“Fatiar e vender áreas experimentais de pesquisa reforçam o posicionamento negacionista de Tarcísio”, ressalta Associação dos Pesquisadores Científicos de SP
A Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Campinas (ADunicamp) lançou uma nota de repúdio contra a decisão do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) de vender a Fazenda Santa Elisa, que abriga o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), no interior paulista. A medida preocupa profissionais que atuam na pesquisa agrícola, pois na área está o maior banco de germoplasma de café do Brasil e um dos mais importantes do mundo, o que permitiu o desenvolvimento de variedades do grão.
A Fazenda Santa Elisa passou recentemente por um processo de mapeamento e de desmembramento a pedido do Governo paulista, de acordo com a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC). O procedimento inclui uma gleba de 70 mil metros quadrados, denominada São José, onde existem exemplares únicos de diversas espécies de café e a população mais antiga do mundo de plantas de café arábica.
“O governador Tarcísio propõe vender parte da Fazenda Santa Elisa, que pertence ao Instituto Agronômico de Campinas, um patrimônio científico da cidade e do país. Uma medida absurda, que põe em risco décadas de pesquisas sobre o café e outras áreas do conhecimento, além de trazer prejuízos ao meio ambiente na nossa cidade”, diz o texto.
A proposta reforça a postura negacionista do Governo Paulista, avaliam os docentes. “Com a venda do IAC, Tarcísio nega a ciência, nega a economia, e – pasmem! – nega a relação entre ambas; nega também a histórica de um Estado e de um País cuja identidade se constitui em grande parte a partir da cultura do café”, avalia a ADunicamp. “Portanto, ao pôr à venda a Santa Elisa, o governador dá um prejuízo incalculável, ao impossibilitar a continuidade de trabalhos científicos que vêm sendo desenvolvidos há décadas”, denuncia a Associação.
O desmembramento, avalia a APqC, indica que o Governo do Estado, por meio da Secretaria da Agricultura (SAA), mantém o plano de vender áreas experimentais de pesquisa do IAC, onde há 20 anos são desenvolvidos os estudos. A entidade também critica o ataque à ciência por parte de Tarcísio.
Na semana passada, em visita a Sumaré, no interior do estado, o entreguista Tarcísio de Freitas defendeu a venda de parte da histórica fazenda. Com a desculpa de construir moradias na área na ser vendida, ele disse que “Não dá para ficar se apegando a patrimônio”.
“Não dá para ficar se apegando à área, patrimônio. Isso é uma lógica meio patrimonialista. Então, tem áreas importantes para a pesquisa? Vamos ver. Qual é a área que, de fato, é importante para a pesquisa? Vamos manter a área importante para a pesquisa e o resto, vamos vender”, afirmou.
“Uma medida absurda, que põe em risco décadas de pesquisas sobre o café e outras áreas do conhecimento, além de trazer prejuízos ao meio ambiente na nossa cidade”, afirmou o vereador por Campinas Gustavo Petta (PcdoB). “Como presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara Municipal, convoquei para o próximo dia 30 de outubro uma reunião para debater esse tema, junto aos órgãos estaduais, municipais, o IAC e entidades de defesa da ciência”, informou pelas suas redes.
“POSICIONAMENTO NEGACIONISTA”
“Fatiar e vender áreas experimentais de pesquisa reforçam o posicionamento negacionista do Estado de São Paulo diante da emergência climática. Neste momento, em vez de abrir mão destas áreas deveríamos estar ampliando as áreas de pesquisa e conservação”, afirma Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC.
O Banco de Germoplasma de café do IAC teve início em 1930, com a incorporação de todas as variedades de café cultivadas no Brasil naquela época. Posteriormente, por meio de acordos internacionais com os principais países produtores, o IAC ampliou sua coleção, introduzindo variedades de café de diferentes partes do mundo.
“Dentre as variedades obtidas a partir desse germoplasma, destacam-se todas as cultivares resistentes à ferrugem e, mais recentemente, ao bicho mineiro”, explica a entidade de pesquisa. “Outros estudos apontam que há também variabilidade genética para tolerância à seca e ao calor, características fundamentais para enfrentamento dos efeitos causados pela emergência climática, que já estão acontecendo no Brasil”, completa a APqC.
Ainda segundo a associação, 90% do café produzido no Brasil utiliza variedades desenvolvidas a partir desse banco de germoplasma. Além disso, o IAC está prestes a se tornar a única instituição no mundo a desenvolver uma cultivar de café arábica com grãos sem cafeína.
“Esta fazenda experimental é um patrimônio incomensurável do Estado de São Paulo, que precisa ser defendida não apenas por cafeicultores, que dependem destas pesquisas para seguir produzindo cada vez melhor, mas por todos os cidadãos brasileiros que zelam pela ciência e, principalmente, pela sociedade paulista que evoluiu e se fortaleceu no país a partir da cultura do café”, defendeu Lutgens em nota.
O povo de São Paulo, incluindo boa parte dos funcionários do IAC, votou pela proposta do desmonte do Estado em favor da iniciativa privada. Agora não adianta chorar.
Mais um absurdo desse político sem referências paulistas e com subserviência ao ” minto” , seu chefe.