A União Europeia (UE) criará uma entidade especial para facilitar os negócios com Irã e evitar, desta forma, as sanções impostas pelos EUA após sua retirada do acordo nuclear com Teerã, anunciou a alta representante da UE para Assuntos Exteriores, Federica Mogherini, ao lado do todo sorridente chanceler iraniano Mohammad Zavad Zarif, medida que abre um enorme rombo na estratégia do governo Trump de matar o Irã de fome, proibindo que venda seu petróleo e ameaçando a quem furar seu ditame, que entrará em vigor no dia 5 de novembro.
Mogherini ressaltou que, como atesta a AIEA, o Irã permanece comprometido estreitamente com o acordo nuclear de 2015. À margem da Assembleia Geral da ONU, o secretário de Estado Mike Pompeo se declarou “profundamente decepcionado” pelo anúncio feito pelos demais integrantes do acordo nuclear. “Essa é uma das medidas mais contraproducentes imagináveis para a paz e a segurança regionais”, lamuriou-se.
Esse “Veículo de Propósito Especial (VPS)” concretiza o objetivo declarado pela China, Rússia, França, Alemanha, Reino Unido e União Europeia (UE), que são signatários do acordo com o Irã, em comunicado na sede da ONU em Nova Iorque, de criação de um canal para facilitar os pagamentos das exportações do Irã, incluindo o petróleo, bem como suas importações.
Na prática, as transações com o Irã serão feitas ao largo do SWIFT, o sistema internacional de pagamentos que os EUA manipulam para monopolizar as transações internacionais, banindo ou vetando quem deseja – o que inclusive foi feito anteriormente contra o Irã e chegou a ser ameaçado contra a Rússia. Corporações europeias foram pesadamente multadas por transações que eram perfeitamente legais sob as leis europeias.
Conforme a Bloomberg, com as sanções do Irã de volta, está claro para os europeus (bem como para os chineses e russos) que qualquer transação futura com o Irã deve passar por entidades isoladas do sistema financeiro americano. Europeus, chineses e russos têm debatido intensamente a necessidade de se livrarem da dominação do dólar nas transações internacionais, e o Irã acaba se tornando em um ensaio para isso, bem como a ampliação dos acordos bilaterais para uso das próprias moedas. A matéria da Bloomberg adverte que “a confiança de Trump em mobilizar o dólar contra adversários e aliados teimosos pode acabar saindo pela culatra para os EUA, enquanto os esforços para empurrar o dólar de seu pedestal ficam cada vez mais sérios”.