O atirador Edson Fernando Crippa, responsável por balear 12 pessoas e matar três, em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS), tem histórico de esquizofrenia, segundo o delegado Fernando Sodré, chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. A informação foi divulgada durante entrevista coletiva.
Edson Crippa era colecionador, caçador desportivo e caçador (CAC), sem antecedentes criminais, e tinha licença Sigma do Exército. “Estamos apurando informações de que seja um problema familiar, tanto dele quanto do pai, de esquizofrenia. Mais detalhes serão apurados”, destacou o delegado.
O ataque a tiros na cidade de Novo Hamburgo deixou 12 pessoas baleadas, sendo sete brigadistas militares (policiais), um guarda municipal e quatro pessoas da família do atirador. Até o momento, quatro pessoas morreram: o próprio atirador, o pai e o irmão dele, e um policial militar. As armas eram registradas na Polícia Federal (PF) e no Exército Brasileiro.
Segundo o Secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, o homem tinha o registro de duas armas e havia realizado o exame psicotécnico. O pai, Eugênio Crippa, também é suspeito de ter o mesmo transtorno.
Edson Crippa fez os pais reféns por volta das 23h da última terça-feira (22) e, durante a ocorrência, abriu fogo, matando três pessoas e ferindo outras nove. Segundo informações do comandante da Brigada Militar (BM), Cláudio Santos Feoli, a polícia entrou na casa do homem por volta das 8h30 desta quarta-feira (23). A Brigada Militar foi ao local após denúncia de maus-tratos.
Além do chefe da PC-RS, participaram da entrevista o secretário da Segurança Pública do RS, Sandro Caron; o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Cláudio dos Santos Feoli; o comandante do CRPO-VRS, coronel Luís Felipe Neves Moreira; e a diretora-geral do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Marguet Mittmann.
MORTOS
Os mortos são o pai de Edson, Eugênio Crippa, de 74, que acionou a polícia; o irmão, Everton Crippa, de 49; e um PM, identificado como Everton Kirsch Júnior, de 31. Ele ainda feriu a mãe, Cleris Crippa, de 70; e a cunhada Priscilla Martins, de 41. O atirador era motorista de caminhão. A mãe de Edson apresenta quadro clínico considerado grave.
O coronel Cláudio dos Santos Feoli, disse, na coletiva de imprensa, que Crippa foi “neutralizado” pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).
As demais pessoas feridas são seis policiais e um guarda municipal. Segundo a BM, um sargento, de 38 anos, foi baleado no ombro. Um soldado, de 32, levou um tiro no pé, de raspão, e outro, de 31, foi atingido por cerca de três tiros e encontra-se em estado grave. Outros dois policiais também ficaram feridos, um deles, de 26 anos. Todos foram levados ao Hospital Municipal.
Os policiais tentaram negociar a rendição do suspeito. As casas vizinhas à ocorrência foram esvaziadas como medida de segurança. O atirador teria derrubado a tiros dois drones usados na ação e respondia às negociações da polícia com disparos.
“Poderíamos ter tido um número muito maior de feridos se a brigada não tivesse feito as incursões para retirar os feridos”, informou a Brigada Militar.
ARMAS REGISTRADAS
A Brigada Militar (BM) encontrou quatro armas e “farta munição” na casa do atirador. Um perito do Instituto-Geral de Perícias (IGP) recolheu dezenas de balas que ficaram na rua após a ocorrência.
Foram localizadas duas pistolas, uma de calibre 9mm e outra .380, e duas espingardas. O delegado Fernando Sodré, classificou a situação como um “cenário de guerra”.
“É um cenário de guerra. Ele tinha farta munição, duas pistolas, uma calibre 9mm e uma calibre.380, e mais duas carabinas, e efetou disparos em cima dos policiais durante todo o tempo”, diz Sodré.
As armas estariam legalizadas, segundo os investigadores. Ainda de acordo com as autoridades, o atirador tinha histórico de problemas de saúde mental.
“Ele era a CAC, e tinha uma arma registrada no SIGMA, no Exército, e uma arma registrada no SINARME, no Registro Normal. E todas as armas dele apresentavam legalidade, todas estavam de acordo com a legislação”, diz Sodré.
CAC
O treinamento obtido como CAC pelo atirador de Novo Hamburgo (RS) fez aumentar a resistência dele à polícia, disse José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da PM-SP e ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, em entrevista ao portal UOL.
Para o coronel, o ataque demonstra como questões psiquiátricas como as de Crippa, associadas à disseminação de armas promovida pelo aumento dos CACs nos últimos anos, oferecem risco para ações violentas.
“Esse indivíduo, ao que consta, tinha duas pistolas, uma carabina calibre 12 de alta potência e mais um rifle calibre 22, além de treinamento. Esse tipo de treinamento, naturalmente, amplia muito mais a capacidade de resistência desse tipo de pessoa perturbada”, disse.
“A proliferação de armas cria oportunidades, como é o caso. Há estudos comparativos da violência mortal entre Inglaterra e EUA em que os crimes comuns são similares, mas a violência letal é muito mais intensa nos EUA justamente pelas oportunidades das armas”.
“As armas precisam de controle. Nós criamos facilidades para grupos de CACs, que não têm a menor relevância social para o país. Abrimos essa possibilidade criando clubes de tiro”, continuou.
“Tínhamos proliferação de armas na década de 80 até 2000, e isso foi estancado com a lei de 2003, justamente para controle. Esses controles demandam não só o perfil de pessoas que podem ter acesso a armas, mas também o perfil para um porte de armas. Há um conjunto muito grande de normas que deveriam ser mais eficientes do que temos hoje”, disse o coronel.