À frente da marcha na capital uruguaia, Enrique Méndez, dirigente da central PIT-CNT, denunciou que “mentem e dizem que não é possível aumentar as aposentadorias porque não podem admitir que têm governado para o capital financeiro”. “A vitória será nossa nas eleições presidenciais e no plebiscito do próximo dia 27 pelo Sim”, enfatizou Nathalie Barbé, dirigente da Associação dos Trabalhadores da Seguridade Social de Montevidéu
Uma multidão tomou o centro da capital do Uruguai, Montevidéu, quarta-feira (16), com faixas e cartazes denunciando a reforma educativa e o alto desemprego do governo Lacalle Pou, e exigindo o fim dos cortes na educação, na saúde e nas aposentadorias, assim como estímulos à indústria nacional.
Com a palavra de ordem “Contra o modelo da desigualdade, pelas mudanças necessárias”, a mobilização convocada pela central sindical PIT-CNT (Plenário Intersindical de Trabalhadores – Convenção Nacional de Trabalhadores) se concentrou pela manhã no Monumento ao Gaúcho, e foi seguida por um mar de gente pela 18 de julho, arrancando vivas e aplausos até a rua Andes, onde ocorreu o ato central.
Conforme a central, que ao lado de importantes entidades como a Confederação de Sindicatos Industriais e o Sindicato Único da Construção sublinhou a necessidade de mobilização dos uruguaios para a disputa eleitoral que se avizinha, este é o momento de todos irem às ruas e urnas defender um projeto de desenvolvimento. Um programa que será consolidado com distribuição de renda e o fortalecimento da Seguridade Social, sob forte ataque dos fundos de pensão privados e do atual governo neoliberal. Por isso, assinalaram as lideranças, é essencial um pronunciamento contundente pelo “Sim” no plebiscito do próximo dia 27, que acontece junto às eleições presidenciais.
“Nos querem fazer crer que o país vai afundar se aumentarmos o valor das aposentadorias, quando há plena condição para que isso ocorra. Mentem, porque não podem admitir que têm governado para o capital financeiro”, afirmou Enrique Méndez, dirigente da Federação dos Trabalhadores da Indústria Láctea (FTIL) e secretário de Organização da PIT-CNT.
Méndez propôs que se defina uma política industrial para o quinquênio 2025-2030, projeto que em vez de sangrar o orçamento – atualmente direcionado aos especuladores – invista na criação de um fundo nacional que apoie a pesquisa, a capacitação dos trabalhadores e o fortalecimento do emprego de qualidade. Também reivindicou uma política econômica que não dependa dos preços internacionais das matérias-primas e defendeu ganhos reais com a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.
ARROCHO E DESIGUALDADE
Infelizmente, em vez de apontar para a justiça social, alertou Méndez, “foi aplicada uma política que aumentou a desigualdade no nosso país, já que 5% dos lares mais ricos capturaram o grosso da rendimento, enquanto 95% dos mais pobres perderam”. O dirigente da PIT-CNT acrescentou ainda que os 2% mais ricos possuem mais da metade da riqueza do Uruguai.
Seguindo esta cartilha de arrocho, assinalou Méndez, conseguiram fazer com que o nível de pobreza seja hoje superior ao de 2019, fazendo com que, segundo a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL), o Uruguai seja um dos poucos países do continente cujos indicadores de pobreza estejam piores do que antes da pandemia. E, com a continuidade deste modelo parasitário, condenou, as cifras ficaram pelo piso, “uma vez que cortaram os salários, já que durante três anos o salário real esteve por debaixo dos níveis de 2019 e os trabalhadores perderam um salário e meio. Ao mesmo tempo foram transferidos do trabalho para o capital sete bilhões de dólares entre 2019 e 2023”.
O líder da PIT-CNT criticou ainda a “precariedade do emprego” com a extensão das jornadas de trabalho, piores condições de segurança e a adoção de inúmeras formas de fraude laboral, como a dos “trabalhadores associados” que não gozam de direitos. Méndez disse que nada menos do que “2,1 bilhões de dólares foram desonerados do grande capital, 400 milhões de dólares do grande capital rural e 135 milhões de dóleras da educação privada, enquanto o setor de transporte de cargas sonega 400 milhões de dólares anualmente”.
O presidente da Federação Nacional dos Professores do Ensino Secundarista (Fenapes), José Olivera, repudiou as críticas do governo ao segundo dia de paralisação das escolas. “O que nos dizem sobre isto ser contra o povo, quando foram os oligarcas que historicamente o exploraram? O que nos vão falar de amor, se cada vez que viram os seus interesses ameaçados, chutaram até a democracia, sendo o povo quem teve de pagar as consequências do terrorismo de Estado?”, questionou.
A defesa da educação pública é uma prioridade para o movimento sindical uruguaio, reiterou Olivera, pois a considera “um elemento transformador, que deve contribuir ao desenvolvimento democrático, cultural e científico do nosso povo”. E esta compreensão, observou, se “choca com o projeto ideológico da coalisão governante, que defende a oligarquia”.
“MODELO DA OLIGARQUIA É DE EXPLORAÇÃO E EXCLUSÃO”
O que acontece, esclareceu o líder da Fenapes, é que pretendem ter jovens “submissos, incapazes de questionar o modelo de exploração e exclusão que promove a oligarquia, o que implica um retrocesso democrático e de desenvolvimento cultural e científico para o país”.
“A vitória será nossa nas eleições e no plebiscito. Terão que aprender a governar com justiça social e uma Seguridade solidária. Não vamos deixar que ninguém fique pelo caminho”, ressaltou Natalie Barbé, secretária geral da Associação de Trabalhadores da Seguridade Social de Montevidéu (ATSS).
Nestes poucos dias que nos faltam para o plebiscito pelo Sim à reforma da Constituição e da previdência, a militância deve sair às ruas, dialogando e esclarecendo as pessoas, defendeu Natalie. “Este é um processo que dependeu de nós desde o início e vai depender de nós até o fim”, frisou.