Fernando Haddad defendeu mais “esforços fiscais” para que agências como a Moody’s melhorem as notas do Brasil
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, renovou na terça-feira (1) o seu credo inabalável na confiabilidade das agências de risco, ao comemorar a elevação da nota do Brasil de Ba2 para Ba1, pela empresa norte-americana Moody’s. “Penso que, se o governo como um todo compreender que vale a pena esse esforço”, nós temos chance, disse Haddad, referindo-se à busca do chamado “grau de investimento”.
AUMENTAR ESFORÇOS
“Esse esforço que está sendo feito produz os melhores resultados e continuarmos sem baixar a guarda em relação às despesas, em relação às receitas, fazendo o nosso trabalho, acredito realmente que nós temos a chance de completarmos mandato do presidente Lula reobtendo o grau de investimento. Ele não está dado, mas é uma possibilidade concreta”, afirmou o ministro.
O “esforço” a que se refere o ministro da Fazenda representa os cortes de investimentos públicos e de gastos sociais, defendidos por ele. Cortes que certamente levarão ao abandono da meta, defendida pelo presidente Lula na campanha eleitoral, de realizar seu projeto de desenvolvimento “40 anos em 4”. Ou seja, a “meta” de Lula de voltar ao governo para fazer mais do que nos dois mandatos anteriores está sendo substituída pela “meta” de Haddad de zerar o déficit público e criar superávits primários.
A Moody’s, assim como as demais “agências de risco”, foram criadas para informar aos endinheirados mundo afora onde é melhor aplicar seus recursos na busca de maior segurança e lucratividade. São “seguros” para “investimento”, pelos critérios das agências, aqueles países que garantem pagamento de juros altos e sempre em dia.
GARANTIR OS JUROS
Os países possuem basicamente dois tipos de despesas. As despesas com investimentos e serviços à população e as despesas financeiras, para atender bancos e rentistas. A Moody’s reprova os países que investem no crescimento econômico e na melhoria de vida da população e classifica positivamente os que priorizam as despesas financeiras em detrimento dos investimentos e gastos sociais.
Só para se ter uma ideia de como as despesas no Brasil são distribuídas, observa-se que, do orçamento proposto para o ano de 2025, estimado em R$ 5,9 trilhões, o pagamento de aposentados consumirá R$ 1,01 trilhão, os gastos com pessoal serão de R$ 413,15 bilhões e as Transferências Constitucionais, outros R$ 558,74 bilhões.
Isoladamente, os juros pagos aos bancos e rentistas pelo Tesouro somam R$ 855 bilhões nos últimos doze meses até agosto deste ano e poderão passar de R$ 1 trilhão até o final de 2024. Se forem acrescidos os gastos com a rolagem da dívida, as despesas financeiras totais chegarão a R$ 2,77 trilhões em 2025.
O que Fernando Haddad está defendendo com sua política são limites rígidos aos gastos e investimentos públicos para garantir que sobre mais dinheiro para o pagamento de juros a bancos. O montante de investimentos públicos previstos para 2025 ficou em R$ 74,3 bilhões, ou seja, ficou no piso definido pelo arcabouço fiscal de 0,6% do PIB. Muito aquém do que o país precisa para crescer. No social, o ministro defende o “pente fino” nas verbas da Previdência.
TAXA DE INVESTIMENTO
O Brasil, que já teve uma taxa de investimento de 24% do PIB, está hoje com uma taxa de 16,8% do PIB. Muito abaixo do que é necessário para que Lula coloque em prática o seu projeto de retomada do desenvolvimento apresentado e defendido na campanha eleitoral. É por toda essa “prioridade fiscalista” de Haddad que a agência Moody’s elevou a nota do Brasil.
Este “agrado” da Moody’s significará mais investimentos no país? Certamente, não, pois o capital que busca ganhos rápidos e robustos verá no país que mantém a segunda maior taxa de juros do mundo um bom lugar para alocar os seus recursos. Mas, esses recursos que chegam para especular com títulos que pagam juros reais de 7% ao ano não podem ser chamados de “investimento”.
Esses recursos vão aumentar a ciranda financeira e o parasitismo da economia. Comemorar isso como “investimento” é um contrassenso. O que o país precisa é de investimento produtivo real para crescer e criar empregos.
AGÊNCIAS FRAUDARAM
Há, por fim, uma outra questão a ser considerada sobre a “crença” de Haddad nas agências. A credibilidade dessas agências atingiu o fundo do poço na crise de 2008. A Moody’s, segunda maior do mundo, foi obrigada a pagar US$ 864 milhões (cerca de R$ 2,8 bilhões) por seu envolvimento na crise dos “subprimes”, que deu início ao rombo financeiro mundial. Ela classificou os papéis do Lehman Brothers como seguros às vésperas da quebradeira geral.
Outra agência de classificação de risco, a Standard and Poor’s (S&P), também foi punida por falsificar avaliações na crise, sendo obrigada a pagar uma multa de US$ 1,37 bilhão (cerca de R$ 4,4 bilhões) pelo mesmo motivo: enganar os investidores sobre a qualidade dos créditos das instituições que quebraram. Em 2011, uma comissão de investigação sobre a crise financeira concluiu que ela “não teria ocorrido sem o papel das agências de classificação de risco”. É nesse tipo de gente que Haddad está apostando todas as suas fichas.
SÉRGIO CRUZ