A produção industrial caiu -0,3% em agosto em relação ao mês anterior, após recuo (revisado) de -0,1% em julho, ante o mês de junho, segundo números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na terça-feira (2).
É a segunda queda mensal consecutiva, o que não acontecia desde o final de 2015. “Na série histórica da indústria é possível observar que, sempre que tem um movimento de queda, de alguma forma, ele é compensado, no mês seguinte, com crescimento. Desde setembro a dezembro de 2015, não se via dois meses em sequência de resultados negativos”, disse à agência Reuters o gerente da pesquisa, André Macedo.
Na avaliação do Instituto de Estudos sobre o Desenvolvimento Industrial (IEDI), “desde a virada do semestre, a indústria se mostra claramente sem dinamismo, ao registrar variações de -0,1% e -0,3% em julho e agosto, respectivamente, na série com ajuste sazonal. Não cabe creditar este pífio resultado a efeitos reminiscentes da paralisação dos caminhoneiros, dado que já se passaram três meses do forte distúrbio da produção ocorrido em maio e mais do que compensado em junho. O que temos é um retorno ao padrão insatisfatório de desempenho que tem caracterizado 2018 desde seu início. A indústria não consegue ir adiante”.
Com efeito, nada menos que 14 ramos de atividade, em 26 pesquisados pelo IBGE, tiveram queda em agosto, “puxada pelo recuo de -2,1% na produção de bens intermediários e pela queda de -0,6% de bens de consumo semi e não duráveis”.
As principais quedas ocorreram nos setores de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-5,7%), bebidas (-10,8%), produtos de madeira (-5,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,9%) e produtos têxteis (-2,4%).
Como observou o IEDI, o quadro da indústria é desalentador. A seguir, as variações da produção industrial deste ano, mês a mês, com ajuste sazonal:
– Janeiro: -2,1%
– Fevereiro: +0,1%
– Março: 0%
– Abril: +0,9%
– Maio: -10,9%
– Junho: +12,7%
De acordo com o IEDI, a atividade de junho “foi anulada pelo bimestre julho-agosto no vermelho”. “Essa sequência de resultados gera um quadro desalentador. Ainda tomando os dados com ajuste, o nível de produção em agosto voltou àquele de abril, isto é, antes da greve dos caminhoneiros, mas mesmo assim permaneceu 1,1% abaixo daquele de dezembro de 2017”.
“Deste modo, o nível de produção atual permanece mais de 14% abaixo do último pico da série histórica, enquanto o resultado no acumulado de janeiro a agosto de 2018, de +2,5%, frente a igual período do ano anterior, sugere que 2018 poderá não assegurar nenhum ganho de dinamismo a mais do que aquele de 2017”, acrescentou o IEDI.
Em outras palavras, atividade industrial parada, economia patina na lama. No último Relatório de Inflação (setembro/2018), o Banco Central admite o arrefecimento da economia: “No âmbito da demanda, destacaram-se os impactos da retração nos gastos com investimentos e a desaceleração no consumo das famílias, em linha com o arrefecimento dos indicadores de confiança de consumidores e de empresários”.
Ainda conforme o relatório, “a projeção central para o crescimento do PIB em 2018 foi reduzida para 1,4%, ligeiramente inferior à projeção divulgada no Relatório de Inflação de junho (1,6%)”. No primeiro relatório do ano (março), a estimativa do governo era de crescimento do PIB de 2,6% para 2018.
O que esperar de uma economia em um país com 12,7 milhões de desempregados e 27,5 milhões de subempregados, arrocho salarial, empresas sufocadas por juros reais siderais, congelamento dos investimentos públicos (20 anos), mas com a farra dos juros liberada?
Os números do IBGE apontam que no segundo trimestre a indústria registrou contração de -0,6% e o PIB teve um ligeiro crescimento de apenas 0,2% sobre os três meses anteriores, isto é, praticamente zero.
Segundo o último boletim Focus do Banco Central, a estimativa do sistema financeiro é que a economia cresça 1,35% este ano, menos da metade do que era esperado do começo do ano.
Nesta quarta-feira, 3, o IBGE divulgou dados ainda mais desalentadores. Em três anos consecutivos houve registro de saldo negativo de empresas formais, isto é, mais empresas foram fechadas do que abertas no país. Em 2016, foram abertas 648.474 empresas, enquanto no início de 2018 foram registrados o fechamento de 719.551 empresas. Um déficit de 71,1 mil.
Desde 2014 o número de fechamentos tem superado o de aberturas, conforme o IBGE. Obviamente, quanto mais empresas fechadas, mais trabalhadores na rua da amargura. É a política de juros siderais e de “ajuste fiscal” de Dilma/Levy e Temer/Meirelles cobrando o seu preço.
VALDO ALBUQUERQUE