empresas, e todas as distribuidoras de grande, pequeno e pequeníssimo porte, como cooperativas, são mais 100 no Brasil inteiro, isso tudo é muito preocupante”, adverte o professor, destacando que há que aguardar agora e especificamente saber o que houve neste caso.
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