O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, não conversaram por telefone sobre o conflito na Ucrânia, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, desmentindo uma fake news do Washington Post no domingo.
“Isso é pura ficção. Esta informação é simplesmente falsa”, disse Peskov na segunda-feira (11), e “não corresponde absolutamente à realidade”.
O porta-voz acrescentou que o artigo era um “exemplo vívido da qualidade da informação publicada até mesmo por alguns meios de comunicação [tidos como] respeitáveis”.
Citando “fontes familiarizadas com o assunto” e sob anonimato, o Post, notório por seus tiques como ventríloquo da CIA e de propriedade do bilionário Jeff Bezos, asseverou que Trump ligou para Putin depois de ganhar um novo mandato de presidente dos EUA, para discutir sua visão sobre como a crise ucraniana poderia ser debelada.
Ainda segundo o Post, a conversa teria acontecido no dia 7 de novembro, e Trump teria instado o presidente russo a evitar uma escalada na Ucrânia e manifestado disposição em continuar o diálogo para resolver o conflito o mais rápido possível.
Conforme o artigo, Trump teria deixado claro que apoiaria um acordo que permitisse à Rússia manter parte dos territórios libertados.
Já Kiev negou outra alegação desse artigo, de que o governo ucraniano teria sido informado previamente sobre o telefonema e dera seu “consentimento”. “Relatos de que o lado ucraniano foi informado com antecedência sobre a suposta ligação são falsos”, disse porta-voz ucraniano à Reuters no domingo.
Em sua campanha eleitoral, Trump prometera encerrar o conflito na Ucrânia em “24 horas” – antes mesmo de empossado -, além de acusar Biden/Kamala de terem posto o planeta à beira da III Guerra Mundial.
No front, a situação do regime de Kiev é dramática, em razão dos avanços russos, do colapso das linhas ucranianas e do fracasso da provocação em Kursk. Moscou tem enfatizado que para haver um acordo é preciso abordar as causas do conflito: a expansão da Otan até às portas da Rússia, a revogação do estatuto de neutralidade ucraniana e a perseguição aos russos étnicos.
SEM “MINSK III”
Putin tem reiterado que a Rússia não aceitará o congelamento das ameaças à sua segurança, que não haverá um “Minsk III” e que uma solução é possível dentro dos parâmetros que já haviam sido alcançadas na Cúpula de Istambul de 2022, rasgados por ordem de Washington, e com o reconhecimento das novas regiões russas.
A Rússia também tem manifestado seu apreço pelas iniciativas da China, Brasil e outros países em prol de um acordo de paz e expressado que jamais se recusou a negociar, quem o fez foi o próprio governo Zelensky, que proibiu por lei qualquer negociação.
O próprio Putin felicitou Trump pela sua eleição como presidente dos Estados Unidos durante uma sessão plenária do Clube Internacional de Debate Valdai em 7 de novembro, e garantiu que a Rússia não tem nada contra a retomada dos contatos tanto com Trump como com outros líderes ocidentais.
Peskov registrou que neste momento não há preparativos para contatos entre o presidente russo e líderes ocidentais. Há poucos dias, o premiê alemão, Olaf Scholz, dissera à rede de televisão ARD que chegaria em breve o “momento certo” para uma conversa telefônica com Putin. “Neste momento não estão sendo feitos preparativos, não recebemos nenhum sinal”, disse o porta-voz.
WSJ FAZ LOBBY POR ZONA DESMILITARIZADA
Na semana passada, o Wall Street Journal havia relatado um suposto “novo plano” para o conflito na Ucrânia, que estaria sob consideração dos círculos trumpistas. Que incluiria o congelamento das operações militares ao longo da linha de frente, a criação de uma zona desmilitarizada, a garantia de que Kiev não se juntará à OTAN por pelo menos 20 anos e a continuação do armamento da Ucrânia pelo Ocidente. Como na velha anedota sobre Garrincha, “já combinaram com os russos?”