“Se não, vem outros. Você tem de um lado os Estados Unidos e, do outro lado, tem países distantes. Não queremos que a Venezuela seja palco de uma Guerra Fria ou de um conflito na Amazônia”, acrescentou o assessor da Presidência
O assessor especial da Presidência, Celso Amorim, disse que existe um “mal estar” nas relações entre Brasil e Venezuela, mas que o país deve “manter interlocução” para ter uma “influência positiva”.
“Estamos acompanhando de perto esse processo político [na Venezuela], mas a solução precisa ser construída pelos próprios venezuelanos, por meio do diálogo, e não imposta de fora”, afirmou o ex-embaixador.
O presidente Nicolás Maduro foi declarado reeleito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que não divulgou as atas da votação. Organizações internacionais, como o Centro Carter, divulgaram atas que mostram outro resultado no pleito, dando a vitória para o opositor Edmundo González.
Celso Amorim disse que “houve uma quebra de confiança dentro do processo eleitoral, algo nos foi dito e não foi cumprido”. Até agora, Lula não reconheceu Maduro como presidente reeleito.
“O presidente Lula não chegou a conversar com o presidente Maduro por não ter recebido sinais de abertura para um diálogo franco”, contou o assessor especial.
Na quarta-feira (30), o governo da Venezuela convocou seu embaixador em Brasília para voltar ao país. Em nota, criticou diretamente Amorim, acusando-o de estar “se comportado mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano e se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas”.
O Tribunal Superior de Justiça (TSJ) da Venezuela confirmou a vitória de Nicolás Maduro, mas proibiu a divulgação das atas.
Para Amorim, “se o Brasil quiser ter uma influência positiva [na Venezuela], temos que manter uma interlocução. Estamos mantendo uma interlocução, mas diminuiu o nível dessa interlocução desde a eleição”.
“Se queremos ter alguma influência no processo de democratização da Venezuela, temos que ter alguma interlocução. Se não, vem outros. Você tem de um lado os Estados Unidos e, do outro lado, tem países distantes. Não queremos que a Venezuela seja palco de uma Guerra Fria ou de um conflito na Amazônia”, continuou.
“Nesse sentido, assinalo que nos próximos anos estão previstas eleições regionais e parlamentares, é um risco, mas também uma oportunidade. Se um país quer ter importância positiva, não pode se desqualificar como interlocutor”, acrescentou.
“Esse entendimento difícil é necessário, porque temos uma fronteira de 2.000 km com a Venezuela, temos que cooperar contra a criminalidade internacional, proteger povos indígenas e preservar a Floresta Amazônica”, disse.