O presidente da empresa baiana VCA Construtora, Jardel Couto, avalia que juros altos prolongados por mais tempo irão frear o mercado imobiliário.
“Você vai ter uma tomada de dinheiro a um custo maior. Tudo isso vai impactar e vai frear a construção civil”, afirmou o empresário, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, ao ser questionado sobre a possibilidade do Banco Central (BC) elevar a taxa básica de juros (Selic), hoje em 10,5% ao ano.
O empresário afirma que é uma “ilusão” a tese de que a classe de alta renda é mais resiliente aos juros altos e a baixa renda também, por conta dos juros subsidiados do Minha Casa, Minha Vida, por exemplo.
“Esses juros vão impactar todos os perfis de público. É uma ilusão a gente achar que esses juros subsidiados ao consumidor final é capaz de suportar os problemas que os juros altos vão ter para as companhias. O cliente ok, ele está sendo subsidiado, mas a companhia não. Então, ela está pegando juros altos. E isso vai frear o mercado”, criticou.
Segundo Couto, o setor imobiliário trabalhava com a expectativa no início do ano de que os juros iriam recuar, mas agora o setor vislumbra um cenário desafiador. Sobre a “alta renda não sofrer [com os juros elevados], isso também é ilusório. Porque o mercado de alta renda ficou tanto tempo estagnado que agora está aquecido. Isso de certa forma maquia a realidade. Mas até quando ele permanecerá aquecido? É uma dúvida”, disse.
Após seis cortes pingados de 0,5 ponto e um corte de 0,25 p.p. na taxa de juros básica (Selic), entre as reuniões realizadas entre agosto de 2023 e março deste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu em junho interromper o seu ciclo de corte Selic, mantendo a taxa nos absurdos 10,5% ao ano.
Agora, frente à “coesão” que ocorreu nas duas últimas reuniões da diretoria do BC em manter a taxa em níveis escorchantes, o corporativismo financeiro agita seus porta-vozes na mídia para pressionar pelo aumento do nível da Selic, já na próxima reunião do colegiado em setembro.
Economistas do Banco J.P. Morgan, consultados pelo Valor Econômico, projetam que a Selic terá quatro altas de 0,25 ponto percentual pela frente e chegará a 11,5% no início de 2025.
Na prática, a Selic em níveis elevados encarece o custo do crédito ao tomador, reduz o ritmo de atividade econômica ao inibir a demanda por consumo de bens e serviços, e assim, a economia esfria e o desemprego aumenta.
Por outro lado, o gasto do setor público com o pagamento dos juros da dívida aumenta. Segundo dados do próprio BC, em 12 meses até julho deste ano, o setor público gastou R$ 869,8 bilhões (7,73% do PIB) com pagamento de juros – dinheiro que foi extraído de toda sociedade brasileira e entregue aos banqueiros, especuladores e rentistas.
O próximo presidente do BC, Gabriel Galípolo, já declarou que “a alta [dos juros] está na mesa, sim, do Copom”, frente ao “aquecimento” da economia, que pode gerar na opinião do colegiado uma futura pressão inflacionária no país. Na última quarta-feira (28), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que Gabriel Galípolo é o indicado do presidente Lula para presidência do BC.