“A solução precisa ser construída pelos próprios venezuelanos e não imposta de fora, com mais sanções e isolamento. Isso nós já vimos que não funciona”, disse Mauro Vieira em audiência na Câmara
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou na quarta-feira (13), em audiência na Câmara dos Deputados, que as últimas divergências entre Brasil e Venezuela não são motivo de rompimento de relações entre os dois países. As declarações apontam para a distensão das relações entre os dois países.
O ministro reforçou que os assuntos do país vizinho devem ser resolvidos pelos próprios venezuelanos, sem ingerência externas ou sanções. Ele lembrou que a Venezuela, país possuidor da maior reserva de petróleo do mundo, tem uma imensa fronteira com o Brasil em uma região estratégica, na Amazônia. Além disso, o chanceler destacou que muitos brasileiros vivem naquele país, assim como venezuelanos vivem no Brasil.
Mauro Vieira disse acreditar que a saída do embaixador venezuelano não será permanente e repetiu o que disse o assessor do presidente Lula, Celso Amorim, de que o Brasil não reconhece governos, mas Estados.
“A solução, porém, precisa ser construída pelos próprios venezuelanos e não imposta de fora, com mais sanções e isolamento. Isso nós já vimos que não funciona. Não podemos repetir os erros que cometemos na época da autoproclamação de Guaidó como presidente”, afirmou.
O ministro afirmou também que a administração passada, de Jair Bolsonaro, reconheceu o candidato financiado pelos EUA para presidente da Venezuela em 2019, Juan Guaidó, como vitorioso, apesar dele ter perdido as eleições. O presidente eleito, Nicolás Maduro, respondeu a esse reconhecimento fechando a embaixada e consulados. O resultado, segundo Vieira, é que o comércio entre os países caiu mais de 90%, e o Brasil ficou sem acesso a informações.
ISRAEL
Vieira também se posicionou sobre o conflito entre Israel e Palestina. O chanceler considerou desproporcional a reação de Israel aos ataques do Hamas. “Todo país tem o direito de se defender, desde que dentro das normas do direito internacional. Não é isso que Israel está fazendo. O que começou como ação de terroristas contra civis israelenses inocentes tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino com indícios plausíveis de constituir a prática de genocídio, segundo decisão preliminar da Corte Internacional de Justiça, seguida por muitos países”, argumentou.
Ele afirmou que 42 mil pessoas já foram mortas em Gaza e quase 3.200 no Líbano, incluindo três brasileiros: dois adolescentes e um bebê de 14 meses. Até agora, os aviões da Força Aérea já buscaram 2.100 brasileiros que viviam no Líbano.
Mauro Vieira falou ainda da situação crítica no Líbano, país que tem sido agredido pelas forças da ditadura israelense. Ele ressaltou que, desde o início das agressões ao Líbano, a população civil libanesa tem sofrido pesados bombardeios, particularmente em regiões com grande concentração de brasileiros, como Beirute e o Vale do Bekaa. Até agora, mais de 3 mil pessoas foram mortas e mais de 14 mil ficaram feridas, com um número expressivo de deslocados internos, chegando a 1,2 milhão de pessoas.
O governo brasileiro está pondo em prática desde o início das agressões de Israel, a operação de repatriação “Raízes do Cedro”, uma iniciativa conjunta dos Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa com a Força Aérea Brasileira, para resgatar brasileiros que estão sob bombardeios israelenses.
Até o momento, foram realizados 10 voos, trazendo de volta cerca de 2,1 mil brasileiros, incluindo centenas de crianças e idosos. Com voos contínuos para a retirada de cidadãos brasileiros em áreas de risco, Vieira destacou que o Brasil segue comprometido com a proteção de sua comunidade no Líbano, monitorando a situação de perto e priorizando o apoio aos brasileiros que desejam retornar ao país.