A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo anunciou o afastamento preventivo de oito policiais após serem denunciados na delação de Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, morto em um atentado no Aeroporto Internacional de São Paulo.
Gritzbach, delator de um esquema envolvendo corrupção policial e lavagem de dinheiro para a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele foi alvo de um atentado no qual dois homens encapuzados saíram de um veículo preto e realizaram 29 disparos, dos quais 10 o atingiram, causando sua morte. Além de Gritzbach, outras quatro pessoas foram atingidas, incluindo um motorista de aplicativo, que morreu, enquanto as demais vítimas sofreram feridas.
Em sua delação, o empresário indicou práticas de corrupção e extorsão que envolveram policiais de departamentos importantes da Polícia Civil e agentes da Zona Leste de São Paulo.
Gritzbach havia firmado um acordo de delação premiada com o Ministério Público (MP) em março deste ano, comprometendo-se a fornecer detalhes sobre esquemas de corrupção envolvendo agentes da Polícia Civil e atividades do PCC, como lavagem de dinheiro. Em seu depoimento, homologado pela Justiça, ele revelou a participação de policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), além de citar as delegacias do 24º Distrito Policial (Ermelino Matarazzo) e do 30º Distrito Policial (Tatuapé), ambos situados na Zona Leste de São Paulo. Segundo ele, o envolvimento das delegacias ocorreu devido à transferência de uma equipe de um distrito para o outro, levando consigo os esquemas criminosos.
A delação de Gritzbach apontou que policiais civis do DHPP e DEIC, dois dos principais departamentos da Polícia Civil, praticaram atos de corrupção e extorsão. Ele descobriu que um delegado do DHPP teria cobrado propina para não envolvê-lo em um caso de homicídio de um membro do PCC, que movimentou milhões de reais em operações com drogas e armas para a facção. O empresário também divulgou informações que resultaram na prisão de dois policiais civis associados ao Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
Com base em suas revelações, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, anunciou o afastamento dos policiais civis denunciados na delação. Derrite relatou que, oito dias antes de sua morte, Gritzbach foi ouvido pela Corregedoria da Polícia Civil, que já havia recebido extratos da delação premiada com acusações de extorsão contra policiais. A corregedoria instaurou um inquérito para investigar as denúncias.
Em entrevista à imprensa na segunda (11), o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, disse que os policiais civis citados na delação serão afastados, mas não detalhes sobre quem ou quantos são.
Agora, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) formou uma força-tarefa coordenada pelo delegado Osvaldo Nico Gonçalves, a fim de apurar os motivos e responsáveis pela execução de Gritzbach.
Num veículo usado pelos criminosos, foi encontrado um galão de gasolina, indicando que os autores planejaram incendiar o carro. As autoridades coletaram amostras de material genético para análise e buscaram imagens de câmeras de segurança para reconstituir o percurso do carro dos executores e verificar se houve fuga em outro veículo. Testemunhas indicaram que os suspeitos deixaram o local a pé.
Além de Gritzbach, quatro policiais militares foram afastados temporariamente no dia seguinte ao crime. Os PMs Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romars César Ferreira de Lima trabalharam como seguranças particulares para o delator, em uma atividade irregular que teria sido recomendada por um tenente da PM. Em depoimento, Adolfo explicou que foi convidado em 2023 pelo tenente Garcia, do 23º Batalhão Metropolitano, a prestar serviço de segurança particular para a família de Gritzbach. No entanto, interrompeu esta actividade ao descobrir, por meio da mídia, o envolvimento do empresário com o PCC. Posteriormente, respondi retornar ao trabalho esporadicamente devido à sua situação financeira.
Jefferson também prestou depoimento, dizendo que havia sido contratado por indicação do tenente Garcia para proteger a família de Gritzbach e relatou que ouviu rumores sobre o possível envolvimento do empresário em atividades ilícitas, mas continuou a trabalhar para ele, acreditando que já não havia investigações contra ele. A Secretaria de Segurança Pública declarou que a atividade extraoficial de escola é considerada uma infração disciplinar, sujeita a sanções administrativas, que podem variar desde advertências até a exclusão da corporação.
A SSP divulgou uma nota explicando que a Corregedoria da PM já investigou o envolvimento dos policiais na segurança de Gritzbach antes mesmo do atentado, tendo instaurado um inquérito policial militar um mês antes. Segundo a SSP, Gritzbach se apresentava como empresário do ramo imobiliário, mas era réu em dois processos: um por lavagem de dinheiro para o crime organizado e outro por duplo homicídio. Ele e sua namorada estavam retornando de uma viagem de Maceió (AL) para São Paulo e planejavam viagem no domingo (10) para Vitória (ES).
Uma das linhas de investigação considera que o ataque pode ter sido realizado por policiais envolvidos em atividades irregulares, enquanto outra hipótese é que o PCC tenha planejado sua execução como represália pela colaboração de Gritzbach com o MP. A terceira possibilidade é que ele tenha sido morto por questões financeiras, uma vez que havia viajado a Maceió para cobrar uma dívida e recebidas joias avaliadas em R$ 1 milhão como pagamento.
A força-tarefa responsável pela investigação é composta por representantes da Polícia Civil, Polícia Militar (PM) e Polícia Técnico-Científica. Segundo a SSP, o caso está sendo investigado como “homicídio, lesão corporal e localização e apreensão de objeto” pelo DHPP, que conduz o inquérito. O Ministério Público acompanha as investigações, e a Polícia Federal (PF) também apura os fatos, dado que o crime ocorreu em uma área federal. A Guarda Civil Municipal (GCM) de Guarulhos foi acionada para esclarecer que não havia agentes em sua base no aeroporto no momento da execução.
Até o fechamento desta reportagem, nenhum suspeito havia sido preso, e a defesa dos policiais envolvidos não havia se manifestado.