Todos concordaram em iniciar o ciclo de aperto monetário, diz a ata do Copom
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), em ata divulgada nesta terça-feira (24), confirma que vai continuar elevando a taxa básica de juro da economia (Selic), sem qualquer motivo, a não ser elevar os ganhos do capital financeiro.
De acordo com a ata, o BC vai promover “uma política monetária mais contracionista”. “Todos os membros do Comitê concordaram em iniciar gradualmente o ciclo de aperto de política monetária [.. ] no seu firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Gabriel Galípolo, diretor do BC, foi indicado pelo governo Lula para presidir o banco após a saída de Campos Neto, atual presidente, no final do ano.
Na última reunião, da qual trata a ata, a Selic foi aumentada, de forma unânime, em 0,25 ponto percentual, passando de 10,50% para 10,75%, sob protestos dos mais amplos setores, da indústria, do comércio, economistas, centrais sindicais e partidos políticos e do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que condenou a posição do Brasil no segundo lugar no ranking mundial de juro real.
Com a inflação controlada, o Banco Central tergiversa sobre as “expectativas de inflação” na ata e faz coro com os “agentes” do mercado financeiro ”sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente”.
Segundo o BC, tem que arrochar, cortar as despesas públicas com saúde, direitos sociais, educação, previdência, salários, segurança, investimentos…, para garantir os ganhos bilionários ao sistema financeiro.
“Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
Os diretores do BC manifestam também, por trás da ladainha do controle inflacionário, que o objetivo é impedir o Brasil de crescer. “A atividade econômica e o mercado de trabalho domésticos vêm apresentando maior dinamismo do que esperado […] A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada”, diz a ata.
“Com total indignação”, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirma que a decisão do Copom de elevar a Selic “vai prejudicar a criação de emprego e a renda para a população”. “É fundamental que o BCB retome os cortes na taxa de juros o quanto antes”, defende Alban.
“É emblemático que no mesmo dia em que os Estados Unidos decidem baixar a taxa básica após meses, o Brasil resolva o contrário, elevar a Selic. [A decisão] torna a nossa diferença de juros reais ainda mais grave e cria condições desfavoráveis ao investimento no país. Até que ponto a especulação do mercado futuro de juros influencia as narrativas da expectativa de inflação futura?”, questiona o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses (4,10%), a taxa de juros reais brasileira fica em 7,33%, segundo o Ranking Mundial de Juros Reais, de responsabilidade do site MoneYou.
A decisão do aumento da Selic se dá após a área econômica do governo anunciar um corte de 15 bilhões no Orçamento para cumprir a meta neste ano do “déficit zero” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que substituiu o “teto de gasto” pelo Novo Arcabouço Fiscal. Além do anúncio da tesourada de cerca de 25,9 bilhões em despesas obrigatórias no Orçamento de 2025, um corte que depende ainda da chancela do Congresso Nacional para ser efetivado.
No governo Lula, o Orçamento brasileiro segue amarrado a regras e metas fiscais que impossibilitam o avanço do investimento público para desenvolver o país. O proposto “ajuste” fiscal segue penalizando os que mais precisam do apoio do Estado, caso dos beneficiários da previdência e dos pobres no BPC (Benefício de Prestação Continuada), por exemplo.
Essas desgraças de regras do “austericídio” não permitem sequer a elevação pelo governo nos investimentos em caso de crise climática, por exemplo, como as que vivemos neste ano no Rio Grande do Sul e das atuais queimadas que devastam diversas regiões do país. Para combater problemas desta ordem, o Congresso tem que aprovar normas que permitam furar o famigerado arcabouço fiscal.
Já para as despesas com juros as regras fiscais não impõem limites. Em 12 meses até julho deste ano, o setor público gastou R$ 869,8 bilhões (7,73% do PIB) com o pagamento de juros da dívida interna.
Para este gasto despudorado, para não dizer pornográfico, não há endurecimento de “tom”, nem menção, por parte dos diretores do BC. São quase R$ 870 bilhões retirados de quem trabalha e produz riquezas no Brasil e entregue – via pagamento de juros – para quem não produz sequer um parafuso.
A cada 1 ponto aumentado na taxa Selic são R$ 47,9 bilhões acrescidos na dívida interna, na trajetória de 12 meses, conforme dados do BC.
“Essa, sim, é uma preocupação”, disse o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, ao classificar a alta da Selic como principal vilão das contas públicas. “Não tem nada pior para a questão fiscal do que esse aumento da Selic”, afirmou.
O economista, José Luis Oreiro, ressalta que ao elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, o Copom aumentou a dívida pública em no mínimo “13 bilhões de reais”, calcula o professor da UnB.
“Parabéns aos novos membros do Banco Central brasileiro, que conseguiram criar uma despesa – que não passou pelo Congresso Nacional – de mais 13 bilhões de reais. Meus parabéns! Vocês estão de parabéns, num exemplo de como queimar dinheiro público”, critica o economista, ao alertar que “nós teremos as duas políticas, tanto a monetária como a fiscal, contracionistas em 2025. Então, você vai desacelerar bastante o crescimento da economia a partir do segundo semestre de 2025”, denunciou Oreiro.