Nesta segunda-feira (4), a Polícia Federal indiciou Rubén Dario da Silva Villar, mais conhecido como ‘Colômbia’, sendo ele o mandante dos assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, ocorridos em junho de 2022 no Vale do Javari, Amazonas. Colômbia está preso desde dezembro daquele ano, seis meses após o início das investigações, e também é investigado por pesca ilegal e tráfico de drogas.
O documento da PF foi encaminhado na última sexta-feira (1º) à Justiça. Ao todo, são nove indiciados, mas apenas Rubén aparece como mandante, conforme a PF. Os outros nomes não haviam sido divulgados. Caso a Justiça aceite os nove indiciamentos, eles se tornam réus e irão a julgamento. Eles só poderão ser considerados culpados ou inocentes após o julgamento, e deverão cumprir pena em caso de condenação.
Segundo a investigação, o criminoso Colômbia praticou os seguintes crimes: forneceu cartuchos para a execução dos assassinatos; interveio para coordenar a ocultação dos cadáveres das vítimas; e patrocinou financeiramente as atividades de organização criminosa que praticava pesca ilegal e ameaçava indígenas e servidores públicos da área de proteção ambiental.
A investigação da PF confirmou que os assassinatos ocorreram devido às fiscalizações realizadas por Bruno Pereira na região. O indigenista era um dos principais especialistas em povos isolados e denunciava a presença de quadrilhas de pesca ilegal.
Dom Phillips morreu por estar acompanhando Bruno, segundo a polícia. O jornalista tinha ido conhecer o trabalho da equipe de vigilância indígena treinada por Bruno para combater a invasão do território.
No documento encaminhado à Justiça, a PF mostra como funcionava a organização criminosa coordenada por Colômbia em Atalaia do Norte. O grupo praticava pesca e caça predatória, de forma ilegal, invadindo territórios indígenas.
A ação irregular dos criminosos em áreas de proteção ambiental provocou impactos socioambientais, como o risco a espécies de peixes e à segurança dos moradores.
O CASO
Bruno e Dom desapareceram durante uma expedição investigativa na Amazônia. Eles foram vistos pela última vez em 5 de junho, quando passavam em uma embarcação pela comunidade de São Rafael. De lá, seguiam para Atalaia do Norte.
A viagem de 72 quilômetros deveria durar apenas duas horas, mas eles nunca chegaram ao destino.
Os restos mortais dos dois foram achados em 15 de junho daquele ano. As vítimas teriam sido mortas a tiros, e os corpos, esquartejados, queimados e enterrados. Segundo laudo de peritos da PF, Bruno foi atingido por três disparos, dois no tórax e um na cabeça. Já Dom foi baleado uma vez, no tórax.
A polícia achou os restos mortais dos dois após um dos suspeitos, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, confessar envolvimento nos assassinatos e indicar onde estavam os corpos.
Além de Amarildo e ‘Colômbia’, também foram acusados por envolvimento no crime: Jefferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha, custodiado na Penitenciária Federal de Campo Grande; Jânio Freitas de Souza, apontado como braço direito do mandante, ambos também presos em presídios federais; Oseney da Costa de Oliveira, o Dos Santos, em regime domiciliar.
Em documento enviado à Justiça, em julho de 2022, o Ministério Público Federal argumenta que Amarildo e Jefferson confessaram o crime. Diz ainda que a participação de Oseney, apesar de negar envolvimento no crime, foi mencionada em depoimentos de testemunhas.
Em junho deste ano, a Justiça Federal tornou réus outros cinco homens que teriam participado do crime.
Francisco Conceição de Freitas, Eliclei Costa de Oliveira, Amarílio de Freitas Oliveira, Otávio da Costa de Oliveira e Edivaldo da Costa de Oliveira vão responder pelos crimes de ocultação de cadáver.
Todos, com exceção de Francisco, também responderão por corrupção de menor, após, segundo a Justiça, obrigarem um adolescente a participar da ação criminosa. Eles respondem em liberdade.
O jornalista britânico Dom era um veterano na cobertura internacional. Ele já foi colaborador dos jornais “Washington Post”, “The New York Times” e “Financial Times”, e morava no Brasil desde 2007.
O indigenista Bruno Araújo Pereira, que viajava com o jornalista inglês Dom Phillips pela região do Vale do Javari, na Amazônia, era um dos maiores especialistas em indígenas que vivem em isolamento no Brasil.
Casado com a antropóloga Beatriz Matos, que conheceu durante uma viagem de trabalho no próprio Vale do Javari, o indigenista deixou dois filhos.
Pereira foi criado em Pernambuco e deixou a região em meados dos anos 2000 para seguir o sonho de trabalhar na Amazônia. Ingressou na Funai em 2010, em um dos últimos concursos públicos promovidos pelo órgão.
Chegou ao cargo de coordenador regional do Vale do Javari, com sede na cidade de Atalaia do Norte (AM), mas deixou o cargo em 2016 após um intenso conflito registrado entre povos isolados da região.