“O arcabouço fiscal poderia ser melhor? Sim, mas as pessoas esquecem que foi o Congresso que aprovou”, disse o ministro
Em debate realizado na noite de sexta-feira (20), na USP, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ouviu críticas ao arcabouço fiscal, projeto criado por ele para substituir o teto de gastos, que vigorava no país desde 2017.
O ministro responsabilizou o Congresso Nacional por sua aprovação. “O arcabouço fiscal poderia ser melhor? Sim, mas as pessoas esquecem que foi o Congresso que aprovou. Quantos deputados progressistas existem no Congresso?”, questionou.
A plateia não se satisfez com a explicação, já que arcabouço fiscal foi todo elaborado pela pasta da Fazenda, comandada por ele. Além do mais, na sequência do debate, o próprio ministro confirmou a autoria das propostas, gabando-se de que “o governo não sofreu derrotas no Congresso em pautas econômicas”. Ou seja, ele deixou claro que as pautas econômicas eram de sua lavra.
Haddad também não demonstrou o menor incômodo com o baixo dinamismo da economia. Ele até comemorou a variação de 2,9% do PIB (Produto Interno Bruto) do país no ano passado. Isto, segundo ele, porque o mercado estimava um crescimento de 1,6%. “Nada do que o mercado projeta se confirma”, afirmou o ministro.
A variação realmente foi de 2,9% no PIB em 2023, mas foi menor do que os 3% de Bolsonaro, em 2022, e está bem abaixo dos planos do presidente Lula. O presidente dizia na campanha que queria voltar ao governo para fazer “40 anos em 4”. Haddad só comemora porque sua referência são as “avaliações” do mercado financeiro.
As “previsões” do mercado, como todos sabem, sempre jogam para baixo. Fazem isso, não só com suas “análises”, mas inclusive com ações, como, por exemplo, pressionar pela alta dos juros, que já estão entre os maiores do mundo. Mas até mesmo o mercado financeiro se surpreendeu quando Haddad estabeleceu a meta de zerar o déficit público em 2024. Ele [mercado] projetava um déficit de R$ 66 bilhões.
Haddad também criticou as isenções fiscais. “Todo mundo quer equilíbrio fiscal, desde que não mexa com o seu”, disse o ministro. É verdade, ele próprio reconheceu recentemente que é muito difícil taxar os ricos no Brasil. Mas, como ele insiste em zerar o déficit, que foi de 260 bilhões em 2023, e não tem como “taxar os ricos”, a solução encontrada foi começar a falar em “pente fino no BPC”, rigor nas aposentadorias, etc. Ou seja, já que não dá para “taxar” os ricos, a solução é “taxar” os pobres.