O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), José Reginaldo, condenou, em declaração ao HP, a expectativa de aumento dos juros, em decorrência da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), nesta quarta e quinta-feira.
“A previsão é de se subir o juros no Brasil, um absurdo. Num momento em que deveríamos estar desenhando uma política de rebaixamento da taxa de juros, de números inteiros, e não apenas em decimais. É o que deveria estar sendo feito”, defendeu.
Para Reginaldo, essa política, que deixa o Brasil no topo do ranking de juros, “atrás apenas da Rússia, um país em guerra, é trágica para o povo brasileiro, é trágica para a economia, sobretudo para a classe trabalhadora. E vai na contramão do atual momento político, altamente positivo”. “Ou seja, é de modo claro uma política que mantém o privilégio efetivo do sistema financeiro. Mantém um desequilíbrio fiscal imenso do ponto de vista social, de benefício direto não ao povo brasileiro mas ao rentismo”.
CORTE DE GASTOS
“Um Banco Central que mantém taxas de juros tão elevadas é uma perspectiva altamente negativa. E junta-se a isso, essa possibilidade de anúncio de um plano de corte de gastos. Um plano que vem na contramão da necessidade real do país. Num momento da história em que a gente tem que pensar um novo desenho de estrutura, tem que pensar um desenvolvimento sustentável em todos os aspectos”.
“Não tem como pensar em desenvolver o sistema produtivo, que qualifica, que dá melhores salários, que dá melhores garantias de possibilidade de emancipação da sociedade, sem tecnologia, sem informação, sem uma educação de qualidade. Tudo isto demanda efetivamente maior investimento do Estado. Não temos uma política pública que atenda na ponta, que garanta que as pessoas que estão em situação marginal na sociedade tenha ascensão. Temos um Congresso Nacional que não taxa as grandes fortunas, mas quando vai discutir essa questão do rentismo, essa alta de juro, estão prontos. E quando você tem em evidência uma presidência futura do Banco Central com [Gabriel] Galípolo, num alinhamento próximo ao modelo político adotado pelo Fernando Haddad, a gente fica com viés de preocupação”, afirma.
“Essa possibilidade de corte gastos representaria uma devastação real para as políticas sociais do país. O pacote de medidas que está por vir tem exatamente esse componente nocivo. Não é possível pensar em uma política próspera mexendo com pessoas que estão na ponta mais frágil da sociedade, recebendo BPC. Questões que trazem a discussão do seguro desemprego, a discussão do FGTS, são muito ruins para nós enquanto classe trabalhadora, representante dos trabalhadores industriais brasileiros e do conjunto da classe trabalhadora brasileira”.
Rene Vicente, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil de São Paulo (CTB-SP), também falou ao HP sobre as expectativas do Copom, afirmando que “a taxa Selic é uma das maiores taxas de juros no mundo atual em todo o mercado financeiro. É necessária uma política de redução imediata das taxas de juros para que possamos colocar o país no rumo que nós queremos. Que é o rumo do desenvolvimento com valorização do trabalho e distribuição de renda. E para que a gente possa reindustrializar o nosso país, é necessário urgentemente reduzirmos essa política de juros altos aplicada por Roberto Campos Netos, que felizmente está saindo deixando a presidência do Banco Central no próximo dia trinta e um de dezembro”.
“O gasto com juros e amortização da dívida pública anual hoje está em torno de R$ 850 bilhões. E o governo vem pagando anualmente esses dividendos e apontando a todo momento sobre uma intensa pressão do mercado financeiro para o corte em gastos públicos. Querem retirar dinheiro da área de saúde, educação, previdência, salário dos servidores, saneamento, segurança pública”.
“A geração de emprego hoje em dia no Brasil virou uma preocupação do mercado financeiro. Aumentar o consumo da classe trabalhadora, dos mais pobres, virou um empecilho para o mercado financeiro, que aposta todas as suas fichas na precarização, na piora da condição de vida do nosso povo. Nós esperamos que a política de Gabriel Galípolo represente uma guinada de 180 graus nessa política monetária que impera hoje em nosso país”, afirma Rene.