“Instituto faz um trabalho grandioso, que precisa ser preservado. Temos expectativa de que o governador reveja essa proposta”, afirmou Tirso Meirelles, presidente da Faesp
A mobilização contra a venda da Fazenda Santa Elisa em Campinas, no interior paulista, onde funciona o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), há 50 anos, recebeu o apoio da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo). Em ofício enviado ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a entidade pede que o governo reavalie a possibilidade de venda da propriedade que “tem papel central diante da importância histórica do café no fortalecimento da economia nacional”. “90% das cultivares de café produzidas no Brasil são resultado de pesquisas realizadas nesta unidade do IAC”, reforça a Faesp.
Em sua página, a entidade afirma que a venda da área, caso seja efetivada, “representa ameaça direta ao patrimônio genético armazenado e às pesquisas em curso, com impacto na sustentabilidade e competitividade da cafeicultura brasileira”. Ademais, a eventual transferência das pesquisas para outra localidade, além de demorada e dispendiosa, compromete o andamento das pesquisas em curso, aponta a federação.
“Vale destacar que o café da Colômbia, que é uma referência no mercado internacional, é fruto das pesquisas do IAC. O Instituto faz um trabalho grandioso, que precisa ser preservado. Temos expectativa de que o governador reveja essa proposta”, afirmou Tirso Meirelles, presidente da Faesp.
“Ao pôr à venda a Santa Elisa, o governador dá um prejuízo incalculável, ao impossibilitar a continuidade de trabalhos científicos que vêm sendo desenvolvidos há décadas”, denunciou em outubro a Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Campinas (ADunicamp), em nota de repúdio.
A iniciativa preocupa especialmente profissionais que atuam na pesquisa agrícola, pois na área, de 700 mil metros quadrados, está o maior banco de espécies de café do Brasil e um dos mais importantes do mundo, que possibilitou o desenvolvimento de variedades do grão. A parte atingida pela possível venda seria o equivalente a 70 mil metros quadrados da fazenda.
“O governador Tarcísio propõe vender parte da Fazenda Santa Elisa, que pertence ao Instituto Agronômico de Campinas, um patrimônio científico da cidade e do país. Uma medida absurda, que põe em risco décadas de pesquisas sobre o café e outras áreas do conhecimento, além de trazer prejuízos ao meio ambiente na nossa cidade”, criticaram os docentes.
O banco de plantas abrigado no local mantém espécies trazidos da Etiópia e de outras áreas que hoje não liberam exemplares, o que pode gerar “um prejuízo incalculável”, para o setor, alertam os representantes do agro.
“Não dá para ficar se apegando à área, patrimônio. Isso é uma lógica meio patrimonialista”, disse Tarcísio em outubro. “Então, tem áreas importantes para a pesquisa? Vamos ver. Qual é a área que, de fato, é importante para a pesquisa? Vamos manter a área importante para a pesquisa e o resto, vamos vender”, sustentou o privatista.
“Fatiar e vender áreas experimentais de pesquisa reforçam o posicionamento negacionista do Estado de São Paulo diante da emergência climática. Neste momento, em vez de abrir mão destas áreas deveríamos estar ampliando as áreas de pesquisa e conservação”, defende Helena Dutra Lutgens, presidente da a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) APqC.
Parlamentares também estão engajado na luta pela Santa Elisa. “Como presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, convoquei uma reunião para debater a absurda proposta de venda de parte dessa fazenda anunciada pelo governador Tarcísio de Freitas. A partir desse encontro, criamos um movimento em defesa do IAC e contra a venda desse patrimônio do nosso estado”, informou o vereador por Campinas Gustavo Petta (PcdoB).
“Caso a venda da fazenda seja confirmada,” afirmou Gustavo, “planejamos acionar o Ministério Público e, em último caso, judicializar a situação, já que se trata de uma área importante para a pesquisa. Seguimos na luta, sempre em defesa da ciência!”
“Aprovamos na Câmara Municipal de Campinas uma moção de protesto contra a iniciativa do governador Tarcísio de desmembramento de fazendas do estado, onde são realizadas pesquisa agrícolas, entre elas a Fazenda Santa Elisa em Campinas, com objetivo de vendê-las”, informou Paulo Bufalo, que também é vereador em Campinas, pelo PSOL. “O governador atende interesses da especulação imobiliária e compromete as pesquisas desenvolvidas no estado de São Paulo”, criticou.
Na esfera estadual, um ofício de iniciativa do deputado Rafa Zimbaldi (Cidadania) foi enviado ao secretário de Estado de Agricultura e Abastecimento, Guilherme Filizzola, questionando as motivações e os objetivos da pasta com a venda.
Em nota, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento alegou que realiza estudos para avaliar a viabilidade de venda de áreas pertencentes à pasta. “Somente após a conclusão deste levantamento é que será definida qual ação será tomada”, disse. Segundo o órgão, “toda e qualquer decisão tem como premissa garantir que as áreas de pesquisa em andamento sejam preservadas […]”.