Provas colhidas pela investigação incluem diálogos entre Mario Fernandes e coronel da reserva Hobert, assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência da República à época
A PF (Polícia Federal), por meio de profundas investigações, apontou que as mensagens exibidas por manifestantes bolsonaristas em atos antidemocráticos, incluindo aqueles em frente aos quartéis do Exército, eram planejadas com o envolvimento do Palácio do Planalto, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Essa informação, inevitavelmente, coloca o então presidente da República no centro nervoso da trama golpista. Essa ação não seria possível sem a anuência do titular do Planalto. Isso, por um lado. Por outro, se não sabia, ele estava enredado em trama para desestabilizar e derrubar o governo eleito. O que não o isenta de responsabilidades.
Mas isso, não tira a responsabilidade do ex-presidente, e mostra que a situação seria pior, pois evidenciaria que Bolsonaro estava enredado em trama que perdera o controle.
Todavia, não tem para onde correr. Se estava no controle dos atos, cometeu crime, se não estava, cometeu crime do mesmo jeito, porque estava envolto em esquema de conspiração criminosa que o beneficiava diretamente. Já que o objetivo era apear do poder o presidente eleito para manter o derrotado nas eleições de 2022.
GOVERNO ORIENTAVA MANIFESTAÇÕES GOLPISTAS
Segundo a investigação, que levou ao indiciamento do ex-presidente e outras 36 pessoas, incluindo militares, o governo orientava quais frases deveriam constar nas manifestações, promovidas como sendo espontâneas pela população.
De acordo com os investigadores, mensagens e documentos obtidos demonstram a atuação coordenada entre a Presidência da República, representada pelo general Mario Fernandes, e os manifestantes.
As provas incluem diálogos entre Fernandes e o coronel da reserva George Hobert Oliveira Lisboa, assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência à época.
DADOS DA INVESTIGAÇÃO
“Nas mensagens fica evidente que os militares, integrantes do governo do então presidente Jair Bolsonaro [PL], estavam confeccionando materiais de propaganda das manifestações antidemocráticas que ocorriam no QG do Exército em Brasília/DF”, apontou a PF.
Nas conversas, registradas em novembro de 2022, Hobert orienta a confecção de materiais de propaganda para os atos antidemocráticos realizados no QGEx (Quartel-General do Exército) em Brasília. Em troca de mensagens, dia 7 de novembro, Hobert passa instruções para a criação de panfleto, pedindo a inclusão da frase “Concentração no QG do Exército”.
Dois arquivos foram localizados pelos policiais federais: um rascunho à mão com o planejamento do material e o panfleto finalizado, que convocava os manifestantes para ato dia 9 de novembro.
Além disso, Fernandes solicita a Hobert que parabenize um terceiro indivíduo, possivelmente responsável pela elaboração do material gráfico.
PROPAGANDA ANTIDEMOCRÁTICA E FRASES DIRECIONADAS
Ainda dia 7 de novembro foi compartilhado entre os interlocutores arquivo intitulado “FAIXAS”, contendo lista de frases planejadas para as manifestações. Entre os dizeres estavam:
• “LIBERDADE SIM, CENSURA NÃO”
• “RESPEITO À CONSTITUIÇÃO, CONTAGEM PÚBLICA DOS VOTOS”
• “SOS FORÇAS ARMADAS”
• “NÃO À DITADURA DO JUDICIÁRIO”
• “NOVAS ELEIÇÕES PARA PRESIDENTE”
O arquivo sugeria planejamento detalhado para a produção e uso desses materiais nas manifestações próximas ao QGEx, segundo a PF.
PLANO PARA CAOS EM BRASÍLIA
Outro documento identificado pela PF, intitulado “COMUNICADO”, trazia orientações sobre manifestação marcada para 10 de dezembro de 2022. O texto, que alertava que a mensagem não deveria ser compartilhada em grupos, orientava que fosse repassada apenas individualmente e a pessoas confiáveis.
O objetivo declarado era criar “cenário caótico” em Brasília, capaz de justificar a convocação das Forças Armadas e impedir a diplomação do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A diplomação ocorreu dia 12 de dezembro de 2022.
Nesse dia, próximo onde Lula estava hospedado, no centro da capital federal, grupos bolsonaristas fizeram arruaças, inclusive com a tentativa de invasão à sede da PF.
A mensagem finalizava com a instrução: “Depois de mandar essa mensagem e se certificar de que a pessoa a recebeu, apague-a. Para que não fique registrado em nenhum WhatsApp. Chegou a hora, povo brasileiro!”.
Os metadados do arquivo apontam que foi criado em 5 de dezembro de 2022.