A greve geral, inicialmente convocada pelo Alto Comitê de Acompanhamento dos Cidadãos Árabes de Israel, parou todas as cidades, aldeias e bairros árabes dentro das fronteiras israelenses de 1967 e contou com a adesão dos palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.
Com ruas vazias, a exemplo de Ramallah (foto), onde fica a sede da Autoridade Nacional Palestina (ANP), a paralisação repudia e exige a revogação da lei que oficializa o sistema de apartheid israelense, aprovada em 19 de julho, pelo Knesset, parlamento de Israel, denominada Lei Estado-Nação Judeu.
Pela nova lei, chamada também de Lei Básica do Estado de Israel, só são cidadãos plenos desse Estado, os judeus, tanto os que moram em Israel, como qualquer judeu em qualquer lugar do mundo que resolva requerer cidadania israelense.
Em conseqüência dessa lei, os palestinos, que são os nativos da nação, com cidades continuamente vivas por 3.500 anos, são alijados dos direitos de cidadania plena.
A greve também rechaça a transferência da embaixada dos EUA para a cidade de Jerusalém (que pela legislação israelense inclui a Jerusalém oriental árabe sob ocupação e anexada) premiando a usurpação ilegal da capital da Palestina e lançando uma pá de cal nas negociações de paz, já detonada pela política de assalto a terras palestinas na Cisjordânia e financiamento governamental à construção de assentamentos judaicos às centenas nas terras palestinas ocupadas por Israel.
Deixando aos palestinos a “opção” de se contentarem com o “acordo do século”, a chantagem pela qual os palestinos deveriam aceitar qualquer migalha imposta pelo coluio Trump/Netanyahu, numa repetição racista-colonial dos mundialmente repudiados bantustões ofertados aos negros privados de sua cidadania na África do Sul.
UNIDADE
É a primeira vez-desde a implantação de Israel em 1948, com a limpeza étnica (que resultou na expulsão de 80% da população palestina, de mais de 3.000 anos, dos seus lares e terras ancestrais) – que um ato unifica todas as forças e setores palestinos de forma unitária.
Desde fábricas, até pequenas lojas nas aldeias, passando pelas escolas e escritórios, a greve foi massiva. Os palestinos não foram aos locais de trabalho, nem saíram às compras tornando as ruas silentes.
“A greve geral do povo palestino em todas as localidades é uma prova do fracasso daqueles que querem nos dividir”, afirmou o parlamentar palestino, Jamal Zahalka, líder do Partido Democrático Nacional – Balad.
“Através dessa greve, declaramos que estamos unidos em nossa recusa em acabar com a questão palestina, seja através da Lei Estado-Nação, seja através do ‘acordo do século’ proposto pelos EUA. Ambos são duas faces da mesma moeda”, acrescentou Zahalka.
Ele finalizou destacando que “a greve geral de todos os palestinos terá um grande efeito, pois é uma massiva reação à Lei Estado-Nação que atinge a todo o povo palestino”.
O protesto dessa segunda coincide com o 18º aniversário do massacre de palestinos ocorrido em Sakhnin, quando foram assassinados 13 jovens da cidade localizada na Galileia que se manifestavam em apoio à Segunda Intifada (sublevação palestina) que se ergueu diante das provocações de Sharon, o carniceiro de Sabra e Shatila, que desfilou com tropas israelenses na esplanada das mesquitas na histórica Jerusalém Oriental. Sharon assumiria o poder logo depois, em 2001, rasgando os acordos de Oslo e Taba que visavam o estabelecimento de um Estado Palestino lado a lado com o Estado de Israel. Ao sepultamento da opção pela paz foi dada a largada com o assassinato em praça pública do premiê israelense Itzhaq Rabin, que havia assinado os acordos de Oslo com o líder palestino, Yasser Arafat.
DISCRIMINAÇÃO
Na cidade de Sakhnin, uma das que resisitiram à limpeza étnica de 1948, de onde saíram os primeiros protestos árabes dentro de Israel, em 1976, lembrados ano a ano, como o Dia da Terra, o vice-prefeito, Muneeb Tarabeh, disse que a discriminação dentro de Israel, assim como as políticas criminosas contra os palestinos nos territórios ocupados cresce ao longo do tempo. “Nunca para. A Lei Estado-Nação, assim como os massacres de 1976 e de 2000, são parte da mesma política. Nossa greve é uma mensagem para mostrar que nossa causa vive. Estamos aqui para manter a nossa memória e manter nossa história viva”.
“É um momento de grande força que percebemos quando nos vemos em lugares diferentes, unidos, com a mesma energia positiva, o que me dá a esperança com relação à continuação da Resistência até que alcancemos a libertação”, destacou Badi Dweik, ativista palestino da cidade de Hebron.
Houve confrontos com as tropas de ocupação em cidades, como Abu Dis, El Bireh, Kufr Qadoum, próxima ao posto de controle policial-militar de Qalqylia .
NATHANIEL BRAIA