Ao condenar o ataque a Beirute que tirou a vida do mártir Hassah Nasrallah, o comando do Hezbollah se compromete com o caminho do líder da resistência libanesa “por trinta anos na defesa do Líbano e no rumo da vitória em Jerusalém”
O movimento de resistência libanês Hezbollah confirmou no sábado (28) o assassinato de seu secretário-geral Hassan Nasrallah, pelo regime supremacista de Israel, na véspera, em bombardeio que atingiu os subúrbios do sul de Beirute. Um ataque “sem precedentes”, segundo a Al Jazeera, e que foi desencadeado em paralelo à presença do criminoso de guerra Netanyahu na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, onde ele foi para afrontar o mundo chocado com o genocídio e o apartheid.
“Sua Eminência Sayyed Hassan Nasrallah, Secretário-Geral do Hezbollah, juntou-se a seus grandes e imortais companheiros mártires, cujo caminho ele liderou por quase trinta anos, durante os quais os guiou de vitória em vitória, sucedendo o Mestre dos Mártires da Resistência Islâmica em 1992 até a libertação do Líbano em 2000 e a gloriosa vitória divina em 2006 e todas as batalhas de honra e sacrifício, chegando à batalha de apoio e heroísmo em apoio à Palestina, Gaza e ao povo palestino oprimido”, diz o comunicado divulgado pela resistência libanesa.
Ao mártir, a liderança do Hezbollah prometeu continuar sua luta em “apoio a Gaza e à Palestina e em defesa do Líbano e de seu povo firme e honrado”, assinalando que Nasrallah “ainda está entre nós com seu pensamento, espírito, linha e abordagem sagrada” e que a resistência segue “comprometida com a promessa de lealdade e compromisso com a resistência e o sacrifício até a vitória”.
O bombardeio, executado com caças F-35 e bombas anti-bunker de duas toneladas fornecidos por Washington, arrasou vários prédios no bairro de Dahiyeh, no sul de Beirute, uma área superpovoada. Imagens da Al-Manar, televisão ligada ao Hezbollah, mostraram edifícios destruídos, ruas cobertas de escombros e colunas de fumaça pairando sobre Dahiyeh.
O correspondente da Al Jazeera em Beirute descreveu o atentado de sexta-feira como “explosões sem precedentes, múltiplas, altas e sucessivas” que atingiram uma área onde “vivem centenas de milhares de pessoas”. O bombardeio ocorreu pouco depois de milhares de pessoas se reunirem em Dahiyeh para os funerais de três membros do Hezbollah mortos por ataques aéreos israelenses na quinta-feira.
Na noite de sexta-feira para sábado, milhares de pessoas dormiram ao relento, em praças públicas e abrigos improvisados, depois de serem forçadas pelos bombardeios e ameaça de novos ataques a deixarem suas casas. Estima-se que os deslocados já passam de 150 mil.
Como registrou a agência de notícias russa Ria Novosti, o Hezbollah é uma organização criada por xiitas libaneses “em resposta às repetidas invasões do Líbano por Israel (a última foi em 2006 e, antes disso, Israel ocupou o sul do Líbano de 1982 a 2000) e ao colapso do Estado libanês.”
Dos sete milhões de habitantes libaneses, três milhões são de fé xiita “e a grande maioria deles apoia o Hezbollah, que é uma estrutura social, econômica e militar” e um dos principais partidos libaneses, e parte do governo.
“80 BOMBAS ANTIBUNKER”
O exército colonialista israelense se gabou, ao The New York Times, de que havia assassinado Nasrallah com “80 bombas [antibunker] em poucos minutos”. Em seu último discurso, Nasrallah havia se dirigido ao inimigo, a Netanyahu e Gallant, reiterando que a única forma de os israelenses voltarem ao norte, seria pondo fim ao genocídio em Gaza.
Assim, depois de cometer terrorismo em massa no Líbano explodindo bipes e walkie-talkies, o regime de apartheid israelense perpetrou um assassinato político – desta vez, sob a folha de parreira de que a área alvejada abrigaria armazéns de mísseis avançados escondidos no local.
A Casa Branca asseverou nada saber “com antecedência”, embora fontes israelenses hajam asseverado que o chefe do morticínio Gallant havia se comunicado com o chefe do Pentágono Lloyd Austin pouco antes do ataque a Beirute, e que as bombas e os F-35 sejam fornecidos pelos norte-americanos.
