O deputado bolsonarista Luiz Carlos Busato (União-RS), ex-prefeito de Canoas (2017-2020), foi gravado por um colaborador da Justiça negociando a entrega de uma propina mensal de R$ 800 mil e reclamando que parte do valor atrasado seria “parcelado” em 30 vezes.
A gravação, de 2018, foi feita pelo médico e empresário Cássio Souto dos Santos (*), chefe da organização social (OS) GAMP (Grupo de Apoio à Medicina Preventiva), que teve contratos milionários firmados na gestão de Busato.
Cássio disse que precisava parcelar porque “não tinha condições” de entregar R$ 2 milhões através de aviões para o prefeito.
Luiz Carlos Busato pressionou falando que a GAMP deve “cumprir o compromisso conosco” e citou o aumento de R$ 16,5 milhões para R$ 20 milhões nos contratos com a “organização social”.
“Está bom, se estamos aumentando R$ 4 milhões, R$ 5 milhões, mensalmente, acho que tem condições de o GAMP pegar uma parte e acertar conosco”, continuou o então prefeito.
“O que eu tô pedindo para ti é que a gente cumpra o que é mais sagrado entre nós, que é o nosso compromisso. Em torno de mais ou menos R$ 800 [mil] é o do mês. Isso é religioso. Seja R$ 800, R$ 900, R$ 700… Isso vai ser religioso, 15 dias após fechar o mês”, disse. Cássio concordou.
A colaboração de Cássio Santos Souto foi firmada, em 2020, junto à Procuradoria-Geral da República (PGR), através da qual entregou as gravações que tinha. Ele chegou a ser preso em 2018 em uma operação acerca de desvio de dinheiro da saúde em Canoas.
Ele contou que a propina era de 3,5% do total do contrato da GAMP. Desse valor, metade ficava com Luiz Busato, 30% com seu chefe de gabinete Germano Dalla Valentina e 20% eram distribuídos entre funcionários da Prefeitura.
“30 MESES NÃO TEM COMO”
O deputado disse ainda que seus aliados e secretários de governo, Alexandre Bittencourt e Germano Dalla Valentina, tinham conversado com a GAMP para não haver mais o atraso nos pagamentos futuros e a “organização social” propôs “pagar em 30 parcelas” o que estava devendo.
“30 meses não tem como, Cássio”, reclamou o bolsonarista.
“Eu autorizei aumentar [o contrato] para que vocês tivessem um fôlego, parasse o problema, porque o que atinge vocês atinge nós. Nós somos parceiros, somos dois irmãos siameses. Os caras te cravam um prego no ombro, dói também no meu”, argumentou o prefeito.
Busato ainda disse que o grupo criminoso tinha “que achar uma maneira” de entregar o dinheiro. A gravação mostra ele pressionando Cássio para que diminuísse o número de parcelas.
“Prefeito, é muita coisa, eu não consigo. Eu preciso receber a dívida até mesmo porque eu tenho parceiros, senão a operação fica arriscada”, reclamou Cássio Santos Souto.
O prefeito insistiu: “não podemos ficar indefinidamente na esperança de ‘ah, agora tem a Polícia Federal, não sei o que vai acontecer’. Porra, se nós já fizemos um esforço de aumentar de R$ 16,5 [milhões] para R$ 21 [milhões]…”
“Eu não posso a cada peido da Polícia Federal nós ficarmos aqui um ano [sem receber], entendeu? Temos que achar uma maneira. ‘Ah, tá perigoso trazer de avião’. Então vamos achar uma maneira de não ser, né?”.
O chefe da GAMP respondeu que a operação precisa “ter uma segurança. Sinceramente, eu estou assustado”.
“Imagina botar R$ 800 mil dentro de um avião, nego me pega com o avião, tô desgraçado. Não tem cabimento. Olha que eu já fui algumas vezes, eu não mando só o meu. Eu pego avião de amigos, eu alugo avião”, relatou.
Para Cássio, “não tem outra forma. O caminho é através de terceiros ou através de compras” que seriam feitas pela GAMP.
O colaborador contou que o prefeito Busato havia pressionado para que uma empresa do filho do presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul (TCE-RS), Gustavo Peixoto, fosse contratada pela GAMP para fazer uma reforma em um hospital.
O contrato entre a GAMP e a P&B Engenharia, de R$ 1,8 milhão, foi firmado em agosto de 2017.
Em outro momento da conversa gravada, Cássio falou que não tinha “condições de trazer para você quase R$ 2 milhões por mês. Primeiro, pela dificuldade. Olha o que aconteceu em Guaíba”, citando uma operação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) no município em 2018.
Em suas redes sociais, Luiz Carlos Busato publicou um vídeo falando que o áudio é falso. Seu filho, Rodrigo Busato (União), é candidato a vice-prefeito na chapa de Airton Souza, do PL, partido de Bolsonaro, que disputa o segundo turno. O político também gosta de modular seu bolsonarismo, quando questionado, e diz que não é tanto assim.
Busato teve o apoio de Bolsonaro em sua tentativa de reeleger-se em 2020. “Busato aqui dispensa qualquer comentário. Nós estamos com Busato”, diz Bolsonaro em vídeo ao lado do então prefeito. Acabou derrotado, recebendo 46,94% dos votos.
Ele foi filiado ao PP, onde começou sua vida política, seguiu para o PTB de Roberto Jefferson e depois para o União Brasil, sigla em que está desde 2022.
Também apoiou firmemente a PEC (Proposta de Emenda Parlamentar) do Teto dos Gastos proposta pelo ex-presidente Michel Temer (MDB). A PEC estrangulava os investimentos públicos e foi substituída pelo arcabouço fiscal proposto pelo atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
(*) A defesa do Sr Cássio Souto esclarece que ele “celebrou um acordo de delação premiada”, conforme consta nesta matéria, “demonstrando toda sua boa-fé e colaboração com a justiça”.
O advogado de Cássio Souto destaca ainda que: “Conforme os promotores envolvidos, ele já formalizou um pedido de perdão judicial, o que evidencia sua disposição em reparar os erros cometidos”.
Bolsonaro malfeitor de nascença vive apoiando outros delinquentes praticantes de práticas malignas como mostra a matéria.