Na faixa salarial de até dois salários mínimos, mulheres negras são a maioria, com 34,4%. Mulheres brancas são 26,8%; homens negros são 24,2% e, homens brancos, representam apenas 13,7% desta faixa, aponta pesquisa
Mulheres negras ocupam a maioria de cargos no serviço público brasileiro, mas são as que recebem menos, aponta o Anuário de Gestão de Pessoas no Serviço Público. O estudo, divulgado nesta quarta-feira – 20 de novembro, Dia da Consciência Negra – foi elaborado pela organização República.org a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados de 2024 apontam que 29,3% dos cargos no serviço público são ocupados por mulheres negras, ante 26,8% de mulheres brancas, 23,3% de homens negros e 19,2% de homens brancos.
A remuneração e o cargo, contudo, são proporcionalmente desiguais: dos que recebem entre 10 e 20 salários-mínimos, apenas 8,5% são mulheres negras, enquanto homens brancos são 45,1% deste grupo. Dos cargos mais altos e mais bem remunerados, 23,7% são ocupados por mulheres brancas. Quanto à questão de gênero, foi constatado que homens negros são 20,2% deste grupo.
Já na faixa salarial de até dois salários mínimos, mulheres negras são a maioria, com 34,4%. Mulheres brancas são 26,8%; homens negros são 24,2% e, homens brancos, representam apenas 13,7% desta faixa.
A autora do estudo, Vanessa Campagnac, destaca o impacto das cotas, permitindo a entrada de mais pessoas negras no setor público, mas ressalta a necessidade de mais concursos públicos.
Em 2013, a administração pública federal possuía 37,3% vínculos ativos (219.496) de pessoas que se autodeclararam como negras, segundo dados do Painel Estatístico de Pessoal (PEP), destaca o estudo. Dados de fevereiro de 2024 demonstram que esse número agora é de 39,9% (227.776). “Se não tem concurso, você não consegue aplicar a lei. E teve poucos concursos no período”, ressalta Vanessa Campagnac.
Além da falta de concursos públicos e a falta de recursos para se preparar para as provas, a progressão na carreira também é desigual para mulheres. “A progressão na carreira é mais difícil para mulheres, e para mulheres negras é ainda mais desigual. Juntando gênero e raça, essa discrepância vai aumentando”, afirma Vanessa ao g1.
Em junho de 2024, a Lei de Cotas no serviço público vigente por 10 anos, que reservava 20% das vagas de concursos públicos para pessoas pretas, pardas, indígenas e quilombolas, perdeu validade. Em discussão atualmente no Senado Federal, a atualização da lei de cotas prevê aumentar este percentual para 30% – como defendido pela organização autora do estudo.