Ainda não se tem um balanço sobre os civis mortos no bombardeio para assassinar Nasrallah. Uma moradora, Rihab Naseef, relatou à AFP que “esperava que a guerra se intensificasse, mas pensei que seria limitada a alvos militares, não às casas de civis e crianças”. Ela fugiu de sua casa às pressas, sem sequer levar roupas. “Nunca imaginei que deixaríamos tudo assim, tão de repente, e nos encontraríamos nas ruas”, desabafou.
Os bombardeios israelenses desencadeados desde o início da semana mataram, também, dois adolescentes brasileiros, Mirna Raef Nasser, de 16 anos, morta na quinta-feira, no norte do Líbano, e Alim Kamal Abdallah, na véspera, no vale do Beqaa.
SEMENTE
O Hezbollah afirmou que o presumido sucessor de Nasrallah, seu primo por parte de mãe, clérigo Hashim Safi al Din, está a salvo e em lugar seguro.
Em 1992, após a morte do então secretário-geral Abbas Musawi em um bombardeio israelense, fora a vez de seu companheiro Nasrallah assumir o leme. O que fez com invulgar competência e ousadia, tornando-o um dos principais personagens na luta de libertação no Oriente Médio e no enfrentamento à intervenção norte-americana e ao regime de apartheid e roubo de terras palestinas por três décadas.
Sob sua liderança, Israel foi expulso do Líbano depois de 18 anos, e o Hezbollah, igualmente, em 2006, fez fracassar fragorosamente a escalada israelense.
O Irã, após homenagear Nasrallah, chamou todos os países muçulmanos a apoiarem o Líbano e o Hezbollah. O Líbano, disse o aiatolá Ali Khamenei, fará Israel “se arrepender”, e é obrigação de todo muçulmano apoiar o povo do Líbano e o Hezbollah “com quaisquer meios que tenham”.
O ROLÊ DO GENOCIDA
Em sua presença na Assembleia Geral da ONU, Netanyahu afrontou o mundo inteiro, em defesa do supremacismo, do apartheid e do genocídio, a que insiste de chamar de ‘direito de defesa’. Também recusou a proposta de cessar-fogo de 21 dias entre Israel e Líbano, apresentada pela França, supostamente com endosso dos EUA e do Reino Unido.
Quando ele iniciou sua peroração na ONU, um grande número de delegações se retirou do recinto, em protesto contra o criminoso de guerra. Mais tarde, ele divulgou uma foto dele em Nova Iorque, supostamente acionando o assassinato de Nasrallah.
No dia de seu “discurso” e na véspera, manifestantes foram às ruas de Nova Iorque denunciar o genocida. “Netanyahu/you can’t hide/ your genocide” [Netanyahu/você não pode esconder/seu genocídio]. Os manifestantes também exigiram que a Casa Branca dê fim à entrega de armas a Israel para o genocídio que perpetra.
A ida de Netanyahu à Assembleia Geral visou afrontar a ONU, no momento em que a Assembleia Geral deu assento, afinal, à Palestina, e quando a Corte Internacional de Justiça decide que é ilegal a ocupação da Cisjordânia por israelenses, decisão à qual a Assembleia Geral correspondeu, aprovando resolução que demanda que Israel se retire em “12 meses”.
A cena do plenário que se esvazia para não ser conivente com o genocida, e das vaias, é um sintoma do grau avançado de mergulho de Israel rumo a ser, inapelavelmente, percebida como Estado pária. Já a foto de Netanyahu ordenando o assassinato de Nasrallah, que Tel Aviv fez questão de espalhar, acabará virando autoincriminação, se o Tribunal Penal Internacional se debruçar sobre o caso.
Aliás, foi o próprio Nasrallah falando como líder do Hezbollah que falou e reiterou que o cessar-fogo com Israel só viria com a suspensão do gernocídio de Israel em Gaza. Atiçando a conflagração no Oriente Médio, o regime israelense optou, mais uma vez, por assassinar os líderes capazes de liderar negociações pela solução do conflito, como já havia feito com o líder do Hamas (em meio às negociações pelo cessar-fogo e a liberação dos reféns de ambos os lados) Ismail Haniyeh