O apagão ocorrido nesse sábado (31), em São Paulo, atingiu aproximadamente 20 bairros da capital paulista e mais seis de Guarulhos e afetou ao menos 2 milhões de pessoas. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a falha “será objeto de fiscalização para identificação das causas e apuração de responsabilidades”.
Em nota, a Aneel acrescentou que acompanha o processo de recomposição das cargas de responsabilidade do ONS, transmissoras e distribuidoras envolvidas, e está em permanente contato com as equipes das empresas responsáveis.
Vale destacar que o apagão acontece enquanto a Eletrobrás, que foi privatizada em junho de 2022, pelo governo Bolsonaro, realiza um Plano de Demissão Voluntária (PDV), atingindo os funcionários mais experientes e dificultando ainda mais os processos de manutenção do sistema elétrico nacional.
O PDV é dirigido a todos os profissionais que tenham sido admitidos antes de junho de 2022. Segundo a empresa, o Programa “se aplica apenas aos profissionais representados pelas bases sindicais que já aprovaram o novo Acordo Coletivo de Trabalho da Eletrobrás”.
CAPITAL ÀS ESCURAS
Na capital, a falta de energia durou quase três horas, enquanto em Guarulhos, o segundo maior município do estado, a interrupção se estendeu por mais de duas horas.
As causas ainda são apuradas, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Relatos de vários bairros da cidade sem luz foram compartilhados nas redes sociais. São eles: Bela Vista, Jardins, Paraíso, na região central, e Jardim Brasil, Tucuruvi, Pari, Vila Maria, Vila Guilherme, na zona norte. Há informações de falta de energia ainda na Mooca, Tatuapé, São Mateus, Penha, Aricanduva e Belenzinho, na zona leste. Moradores do centro de Guarulhos, na Grande São Paulo, também ficaram sem luz.
O apagão ocorreu às 17h31 devido à falha em uma subestação da Eletrobrás, que fica em Guarulhos. O problema atingiu às redes de distribuição da Enel, segundo o ONS.
A recomposição total da energia somente aconteceu às 19h58, conforme o ONS. “Assim que identificou a situação, o Operador iniciou ação conjunta com os agentes para restabelecer a energia nas regiões. A recuperação do serviço foi sendo concluída por fases. A recomposição da carga iniciou às 17h33. Às 19h37, foi concluída a recomposição das cargas da EDP-SP [Guarulhos] e as 19h58 das cargas da Enel-SP [capital paulista].”
A normalização do serviço na capital paulista também foi confirmada pela Enel. A empresa informou que, após a recomposição de cargas pela empresa transmissora, o fornecimento de energia foi normalizado para todos os clientes que tiveram o serviço afetado.
A falta de energia em Guarulhos também foi solucionada. A EDP, responsável pela distribuição de energia na cidade, disse, em nota, que realizou manobras em seu sistema para reduzir o impacto aos seus clientes e, ao obter a normalização do suprimento externo de energia, garantiu o reestabelecimento de 100% das regiões afetadas às 19h37.
Em função do ocorrido, houve interrupção das cargas da ENEL-SP atendidas pelas subestações Norte e Miguel Reale. O ONS ainda aguarda informações dos agentes para analisar a causa.
A Eletrobras afirmou que vai apurar as causas do desligamento. “A SE Guarulhos foi inteiramente religada e opera normalmente, tendo sido restabelecido o fornecimento ao sistema interligado nacional. Os times técnicos estão no local e as causas do desligamento estão sendo investigadas e serão informadas posteriormente em novo comunicado.”
LULA CRITICOU ENTREGA DO SETOR ELÉTRICO
No último dia 27, o presidente Lula criticou a privatização da Eletrobrás e de demais empresas publicas dos setores estratégicos.
“Eu sonhei que a Eletrobrás seria uma ciosa tão importante quanto a Petrobrás nesse país. Eu sonhei com isso. E é com muita tristeza que eu volto à Presidência da República e encontro a Eletrobrás privatizada. Na verdade, não a privatizaram, cometeram um crime de lesa-pátria contra o povo brasileiro entregando uma empresa dessa magnitude”, apontou o presidente.
“Tem coisas que têm que ser, inexoravelmente, do Estado. É assim na Alemanha, na França, nos Estados Unidos. Muita gente nesse país foi levada pela teoria de que tem que abrir o mercado para todo mundo, que o importante é o livre acesso ao comércio. ‘Livre acesso ao comércio’ quando é para eles venderem os produtos deles aqui dentro. Quando é para a gente vender lá fora a gente sabe a dificuldade que é”, denunciou Lula.
“Nós vivemos momentos no Brasil de muitos sonhos e esperanças. Depois, vivemos momentos de muita incerteza, em que tudo que era bom tinha que ser privatizado, tinha que vir do estrangeiro”, acrescentou Lula, referindo-se a Eletrobrás, à Petrobrás e outras empresas públicas. “Fico sempre lembrando quantas vezes tentaram privatizar a Petrobras”, observou. “Em vez da gente tratar a empresa como orgulho desse país, uma das empresas mais extraordinárias que já foram feitas, em 1953 pelo presidente Getúlio Vargas, desde lá sempre aparece alguém achando que tem que privatizar”, disse Lula.