“Cada ponto percentual a mais na Selic representa cerca de R$ 40 bilhões por ano em despesas com juros da dívida”, destaca a entidade
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirma que o Comitê de Política Monetária (Copom) “cometerá um equívoco caso opte pela elevação dos juros” na reunião desta quarta-feira (6). “Tal medida configuraria, novamente, excesso de conservadorismo do Banco Central, trazendo consequências negativas e desnecessárias para a atividade econômica”, manifestou a entidade nesta terça-feira (5).
Agentes do mercado financeiro consultados pelo BC apostam em um aumento de mais meio ponto percentual na taxa Selic, hoje em 10,75%. Chantageiam com falsas expectativas de inflação – que está sob controle – e defendem o “controle” das contas públicas, com cortes nas despesas com saúde, educação, ciência e tecnologia e nos benefícios sociais, para continuar sangrando os cofres públicos com o pagamento de juros. Em doze meses, até agosto, foram gastos com juros da dívida pública R$ 855 bilhões.
A CNI alerta que “a alta da Selic atrapalha o equilíbrio das contas púbicas”.
“Elevar a taxa de juros aumenta o custo da dívida pública, já que cada ponto percentual a mais na Selic representa cerca de R$ 40 bilhões por ano em despesas com juros da dívida”, destaca a CNI.
A entidade considera que, “embora seja importante buscar a sustentabilidade da dívida, há certo exagero na preocupação com o quadro fiscal”. A CNI ressalta que o impulso dos gastos do governo sobre a atividade econômica tem caído ao longo do ano. A entidade estima que, se for necessário, o contingenciamento adicional deve ser, no máximo, de R$ 6,8 bilhões.
O “mercado” pressiona por cortes em cerca de R$ 50 bilhões.
INFLAÇÃO
“Quanto às acelerações do IPCA de setembro e do IPCA-15 de outubro estão ligadas aos preços de energia elétrica e alimentos, que, por sua vez, respondem a fatores conjunturais – e não estruturais –, com destaque para as secas extremas”, diz a entidade. “Logo, esses resultados não asseguram mudança significativa na tendência da inflação e, por isso, não devem balizar a decisão do Copom”.
JURO REAL: SEGUNDO MAIOR DO MUNDO
A CNI ressalta que a taxa de juros real do Brasil é de 6,22% a.a.
“Além de ser um longo período de política monetária contracionista, ainda existem efeitos defasados que a economia ainda vai sentir”, afirma a entidade. “Além de elevada em comparação com outros países, a Selic atual é excessiva para as condições inflacionárias internas”.
“Considerando a inflação acumulada nos últimos 12 meses, a CNI estima que a taxa básica de juros de equilíbrio deveria estar em 8,4% a.a., o que colocaria a Selic 2,35 p.p. acima do nível necessário para conter a inflação e evitar prejuízo ao crescimento econômico”.
Para a entidade da indústria, um eventual aumento da Selic “colocará o Brasil na contramão da tendência global de afrouxamento das taxas de juros”.
“Em outubro, o Banco Central Europeu promoveu o terceiro corte de juros do ano, de 0,25 ponto percentual (p.p), reduzindo a taxa para 3,25% a.a. Nos Estados Unidos, a expectativa é que o FED (autoridade monetária dos EUA) promova, já na reunião desta semana, o segundo corte de 2024 na taxa de juros norte-americana, com expectativa de mais um corte até o fim do ano”, ressalta a CNI.